O recente ataque do exército de Israel à instalação nuclear iraniana, localizada em Parchin, trouxe à tona as tensões históricas e estratégicas entre os dois países. A operação militar, conduzida sem o aval dos Estados Unidos, expôs as vulnerabilidades do programa nuclear iraniano e reafirmou a determinação do exército israelense em conter o avanço nuclear de Teerã.
Programa nuclear iraniano
O programa nuclear do Irã teve início nos anos 1950, com apoio dos EUA durante o regime do xá Reza Pahlavi, sob a iniciativa “Átomos para a Paz”. Planejava-se construir até 20 reatores nucleares para geração de energia. Contudo, a Revolução Islâmica de 1979 transformou o panorama. Sob o novo regime, as ambições nucleares foram retomadas com auxílio de Rússia e China, mas o foco passou a incluir possíveis objetivos militares.
Nos anos 2000, surgiram suspeitas de que o Irã buscava armas nucleares. Em 2015, o Acordo Nuclear foi firmado, impondo limites ao programa em troca de alívio nas sanções econômicas. Contudo, a saída dos EUA do pacto em 2018 deteriorou o cenário, permitindo ao Irã aumentar o enriquecimento de urânio e restringir inspeções internacionais.
Por que o exército do Irã persegue armas nucleares?
O Irã vive em um ambiente de insegurança geopolítica. Ameaças de ações militares de Israel e EUA, guerras regionais e sanções econômicas reforçam a ideia de que possuir armas nucleares garantiria a sobrevivência do regime. Além disso, a capacidade nuclear consolidaria o papel de Teerã como potência hegemônica no Oriente Médio, ampliando sua influência em conflitos no Líbano, Síria e Iêmen.
Armas nucleares também são vistas como dissuasão contra intervenções estrangeiras e um trunfo em negociações com potências globais.
Para Israel, um Irã nuclear é uma ameaça existencial. Líderes iranianos frequentemente reiteram sua oposição à existência de Israel, alimentando temores de uma escalada militar envolvendo o exército israelense. Além disso, um Irã nuclear poderia desencadear uma corrida armamentista no Oriente Médio, com países como Arábia Saudita e Egito fortalecendo seus exércitos para buscar capacidades nucleares.
Israel adota uma política de prevenção militar contra programas nucleares de seus inimigos, como evidenciado pelos ataques ao reator nuclear iraquiano em 1981 e ao reator sírio em 2007.
Localizada em Parchin, a instalação secreta Tegan 2 era usada para pesquisas relacionadas à detonação de dispositivos nucleares. Imagens de satélite indicam que edifícios críticos foram destruídos no ataque, representando um atraso significativo no programa nuclear iraniano.
Israel teria utilizado drones avançados e aeronaves furtivas para evitar os sofisticados sistemas de defesa iranianos. A escolha do alvo destacou a profundidade da inteligência israelense, expondo vulnerabilidades no sistema de segurança do Irã.
A operação gerou reações imediatas. Líderes iranianos prometeram retaliação, enquanto o presidente dos EUA, Joe Biden, que havia pedido moderação, viu sua posição diplomática ser desafiada. A iminente posse de Donald Trump, conhecido por sua linha dura contra o Irã, poderá influenciar ainda mais a dinâmica regional.
Repercussões regionais e globais
O ataque agravou tensões entre o Irã e potências ocidentais, enquanto aliados como Rússia e China mantêm seu apoio a Teerã. A Agência Internacional de Energia Atômica expressou preocupação com o aumento das tensões, mas segue enfrentando restrições no monitoramento do programa nuclear iraniano.
Além disso, o ataque estimulou retórica agressiva de grupos como o Hezbollah, aumentando o risco de conflitos por procuração na região. A Arábia Saudita, que já demonstrou interesse em desenvolver capacidades nucleares, pode acelerar seus planos.
Apesar do golpe sofrido, o Irã provavelmente continuará avançando com seu programa nuclear, seja por meio de cooperação com aliados ou por esforços internos. O ataque a Tegan 2 reflete a determinação de Israel, mas e o uso de tecnologia e inteligência de ponta na guerra moderna.