A Bolívia enfrenta um momento crítico em sua história recente, com a escalada de tensões políticas culminando na ocupação de um posto militar e a captura de 200 soldados por apoiadores do ex-presidente Evo Morales. O incidente ocorreu na região de Cochabamba, reduto de Morales, onde um grupo armado de manifestantes cercou a unidade militar, isolando o local ao cortar fornecimento de água e energia e impossibilitar a comunicação dos soldados com o comando central.
O episódio é um reflexo da disputa entre Morales e o atual presidente Luis Arce pelo controle do partido Movimento ao Socialismo (MAS) e pela liderança nas eleições presidenciais de 2025. Morales, que governou a Bolívia de 2006 a 2019, ainda mantém uma forte base de apoio, especialmente entre as comunidades indígenas, e vem criticando Arce publicamente, enquanto reivindica seu direito de concorrer nas próximas eleições.
Nos últimos meses, os seguidores de Morales intensificaram os protestos, bloqueando estradas estratégicas em todo o país, o que gerou escassez de combustíveis e alimentos e elevou drasticamente o custo de vida em várias regiões. Segundo o governo boliviano, os bloqueios causaram um prejuízo econômico estimado em mais de 1,7 bilhão de dólares, aprofundando a crise econômica e colocando ainda mais pressão sobre o governo de Arce.
A ocupação do posto militar em Cochabamba levou Arce a declarar que tomará medidas enérgicas para restaurar a ordem no país. Em um discurso recente, o presidente sinalizou a possibilidade de mobilizar forças militares para acabar com os bloqueios e liberar as estradas, uma ação que pode desencadear confrontos violentos com os apoiadores de Morales, especialmente nas regiões onde o ex-presidente conta com maior apoio.
Para além do confronto direto, o cenário boliviano se agravou com um atentado envolvendo o próprio Evo Morales. Em um vídeo divulgado nas redes sociais, Morales exibiu seu carro perfurado por balas, acusando o governo de tentativa de assassinato. O governo, por sua vez, alegou que a polícia disparou em resposta após Morales tentar ultrapassar um bloqueio policial sem autorização. Esse incidente alimentou ainda mais as acusações de Morales contra o governo, acirrando o clima de desconfiança e hostilidade.
Enquanto a disputa política se intensifica, a crise afeta gravemente a população boliviana. O bloqueio das estradas interrompeu o abastecimento de bens essenciais em várias comunidades, resultando na falta de produtos básicos e na disparada dos preços. Em áreas remotas, famílias enfrentam uma situação de desabastecimento, transformando o conflito em uma questão de sobrevivência para muitos bolivianos.
De acordo com informações locais, os confrontos entre apoiadores de Morales e as forças governamentais deixaram dezenas de feridos, incluindo civis e policiais. O balanço mais recente aponta 61 policiais e nove civis feridos em meio aos protestos e bloqueios, um quadro que ilustra a dimensão da crise e o sofrimento da população.
A crise boliviana também atrai a atenção de atores internacionais, especialmente devido à riqueza do país em recursos naturais como gás natural e lítio, que são de grande interesse para potências estrangeiras. A polarização política na Bolívia torna-se, assim, não apenas uma questão de política interna, mas um tema de importância geopolítica para a América Latina e além.
Neste contexto turbulento, as próximas ações do governo de Arce e de Evo Morales definirão o futuro imediato da Bolívia. As tensões internas refletem a fragilidade das democracias emergentes e evidenciam a complexidade da política na região, onde fatores sociais, políticos e militares se entrelaçam em uma disputa intensa pelo controle do país.
Com informações de: BBC