Os supersalários dos militares e de várias outras categorias de servidores públicos parecem estar com os dias contados. O candidato derrotado à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, publicou em sua conta no X-Twitter o projeto de lei nº 4413/24 que pretende reduzir ou extinguir esses valores. Estudos mostram que a adequação do teto remuneratório aos limites estabelecidos pela Constituição geraria uma economia de cerca de R$5 bilhões aos cofres públicos. Na contramão do PL de Boulos, o Exército brasileiro pretende aumentar sua rede diplomática de adidos militares pelo mundo. Nesse nicho específico do serviço público estão alguns dos maiores vencimentos.
Boulos também diz que o corte do que ele chamou de “penduricalhos” (verbas como auxílio-moradia, plano de saúde, etc.) economizaria “cinco bilhões de reais por ano”. Ele diz que há uma pressão “tremenda” da Faria Lima para que o governo corte “investimentos sociais, na saúde e na educação”, e de que “o momento é de que se corte onde deve se cortar, isto é, nos supersalários dos militares”, entre outros.
“A maior parte dos servidores públicos rala pra caramba e ganha um salário insuficiente. Estamos falando da elite dos servidores públicos, que chega a ganhar salários como essas gratificações, indenizações, com os penduricalhos que chegam a 100 mil, 200 mil, 300 mil reais”, disse em vídeo publicado nas redes sociais.
Segundo Boulos afirmou no vídeo, “houve casos entre os militares, de oficiais superiores, que chegaram a receber um milhão de reais por mês“. No caso particular dos adidos militares, alguns valores recebidos por oficiais superiores realmente chegam perto disso.
Militares brasileiros ampliam sua rede de adidos
Conforme matéria publicada pela CNN, o Exército Brasileiro ampliará sua rede de adidos no exterior. Um dos motivos seria a progressivo acirramento do cenário geopolítico, que está cada vez mais hostil. Desde a Segunda Guerra Mundial, assistimos hoje ao maior volume de conflitos armados da história.
De acordo com o Instituto de Pesquisa para a Paz de Oslo, havia 59 conflitos armados ativos no mundo em 2023 — o maior número desde 1946.
A quantidade de militares trabalhando no estrangeiro deve passar de 56 para 64 países que terão adidância. Um dos principais focos dessa expansão será a Ásia. Só do Exército, hoje há adidos militares que atuam nas embaixadas e missões brasileiras de 30 países.
Exército terá ainda mais adidos na Ásia
Na reformulação prevista, o Exército passará a ter adidos próprios em 33 localidades, e acreditados em outras 22. Anteriormente os adidos acreditados oficialmente tinham sua atribuição estendida para 14 países.
De acordo com o Diplomatic Handbook do Instituto Rio Branco, um adido acreditado é um oficial diplomático que representa um país em uma missão diplomática, como uma embaixada ou consulado, em um país estrangeiro. O termo “acreditado” se refere ao fato de que esse oficial recebeu a aprovação formal do governo do país anfitrião para exercer suas funções.
A lista dos países é mantida em reserva, mas a CNN apurou que alguns países da Ásia passarão a ter adidos do Exército. O continente é visto pela força terrestre como uma região sensível, de disputa geopolítica, com aumento de tensões e ameaças.
As expansões vão sair por meio de decreto presidencial, e já constam da nova edição das Diretrizes para as Atividades do Exército Brasileiro na Área Internacional (Daebai).
Supersalários dos militares no exterior custam R$ 8 milhões por mês ao Brasil
O jornalista Lúcio Vaz, da Gazeta do Povo, pesquisou a remuneração dos adidos militares brasileiros em 43 países. Os adidos são oficiais das Forças Armadas que trabalham em representações diplomáticas brasileiras no exterior. A lista com os nomes de todos os adidos militares, com o cargo e o país onde estão lotados foi obtida pela Fiquem Sabendo via Lei de Acesso à Informação. A Fiquem Sabendo é uma organização sem fins lucrativos especializada no acesso a informações públicas
Com os nomes em mãos, o jornalista pesquisou no Portal da Transparência a remuneração básica e as verbas indenizatórias de cada um dos adidos militares e descobriu que esses servidores custam US$ 1,42 milhão ou R$ 8 milhões por mês aos cofres públicos, algo bem próximo do que Guilherme Boulos chamou de “supersalários dos militares.”
Alguns recebem mensalmente mais de R$ 140 mil mensais, além de indenizações, como auxílio-moradia, ajuda de custo, auxílio-familiar (para mulheres e filhos) e indenização de representação no exterior (IREX) – esses são os “penduricalhos” do PL de Guilherme Boulos.
Setenta e cinco adidos militares brasileiros em 43 países custam R$ 104 milhões por ano aos cofres públicos. Por mês, são US$ 1,42 milhão ou R$ 8 milhões. A maior remuneração é paga a um coronel, adido militar em Angola: US$ 31,3 mil, ou R$ 176 mil por mês. Outro coronel, adido na Nigéria, tem renda mensal de R$ 102 mil, recebeu US$ 115 mil de verbas indenizatórias em abril – o equivalente a R$ 650 mil.
Entre os maiores valores mensais estão um oficial superior da Marinha, adido de Defesa no Japão, que recebe R$ 176 mil; e o adido na Rússia, coronel da Aeronáutica, que tem renda de R$ 157 mil. Outro oficial superior da Marinha, adido no Equador, recebe R$ 149 mil mensais.
Um coronel do Exército, adido no Senegal, Benin e Togo, tem remuneração de R$ 143 mil. Outro coronel, esse da Aeronáutica, adido na Itália, recebe R$ 136 mil. Todos os valores, segundo o jornalista, são relativos a julho deste ano.