A Polícia Federal do Brasil formalizou acusações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e 36 de seus aliados, afirmando que eles participaram de uma conspiração criminosa para desmantelar o sistema democrático do país. A investigação, conduzida por meses, concluiu que havia um plano coordenado para “destruir violentamente o estado constitucional”. O relatório foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na última quinta-feira.
Bolsonaro, que governou o Brasil entre 2018 e 2022, está entre os acusados, assim como membros de destaque de sua administração. A lista inclui o ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, além de antigos ministros da Defesa, Walter Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Entre os nomes citados também estão o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos.
As acusações abrangem crimes como tentativa de golpe de estado, formação de organização criminosa e ataques ao sistema democrático brasileiro. Segundo a Polícia Federal, as provas foram obtidas por meio de delações premiadas, análises de registros financeiros, mensagens na internet e ligações telefônicas.
A crise da democracia brasileira
Entre os acusados, também figura Fernando Cerimedo, um especialista em marketing digital argentino e aliado próximo de Bolsonaro. Cerimedo esteve envolvido na comunicação política do presidente argentino Javier Milei e agora é citado como parte do suposto complô golpista. O caso atraiu atenção internacional devido às conexões com outros líderes populistas de direita na América Latina.
As investigações ganharam força após a descoberta de um plano denominado “Daggera Verde e Amarela”, que visava assassinar o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu vice, Geraldo Alckmin, além do ministro do STF Alexandre de Moraes. O esquema foi frustrado pela Polícia Federal, que prendeu cinco pessoas envolvidas.
Lula, que sobreviveu à tentativa de envenenamento, declarou em um discurso que estava grato por sua vida ter sido preservada. “Estou vivo”, afirmou o presidente de 79 anos, enquanto o governo condenava o plano como uma ameaça grave à democracia brasileira.
O impacto político das acusações
A reação entre os apoiadores de Bolsonaro foi de indignação. Parlamentares da oposição acusaram o governo de Lula de perseguir politicamente o ex-presidente. Rogério Marinho, líder da oposição no Senado, afirmou que a investigação reflete uma “perseguição incessante” contra Bolsonaro.
Enquanto isso, o governo Lula classificou as revelações como chocantes. Paulo Pimenta, ministro das Comunicações, expressou repúdio às ações atribuídas ao ex-presidente e seus aliados. Ele afirmou que os responsáveis precisarão responder por seus crimes contra a democracia e o povo brasileiro.
O desfecho do inquérito ocorre quase dois anos após a invasão de prédios governamentais em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. Naquela ocasião, milhares de apoiadores de Bolsonaro, inconformados com a derrota eleitoral de 2022, invadiram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF, em um ataque sem precedentes à democracia brasileira.
Bolsonaro nega envolvimento
Bolsonaro, por sua vez, negou qualquer envolvimento em um plano para reverter os resultados das eleições de 2022. Ao ser questionado sobre o relatório, afirmou que aguardaria instruções de seus advogados antes de comentar as acusações.
No entanto, mensagens e evidências apresentadas pela Polícia Federal indicam que alguns dos acusados, como o general Mario Fernandes, tinham clara intenção de promover um golpe de estado. Em uma mensagem recuperada pelos investigadores, Fernandes declarou: “Estamos em guerra.”
As próximas etapas do caso dependem do Ministério Público Federal, que avaliará quais dos acusados serão formalmente denunciados e levados a julgamento. Para os progressistas e apoiadores do governo atual, as acusações representam um passo crucial para garantir que crimes contra a democracia não fiquem impunes.
Um marco na política brasileira
O caso marca um dos episódios mais críticos da história política recente do Brasil. A conclusão da investigação lança luz sobre os perigos enfrentados pela democracia do país e reitera a importância de instituições sólidas e independentes para combater ameaças internas.
Embora o desfecho ainda seja incerto, a investigação da Polícia Federal envia uma mensagem clara: ações contra o estado democrático de direito não serão toleradas. O Brasil observa atentamente enquanto o processo avança, em busca de justiça para o que muitos consideram uma das maiores crises de sua história republicana.
Com informações de: The Guardian