Repleto de controvérsias e segredos, o Ornik revela não apenas a capacidade tecnológica da Rússia, mas também seu desejo de demonstrar força em resposta ao uso de mísseis ocidentais por parte da Ucrânia. Este artigo detalha os acontecimentos, o histórico do míssil, e as implicações para a geopolítica e a segurança global.
O ataque à fábrica de mísseis em Dnipro surpreendeu analistas e governos internacionais. Inicialmente, autoridades ucranianas afirmaram que o projétil usado seria um míssil balístico intercontinental (ICBM), dada a intensidade do impacto e a velocidade dos projéteis. Contudo, em pronunciamento oficial, o presidente russo, Vladimir Putin, negou essa informação e confirmou o uso do míssil Ornik.
Essa arma, classificada como um míssil balístico de alcance intermediário (IRBM), é capaz de atingir alvos a até 5.500 km de distância, com velocidades superiores a Mach 10 (mais de 12.000 km/h). Imagens e análises dos destroços indicam que o Ornik foi utilizado em uma configuração de múltiplos veículos de reentrada independentemente direcionáveis (MRVs), que permitem atingir diversos alvos simultaneamente com altíssima precisão.
O 9M729 Ornik: um armamento envolto em mistério
Pouco se sabe sobre o 9M729 Ornik, mas ele é considerado uma evolução do míssil Iskander, amplamente utilizado pela Rússia em ataques contra a Ucrânia. Sua capacidade hipersônica e seu design altamente preciso tornam-no uma arma formidável. Segundo Putin, os sistemas de defesa antimísseis existentes na Europa, incluindo os norte-americanos, seriam incapazes de interceptar mísseis como o Ornik.
Historicamente, o desenvolvimento do Ornik foi um dos fatores que levaram os Estados Unidos a abandonar o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) em 2018. Este tratado, firmado em 1987, proibia mísseis balísticos com capacidade nuclear de até 5.500 km. Em sua justificativa, o governo Trump acusou a Rússia de violar o acordo ao desenvolver o 9M729.
Com o tratado desfeito, tanto os Estados Unidos quanto a Rússia ficaram livres para avançar em projetos de mísseis balísticos de alcance intermediário. Analistas afirmam que, atualmente, há pelo menos 64 mísseis Ornik implantados em quatro locais diferentes na Rússia.
Um aviso estratégico
O ataque em Dnipro ocorre em um momento de crescente tensão militar. Nos últimos dias, a Ucrânia intensificou o uso de mísseis de longo alcance fornecidos pelo Ocidente, como o ATACMS, produzido pelos EUA, e o Storm Shadow, de origem britânica. Esses armamentos foram empregados para atingir alvos estratégicos em território russo, incluindo na região de Kursk.
Em resposta, o uso do Ornik pela Rússia não foi apenas um ataque, mas um aviso estratégico claro. A escolha de uma configuração não nuclear, mas altamente destrutiva, demonstra a capacidade do país de atingir alvos em qualquer lugar da Ucrânia, sem que sistemas de defesa possam detê-lo.
Além disso, analistas militares observam que o uso de armas hipersônicas em uma guerra real é sem precedentes. A velocidade e precisão do Ornik representam um desafio considerável para as defesas aéreas e antimísseis ocidentais, que podem precisar de atualizações significativas para lidar com essa nova ameaça.
Comunicação com o exército dos Estados Unidos e prevenção de escalada nuclear
Embora a ofensiva tenha utilizado ogivas convencionais, a Rússia notificou os Estados Unidos com 30 minutos de antecedência sobre o lançamento do Ornik. Essa medida, realizada por meio de canais de redução de riscos nucleares, visou evitar confusões que poderiam ser interpretadas como o lançamento de um míssil balístico intercontinental com capacidade nuclear.
A antecipação foi crucial para evitar pânico ou respostas desproporcionais, uma vez que sistemas de monitoramento norte-americanos poderiam confundir o lançamento de um IRBM como o Ornik com o de um ICBM.
A preocupação com uma possível escalada nuclear é palpável, já que o Ornik também é capaz de transportar ogivas nucleares. Especialistas avaliam que o uso de uma arma tão avançada e versátil, mesmo em configurações convencionais, envia uma mensagem implícita sobre o potencial de uma futura escalada do conflito.
O que está em jogo?
O ataque com o Ornik levanta várias questões estratégicas e geopolíticas. Primeiramente, ele reforça a superioridade tecnológica da Rússia em relação a sistemas de mísseis hipersônicos. Em segundo lugar, evidencia a fragilidade das defesas antimísseis atuais contra esse tipo de arma.
Por fim, o episódio destaca a volatilidade do conflito na Ucrânia, que pode rapidamente ultrapassar limites previamente considerados intransponíveis. A demonstração de força com o Ornik é também um lembrete de que as capacidades nucleares russas continuam sendo um fator determinante nas dinâmicas globais de segurança.
O futuro do conflito e a necessidade de respostas
O ataque a Dnipro com o 9M729 Ornik marca um momento crucial na guerra da Ucrânia. Ele não apenas evidencia a contínua escalada militar, mas também sublinha os riscos de uma possível expansão do conflito para outros territórios ou mesmo uma confrontação direta entre potências globais.
Enquanto a Rússia reforça sua posição com demonstrações de poder, os aliados ocidentais da Ucrânia enfrentam o desafio de atualizar suas estratégias de defesa para enfrentar ameaças hipersônicas. O mundo observa com apreensão, consciente de que ações como essa podem redesenhar o equilíbrio de forças no cenário global.
A guerra na Ucrânia continua sendo um campo de testes para as armas mais avançadas e para as estratégias mais audaciosas, enquanto a diplomacia luta para evitar que o confronto ultrapasse os limites de controle.