‘Exército’ implacável: Quase todas as criaturas deste planeta têm alguma fraqueza que pode ser explorada para escapar. Todas, exceto uma. Para termos uma ideia de que não estamos lidando com uma criatura para se aproximar e acariciar, basta digitar no Google a palavra “ganso”. Uma das primeiras entradas nos dá pistas sobre a ave. Os especialistas, claro, sabem do valor da criatura. De fato, nas prisões mais temidas do Brasil, não têm cães, têm gansos.
Nem guardas, nem cães: Um exército implacável
As fugas de prisão são comuns. Em média, no Brasil, um prisioneiro escapa a cada dia, muitos deles pela porta principal após subornar os guardas. No entanto, em algumas prisões extremamente perigosas do país, algo está mudando. Não há guardas nem cães quando chega a noite, há patrulhas de gansos que estão se mostrando infalíveis. A administração sabe que está em vantagem. Até um exército de cães pode ceder diante de um bom pedaço de carne, mas os gansos são insubornáveis.
A primeira prisão. Isso aconteceu há quinze anos, quando a prisão em Santa Catarina, Brasil, substituiu seus cães de guarda por um exército de gansos. Na época, não estava muito claro por que escolheram ser a única do país a utilizar gansos, mas funcionou. Desde então, os gansos patrulham a área de grama logo dentro do muro da prisão, e o número de fugas diminuiu drasticamente.
O truque do exército de gansos
Os zoólogos explicam que não se trata de qualquer ganso. São gansos “sentinela”, que “foram domesticados e utilizados para esse fim durante muito tempo. São animais que sinalizam vocalmente qualquer perturbação no ambiente”. Então tocam a buzina.
Não estamos falando de qualquer ruído, são gansos, e o som que emitem quando estão alterados é capaz de desencadear uma cacofonia ensurdecedora de buzinas e gritos que servem para alertar os guardas de todo o recinto. Além disso, são tremendamente territoriais e capazes de atacar qualquer um que entre em sua zona.
Melhores que um exército de cães. Essas criaturas têm uma vantagem sobre os cães de guarda, além de serem insubornáveis. Ao contrário do melhor amigo do homem, que requer treinamento e muitos cuidados, os gansos fazem o trabalho simplesmente por serem gansos. Além disso, os cães são mais caros de treinar e manter.
Na prisão de segurança máxima de São Pedro de Alcântara, o diretor da prisão, Marcos Souza, contou ao Wall Street Journal que os Malinois belgas que costumavam andar pelo muro perimetral da prisão custavam 7.000 dólares cada um. Em vez disso, “um exército de gansos fica contente com arroz e nunca fica doente”, explicou.
Por que no Brasil?
As penitenciárias do país têm sido um bom laboratório para testar essa iniciativa. Principalmente porque, embora atualmente as prisões contem com sistemas de detecção de última geração que dificultam muito a fuga dos detentos sem serem detectados, as deficiências de muitos centros do país fazem dessas criaturas uma jogada vencedora.
Além disso, em uma prisão no estado do Rio Grande do Sul, mais ao sul do Brasil, o pessoal recentemente empregou gansos para alertar os oficiais quando havia pacotes (geralmente telefones ou drogas) lançados para dentro da prisão para os detentos. Equipados com uma excelente visão noturna e uma audição aguçada, os gansos são o melhor alarme que já tiveram até agora.
O caso de São Pedro de Alcântara. Nesta prisão de segurança máxima situada ao sul do Brasil, começaram com os gansos por acidente. Aparentemente, os funcionários das prisões tiveram a ideia pela primeira vez há alguns anos, quando foram encurralados por uma manada de gansos irritados durante um churrasco. Como em muitas das prisões brasileiras com fundos insuficientes, o diretor da prisão lutava para fechar as contas e aceitou dar-lhes a oportunidade de patrulhar os terrenos.
Agora, eles cobrem a faixa de terra coberta de grama entre a cerca interna e o muro externo da prisão, e a “prática” até se estendeu entre os agricultores locais para se protegerem dos intrusos, uma tradição que se acredita remontar à época romana, quando, segundo conta a lenda, os gansos assumiram o papel de sentinelas, soando o alarme quando os guerreiros gauleses invadiram por volta do ano 390 a.C., salvando Roma.
Não têm lealdade. Isso é fundamental, já que, como afirmam em São Pedro de Alcântara, nem mesmo aqueles que os alimentam diariamente recebem um tratamento favorável das criaturas. Além disso, delegaram a tarefa de cuidar das aves aos próprios prisioneiros, com a segurança de que os gansos facilmente denunciariam seus cuidadores se necessário. Assim, todos os dias, um pequeno grupo de detentos sai de suas celas por bom comportamento e, entre outras atividades, deve alimentar os animais, um dos momentos mais temidos pelos prisioneiros.
De fato, o WSJ conta o caso de um detento que cumpre uma sentença de 20 anos por assassinato e roubo, lembrando o trauma de ter sido atacado pelos animais quando foi chamado para realizar alguns trabalhos de manutenção dentro de sua área. “Uma vez entrei para consertar a porta e todos vieram em minha direção”, explica.
E nunca dormem. Ou assim parece, claro. Nesse sentido, Coronetti explicou que entre os funcionários sempre existe a dúvida. Quando chega a noite, chova ou neve, lá estão os gansos perambulando como se suas vidas dependessem disso, “eles estão sempre patrulhando, andando como patos, parando, andando um pouco mais. É um mistério quando dormem”.
Violência animal. O fato é que o mundo animal está repleto de histórias de terror com criaturas tão territoriais quanto perigosas. A Austrália está repleta desses bichos, e até existem listas de animais proibidos por países. Seja como for, muito poucos são como o aparentemente inofensivo ganso, uma criatura que não brinca em serviço, e que até a China já utilizou para ajudar as patrulhas de fronteira a manter os imigrantes ilegais sob controle.