O crescimento do arsenal militar da Rússia está transformando o equilíbrio de poder global, enquanto a União Europeia enfrenta desafios significativos para acompanhar o ritmo. Desde o início do conflito na Ucrânia, o complexo militar-industrial russo ampliou drasticamente sua produção de armas e munições, destacando a capacidade estratégica do país em superar sanções internacionais e manter sua influência no campo de batalha.
Com uma economia cada vez mais militarizada, Rússia consegue transformar recursos antigos em poder de fogo renovado, enquanto a União Europeia enfrenta desafios econômicos, políticos e logísticos para aumentar sua produção e garantir a segurança regional.
A preocupação europeia com o crescimento militar da Rússia
O ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, manifestou preocupação em relação à produção militar da Rússia. Durante um evento organizado pela Fundação Friedrich Ebert, ele destacou que a Rússia consegue produzir em três meses o equivalente a um ano inteiro de produção da União Europeia.
Essa comparação expõe as dificuldades enfrentadas pelo bloco europeu em atender às demandas de segurança em um contexto de crescente tensão global. Pistorius também chamou atenção para o impacto do conflito ucraniano, que deixou de ser uma disputa regional e assumiu proporções globais, especialmente com o envolvimento ocidental.
Ele ainda alertou para a possibilidade de acordos entre Donald Trump e Vladimir Putin, que poderiam colocar em risco os interesses europeus e ucranianos, ressaltando a necessidade de a Alemanha e seus aliados aumentarem os investimentos em defesa.
Estratégias russas: da modernização de tanques à economia de guerra
O sucesso da Rússia na manutenção de sua superioridade militar está ancorado em três pilares principais: modernização de arsenais antigos, transformação econômica e alianças internacionais.
Primeiramente, a modernização de equipamentos da era soviética tem sido uma solução eficiente. Tanques T-90, por exemplo, são atualizados, enquanto modelos mais antigos, como o T-62 e o T-80, são reformados. Essa abordagem é mais econômica e rápida do que a fabricação de modelos novos, como o T-14 Armata.
Além disso, a economia russa tem se transformado em uma “economia de guerra”. Recursos foram nacionalizados e setores estratégicos, mobilizados. Apesar das sanções impostas pelo Ocidente, Moscou encontrou alternativas para obter componentes tecnológicos, recorrendo a países como China, Turquia e Cazaquistão.
A produção de drones e tecnologias autônomas, como o Lancet, foi intensificada. Outro destaque são as parcerias estratégicas, como a colaboração com o Irã, que resultou na criação de fábricas de drones em território russo. Essa aliança tem acelerado o fornecimento de equipamentos diretamente para o front.
Os desafios da União Europeia no cenário de defesa
A UE, por sua vez, enfrenta dificuldades para igualar a capacidade produtiva russa. A infraestrutura industrial limitada após décadas de paz, somada à dependência de matérias-primas como pólvora e explosivos, impacta negativamente a produção.
Embora programas como o ASAP (Lei de Apoio à Produção de Munição) prometam aumentar a capacidade, a meta de 2 milhões de projéteis anuais até 2025 ainda está longe dos 3 milhões que a Rússia produz anualmente.
Equipamentos tornam a produção europeia mais cara
Outro obstáculo significativo são os altos custos de energia, mão de obra e equipamentos, que tornam a produção europeia mais cara. Além disso, o modelo político da UE exige consenso entre os Estados-membros para grandes iniciativas, o que muitas vezes atrasa decisões cruciais.
Mesmo com esforços contínuos, a UE permanece em desvantagem. A centralização e a eficiência das estratégias russas continuam garantindo sua competitividade militar no cenário global, enquanto os desafios estruturais europeus limitam sua resposta.