Uma investigação conduzida pelo Open Source Centre revelou que, desde março de 2024, a Rússia forneceu à Coreia do Norte mais de um milhão de barris de petróleo. Este volume significativo, registrado por meio de imagens de satélite, expõe uma aliança que combina apoio militar com troca de recursos energéticos. O petróleo russo sustenta operações militares norte-coreanas, enquanto Pyongyang envia armas e soldados para apoiar o exército russo na guerra contra a Ucrânia.
Essas transferências violam diretamente as sanções das Nações Unidas, que limitam o fornecimento de petróleo à Coreia do Norte a apenas 500 mil barris por ano. A medida busca enfraquecer a capacidade de Pyongyang de desenvolver armas nucleares. No entanto, a escala desse comércio clandestino demonstra que as sanções estão sendo sistematicamente desrespeitadas, alimentando a guerra de Vladimir Putin e fortalecendo o exército norte-coreano.
O comércio clandestino de petróleo que fortalece laços militares entre Rússia e Coreia do Norte
As transferências começaram em 7 de março de 2024, sete meses após relatos iniciais de que Pyongyang havia enviado armas e munições para o Exército de Moscou. Desde então, os registros indicam 43 viagens de petroleiros norte-coreanos ao porto russo de Vostochny. Essas embarcações, frequentemente operando com rastreadores desativados, retornaram carregadas com petróleo suficiente para preencher cerca de 90% de sua capacidade.
Joe Byrne, pesquisador do Open Source Centre, afirma que essas operações foram realizadas de forma contínua ao longo de oito meses. “Os navios chegam ao porto quase semanalmente, sempre em silêncio”, comenta Byrne. As imagens de satélite utilizadas na análise mostram claramente os níveis de carga dos petroleiros antes e depois de atracarem em território russo.
Petróleo russo: a chave para a sobrevivência energética e militar da Coreia do Norte sob sanções internacionais
O petróleo é essencial para sustentar as operações do exército norte-coreano. Embora grande parte da população dependa do carvão para atender às necessidades cotidianas, o combustível refinado é indispensável para movimentar lançadores de mísseis, transportar tropas e abastecer fábricas de munições. Diesel e gasolina também são utilizados para alimentar veículos utilizados pela elite política do regime de Kim Jong Un.
A Coreia do Norte consome aproximadamente nove milhões de barris de petróleo por ano, mas as restrições impostas pela ONU limitam esse volume drasticamente. Historicamente, o país recorreu a redes criminosas para adquirir petróleo no mercado negro, utilizando métodos arriscados, como transferências entre navios em alto-mar. O fornecimento direto da Rússia eliminou essa necessidade, proporcionando combustível de melhor qualidade e sem custos diretos, de acordo com analistas.
“Um milhão de barris pode parecer insignificante para a Rússia, mas para a Coreia do Norte, é uma fonte vital de energia militar”, explica Go Myong-hyun, pesquisador do Instituto de Estratégia de Segurança Nacional da Coreia do Sul. Ele acrescenta que esse fornecimento contínuo confere ao regime de Pyongyang uma estabilidade energética sem precedentes desde a imposição das sanções em 2017.
A dissolução do painel da ONU: como a Rússia abriu caminho para fortalecer o exército da Coreia do Norte com petróleo ilícito
A capacidade da comunidade internacional de monitorar essas transações foi prejudicada pela dissolução do painel da ONU responsável por rastrear violações das sanções contra a Coreia do Norte. Em março de 2024, três semanas após a primeira entrega de petróleo documentada pelo Open Source Centre, a Rússia usou seu poder de veto no Conselho de Segurança para desmantelar o grupo.
Ashley Hess, ex-integrante do painel, afirmou que havia evidências iniciais dessas transferências antes da dissolução. “Nós já estávamos monitorando alguns navios envolvidos, mas nosso trabalho foi interrompido abruptamente”, disse Hess. A ausência do painel permitiu que as transferências continuassem sem obstáculos, fortalecendo o exército de Kim Jong Un.
Eric Penton-Voak, que liderou o painel de 2021 a 2023, destacou que representantes russos no grupo frequentemente tentaram censurar informações críticas sobre essas violações. “Agora, sem supervisão, a Rússia incentiva abertamente esses navios a carregar petróleo em seus portos, demonstrando total desrespeito às sanções”, afirmou.
Um vínculo crescente entre Moscou e Pyongyang: Exército da Coreia do Norte envia munições e tropas em troca de tecnologia avançada
A relação entre Rússia e Coreia do Norte está em plena ascensão, alimentada por interesses militares e estratégicos mútuos. Estima-se que Pyongyang tenha enviado a Moscou 16 mil contêineres de munições, incluindo projéteis de artilharia e foguetes, desde o início da parceria. Além disso, milhares de soldados do Exército norte-coreanos foram deslocados para regiões como Kursk, na Rússia, onde participam ativamente de combates na Ucrânia.
Essas movimentações levantam preocupações sobre a possibilidade de Pyongyang exigir algo além do petróleo em troca. Analistas sugerem que Kim Jong Un pode estar buscando tecnologia militar avançada, incluindo sistemas de mísseis balísticos e satélites espiões, para reforçar o arsenal do Exército norte-coreano.
Petróleo como motor de alianças militares que ameaça a segurança global
Enquanto o petróleo sustenta as operações militares do exército de ambos os países, a troca de recursos energéticos por apoio militar está redesenhando alianças geopolíticas. Hugh Griffiths, ex-chefe do painel da ONU, afirma que “o petróleo russo está abastecendo diretamente a máquina de guerra de Putin, enquanto também sustenta a infraestrutura militar de Kim Jong Un”.
David Lammy, Secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, alertou que essa parceria não afeta apenas a Ucrânia, mas também representa uma ameaça à estabilidade na Península Coreana e no Indo-Pacífico. Ele descreveu a dependência mútua entre Moscou e Pyongyang como “um pacto que mina a segurança global”.
A crescente colaboração entre Moscou e Pyongyang, centrada no fornecimento de petróleo e apoio militar, está ampliando as preocupações globais. As 43 transferências documentadas desde março de 2024 não apenas reforçam o exército norte-coreano, mas também permitem que a Rússia mantenha sua ofensiva militar na Ucrânia. Este fluxo constante de recursos energéticos está alimentando uma máquina de guerra conjunta que desrespeita sanções internacionais e expande os riscos de desestabilização em várias regiões.
Operações clandestinas: como as transferências são realizadas e petroleiros norte-coreanos burlam sanções para transportar petróleo russo
A estratégia de transporte dos petroleiros norte-coreanos envolve práticas altamente discretas. Essas embarcações navegam frequentemente com seus rastreadores desligados, dificultando a detecção de suas rotas. Imagens de satélite capturaram os navios atracando no porto de Vostochny, no Extremo Oriente da Rússia, antes de retornarem aos portos da Coreia do Norte, tanto na costa leste quanto na oeste.
Pesquisadores do Open Source Centre utilizaram o conhecimento sobre a capacidade de cada petroleiro para calcular os volumes transportados. Observando os níveis de flutuação dos navios na água, foi possível determinar que estavam carregados a cerca de 90% de sua capacidade total. Esses registros indicam que, desde março, mais de um milhão de barris foram enviados — mais que o dobro do limite permitido pelas sanções da ONU.
Apesar das restrições legais, a Rússia continua a permitir essas operações em seus portos, com diversas embarcações sancionadas individualmente pela ONU participando das transferências. Essa conduta reflete um “novo nível de desprezo” pelas normas internacionais, segundo Eric Penton-Voak, ex-chefe do painel de sanções da ONU.
Uma nova estabilidade para a Coreia do Norte
O impacto desse fornecimento de petróleo na Coreia do Norte vai além das operações militares. Joe Byrne, do Open Source Centre, explica que esse fluxo contínuo confere ao regime de Kim Jong Un um nível de estabilidade energética que não era visto desde a introdução das sanções em 2017. Ele acrescenta que a possibilidade de receber petróleo de alta qualidade e sem custos financeiros diretos é uma vitória estratégica para Pyongyang.
Ainda assim, essa estabilidade é conquistada à custa de uma aliança que preocupa a comunidade internacional. Enquanto soldados norte-coreanos lutam ao lado do exército russo na Ucrânia, o regime de Kim Jong Un aproveita o petróleo russo para fortalecer sua infraestrutura militar e alimentar suas fábricas de munições. Diesel e gasolina são usados para movimentar lançadores de mísseis, transportes táticos e operações de tropas em território norte-coreano.
Pacto militar de Pyongyang a Moscou: munições, soldados e alianças que desafiam a estabilidade global
As transferências de petróleo são apenas uma parte do acordo entre os dois regimes. Relatórios indicam que a Coreia do Norte enviou mais de 16 mil contêineres de projéteis de artilharia, foguetes e outras munições para o exército da Rússia. Restos de mísseis balísticos de fabricação norte-coreana foram encontrados em campos de batalha na Ucrânia, evidenciando a profundidade dessa parceria militar.
Recentemente, Kim Jong Un e Vladimir Putin assinaram um pacto de defesa que resultou no envio de milhares de soldados do exército norte-coreanos para a Rússia. Esses combatentes foram designados para regiões estratégicas, como Kursk, onde estão diretamente envolvidos nas operações militares russas. Esse intercâmbio reforça a dependência mútua entre os dois países, ao mesmo tempo em que desafia a estabilidade regional.
Tecnologias militares do Exército em negociação? O impacto de mísseis e satélites na segurança global
A crescente parceria entre Moscou e Pyongyang levanta especulações sobre possíveis trocas de tecnologia militar. Autoridades sul-coreanas expressaram preocupação de que a Rússia possa compartilhar conhecimento sobre satélites espiões e sistemas de mísseis balísticos com a Coreia do Norte. Tais avanços representariam um salto significativo para o programa do exército militar norte-coreano, potencialmente ampliando suas capacidades de vigilância e ataque.
Kim Yong-hyun, ministro da Defesa da Coreia do Sul, declarou recentemente que há uma “grande chance” de Pyongyang estar buscando essa assistência tecnológica. “Se soldados do exército norte-coreanos estão sendo enviados para morrer em uma guerra estrangeira, o petróleo por si só não é suficiente como recompensa”, comentou Go Myong-hyun, pesquisador sul-coreano.
A possibilidade de compartilhamento de tecnologia militar também sugere que a Rússia está disposta a revisar suas prioridades estratégicas. Andrei Lankov, especialista em relações Rússia-Coreia do Norte, acredita que Moscou pode estar reconsiderando suas políticas devido à necessidade urgente de apoio de exército militar por parte de Pyongyang. “Essa troca dá à Coreia do Norte mais influência do que nunca”, argumenta Lankov.
Ameaças globais: petróleo como catalisador de instabilidade
As implicações dessa aliança vão além da Ucrânia e da Península Coreana. O fortalecimento das relações entre Rússia e Coreia do Norte demonstra como regimes autocráticos estão se unindo para contornar sanções internacionais e alcançar objetivos estratégicos. Essa colaboração está redefinindo alianças geopolíticas e ampliando os desafios para a segurança global.
Hugh Griffiths, ex-integrante do painel de sanções da ONU, alertou que “o petróleo russo está sendo convertido em mísseis, munições e soldados norte-coreanos”. Esse ciclo perigoso não apenas alimenta a máquina de guerra de Vladimir Putin, mas também sustenta a capacidade militar de Kim Jong Un. Ele acrescenta que tais ações colocam em risco a segurança do Indo-Pacífico, da Europa e de outras regiões.
Eric Penton-Voak destaca que a crescente colaboração entre regimes autocráticos representa uma ameaça emergente. Ele alerta para a possibilidade de armas nucleares táticas da Coreia do Norte serem transferidas para outros países, como o Irã, exacerbando ainda mais os riscos globais.
Uma resposta internacional insuficiente
O colapso do painel da ONU responsável por monitorar as sanções contra a Coreia do Norte enfraqueceu significativamente a capacidade da comunidade internacional de reagir a essas violações. Apesar disso, países como os Estados Unidos e a Coreia do Sul prometeram respostas severas às ações de Moscou e Pyongyang.
O governo sul-coreano destacou que continuará pressionando por medidas mais rigorosas contra a Rússia e a Coreia do Norte no Conselho de Segurança da ONU. No entanto, a influência política e militar de Moscou no cenário global complica a implementação de sanções mais eficazes.