Cessão de territórios: O coração da proposta
A proposta de paz russa incluía exigências territoriais que iam muito além da situação no terreno. Putin queria que a Ucrânia reconhecesse oficialmente a Crimeia como parte da Rússia e cedesse toda a região do Donbas, controlada em parte por separatistas pró-russos desde 2014. Além disso, qualquer território ocupado durante a invasão permaneceria sob controle russo, mesmo enquanto negociações ainda estivessem em curso.
Essa abordagem não apenas consolidaria as conquistas militares de Moscou, mas também criaria um precedente perigoso. Ao legitimar anexações forçadas, a proposta transformava a invasão em um instrumento válido para redesenhar fronteiras na Europa. Para a Ucrânia, aceitar tais condições significava uma perda territorial permanente e uma derrota simbólica diante da agressão russa.
Desmilitarização e isolamento: A Ucrânia sob controle
Além das exigências territoriais, a proposta de Putin incluía condições que enfraqueceriam gravemente a capacidade da Ucrânia de se defender. O exército ucraniano teria de ser reduzido a uma força limitada de 50.000 soldados — insuficiente para proteger um país que já havia sido invadido. Veículos blindados, tanques e até mesmo forças aéreas seriam restringidos.
Outro ponto central era o isolamento diplomático. A Rússia exigia que a Ucrânia renunciasse à adesão à OTAN e a qualquer aliança militar com países ocidentais, como os Estados Unidos ou membros da União Europeia. Isso transformaria o país em uma zona neutra, vulnerável à influência russa, sem a possibilidade de buscar proteção internacional.
Com essas condições, a Ucrânia estaria totalmente dependente da Rússia, incapaz de responder a futuras ameaças e sem autonomia para determinar seu próprio destino militar ou político. Para Moscou, esse era o cenário ideal: um país enfraquecido, isolado e incapaz de desafiar o poder do Kremlin.
Território e identidade nacional em risco
A proposta russa também visava enfraquecer a identidade nacional da Ucrânia. Entre as exigências, estava o reconhecimento do russo como língua oficial, o que diminuiria o status do ucraniano e refletia as políticas de russificação dos tempos soviéticos. Essa medida era mais do que simbólica: representava um esforço para minar a cultura e a unidade nacional ucraniana, tornando-a mais suscetível à influência russa.
Para a Ucrânia, aceitar essas condições seria renunciar à sua própria identidade, deixando de ser um Estado soberano para se tornar um protetorado. Além disso, a proposta incluía a ideia de que a Rússia teria o poder de veto sobre qualquer resposta internacional a ataques futuros contra o país. Na prática, isso significaria que Kiev não poderia buscar ajuda estrangeira sem a aprovação de Moscou.
Paz ou submissão?
A chamada “proposta de paz” de Putin não buscava um cessar-fogo justo, mas sim a rendição total da Ucrânia. As condições impostas deixariam o país desarmado, isolado e incapaz de se desenvolver como uma nação independente. Para o Kremlin, isso representava uma oportunidade histórica de redefinir o equilíbrio de poder na Europa e consolidar sua influência sobre territórios que considera parte de sua esfera de controle.
A recusa ucraniana foi, portanto, uma afirmação de sua soberania e um apelo à comunidade internacional para reconhecer o verdadeiro objetivo russo: transformar a guerra em um instrumento de domínio. Este episódio destaca a importância de defender os princípios de integridade territorial e autodeterminação diante de tentativas de subjugação militar.