Matthieu Nicol, pesquisador de fotos em Paris e ex-editor do jornal Le Monde, encontrou um verdadeiro tesouro de imagens enquanto vasculhava a internet há alguns anos.
A história foi publicada pelo jornal The New York Times em 14 de outubro e repercutida na Folha de São Paulo em 3 de novembro.
O pesquisador buscava imagens obscuras de alimentos dos anos 1970 quando, sem querer, começou a encontrar pessoas fotografadas profissionalmente ao longo de décadas, trajando uniformes para diversos usos militares. Ao todo são 14.100 arquivos criados até os anos 1990.
“As imagens eram de todos os tipos de pessoas, vestindo protótipos de roupas militares para diversos usos, de secretária a soldado, paraquedista a especialista em desativação de bombas”.
Segundo ele, os “modelos” são sempre jovens na casa dos 20 ou 30 anos e as roupas pareciam muito contemporâneas. “Poderiam ter sido feitas para uma campanha da Acne Studios, Martins Margiela ou Balenciaga”.
Segundo Nicol, após a descoberta ele tentou por meses investigar as imagens. Ele chegou, inclusive, a entrar em contato com o Exército norte-americano, mas a corporação teria ficado 6 meses o ignorando.
“Após um ano, o diretor de comunicação respondeu que eu podia submeter um memorando ao Exército, com perguntas. Apresentei-o, com 25 perguntas, e por fim o diretor respondeu: você pode fazer as perguntas, mas não vamos respondê-la”.
Enquanto não descobre o motivo da existência das fotos, Nicol reuniu 350 delas em um livro de moda chamado Fashion Army. Trata-se de um álbum de fotos com a intenção de mostrar a interação entre a funcionalidade militar e a indústria da moda.
“As fotos são elegantes e atraentes. Embora tenham sido tiradas há 40 anos, os sujeitos posam como poderiam fazer hoje, embora eu tenha certeza de que as pessoas que aparecem nessas fotos não são modelos profissionais”.
Apesar disso, o pesquisador afirma que as fotos não são essencialmente glamurosas, uma vez que “foram produzidas para o uso de uma máquina de matar”.
“Encará-las dessa forma [glamurosa] é evitar a questão da utilidade final das vestimentas. Eu vejo isso como uma oportunidade para refletir, discutir e educar”.