Síria em ruínas: como o regime de al-Assad desmoronou
Após mais de cinco décadas de controle absoluto da família al-Assad, a Síria viveu nas primeiras horas do último domingo o colapso definitivo do regime. A queda do país se deu rapidamente, enquanto o presidente Bashar al-Assad fugiu da capital. Ao mesmo tempo, combatentes da oposição tomavam Damasco e declaravam o país “livre”. Eis como tudo se desfez de maneira tão rápida e explosiva.
A queda da Síria: o fim de uma era
A queda da Síria e esse cenário em Damasco era algo impensável há poucas semanas. Na icônica Praça Umayyad, multidões celebravam a queda de um governo que por anos os aterrorizou. Combatentes da oposição disparavam para o alto, enquanto cidadãos subiam em tanques e entoavam gritos de liberdade. Em várias partes do país, estátuas do ex-presidente Hafez al-Assad, pai de Bashar, foram derrubadas, simbolizando o fim de uma era de opressão.
A euforia, no entanto, contrasta com a incerteza sobre o futuro. A saída de Bashar al-Assad, que fugiu de Damasco sob proteção militar, levanta perguntas difíceis sobre os próximos passos para o país devastado por mais de uma década de guerra civil.
A ofensiva decisiva
O colapso do regime começou em 27 de novembro, quando uma coalizão de combatentes da oposição lançou a chamada Operação Dissuasão da Agressão. Liderados pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) e apoiados por facções ligadas à Turquia, os insurgentes avançaram rapidamente.
A ofensiva começou em Idlib e se expandiu para Aleppo, a segunda maior cidade do país. A cidade surpreendentemente caiu em apenas três dias. Esse foi o golpe inicial que desequilibrou o exército sírio, já bastante frágil. Em menos de uma semana, cidades como Hama, Homs e até Deraa – o berço dos protestos de 2011 – já estavam nas mãos da oposição. Assim, a queda da Síria se deu em uma mera quinzena.
O colapso da economia e o abandono do regime
Analistas destacam que a fragilidade do regime se acelerou por conta de uma economia em colapso. Por anos, o governo de al-Assad sustentou-se com receitas ilegais, como o comércio de Captagon, uma droga com tráfico amplo na região. Contudo, nem mesmo isso foi suficiente para conter a insatisfação crescente.
Soldados desertaram em massa. Posteriormente, o apoio externo começou a falhar. A Rússia, atolada na guerra da Ucrânia, e o Irã, enfraquecido por suas próprias crises internas e ataques israelenses ao Hezbollah, não conseguiram mais sustentar o regime. De acordo com um analista político, “a Síria já estava vivendo no fio da navalha”.
Em um dos momentos mais simbólicos da ofensiva, combatentes da oposição invadiram a temida prisão de Sednaya, nos arredores de Damasco. Conhecida por seus abusos e torturas, a instalação foi palco de horrores durante anos.
Agora, seus portões foram abertos, e milhares de prisioneiros políticos foram libertados. De acordo com um porta-voz do HTS, “é o fim da era de tirania na prisão de Sednaya”. Para muitos, esse ato marca não apenas a queda de um regime, mas a esperança de um novo começo.
Então, onde afinal está Bashar al-Assad?
O paradeiro de Bashar al-Assad permanece um mistério. Relatos indicam que ele teria fugido pelo aeroporto internacional de Damasco, mas sua localização exata ainda é desconhecida. A mídia russa especula que ele possa ter buscado refúgio em Moscou, embora nenhuma confirmação oficial tenha sido feita.
Enquanto isso, o primeiro-ministro sírio, Mohammad Ghazi al-Jalali, permanece no país, tentando assegurar uma transição pacífica. De acordo com Jalali em suas redes sociais, “estamos prontos para entregar as funções a um governo de transição”.
Embora a queda de al-Assad tenha sido recebida com comemorações, o futuro da Síria está longe de ser definido. O líder do HTS, Abu Mohammed al-Julani, afirmou que instituições públicas permanecerão sob supervisão temporária. No entanto, analistas alertam para os riscos de fragmentação e disputas internas entre os diferentes grupos da oposição.