Parece uma previsão apocalíptica, mas não é. Um estudo publicado nessa terça-feira, 03, na revista científica “Nature Communications” revelou que o Ártico pode ter o seu primeiro dia sem gelo muito antes do que os cientistas previam. Segundo o estudo, o derretimento total do gelo marinho pode acontecer já em 2027, há pouco mais de dois anos.
Para chegar nessa conclusão, a pesquisa utilizou modelos de computador para realizar a previsão de quando o degelo aconteceria no Ártico e, infelizmente, dentre os resultados mais pessimistas, foi constatado que o evento poderá ser visto em um prazo máximo de três anos.
“Mostramos que a série de eventos necessários para fazer todo o gelo derreter já aconteceu no mundo real. Só tivemos sorte que não aconteceu na ordem necessária até agora”, disse Celine Heuzé, uma das autoras do estudo e professora sênior de Climatologia na Universidade de Gotemburgo.
A pesquisadora explicou que o trabalho teve inicio com milhares de simulações, mas apenas 300 foram selecionadas por serem consideradas as mais realistas. Ainda, segundo a pesquisadora, o aquecimento das correntes oceânicas é o principal motivo por trás desse processo, uma vez que elas afinam a camada de gelo, derretendo-o por baixo ao longo dos anos.
Uma das constatações trazidas também pelos cientistas é de que mesmo que o gelo ainda não esteja derretido por completo, o degelo lento e gradual já é capaz de provocar alterações no clima, como ondas de calor e tempestades.
“Descobrimos que todos esses primeiros dias sem gelo apresentados pelos modelos ocorrem durante um evento de rápida perda de gelo e estão associados ao forte inverno e aquecimento da primavera”, disse a professora.
Qual o impacto do degelo oceânico no planeta?
Para se ter uma ideia, apenas um único dia sem gelo no oceano pode trazer consequências para todo o clima global. Isso porque todo o ecossistema da região depende do gelo para sobreviver.
“Há algas crescendo na parte inferior [do gelo] e tudo, desde ovos de plâncton até bacalhaus polares, usando-o para se esconder. E na outra ponta, é claro, ursos polares o utilizam como plataforma de caça”, enfatiza a pesquisadora.
Pode parecer pouco, mas um dia sem gelo pode contribuir para afetar de maneira drástica essas espécies que já estão estressadas e não só isso: um único dia sem gelo aumenta a probabilidade de perdê-lo ainda mais, com maior frequência e por períodos maiores.
A nível global, o degelo teria um efeito desestabilizador de todo o clima terreno, causando eventos climáticos extremos, especialmente no hemisfério norte.
“Isso não é algo que acontecerá só no futuro. Isso já está acontecendo, pois o gelo marinho já está desaparecendo. Mas vai piorar sem gelo marinho no verão”, pondera Heuzé.
Efeito Estufa e a redução das emissões
Para evitar esse colapso climático global, a saída, como vendo sendo alertado pelos cientistas há décadas, é promover a redução da emissão dos gases do efeito estufa.
As emissões de gases do efeito estufa geram um ciclo vicioso e negativo para o planeta, uma vez que quanto mais gases nocivos, mais se apressa o derretimento, o que contribui para os eventos climáticos extremos que, por sua vez, aceleram ainda mais o degelo.
Para os cientistas que participaram do estudo, qualquer diminuição nas emissões já ajudaria a frear o derretimento. Os modelos analisados indicam, por exemplo, que manter a taxa de aquecimento global a menos de 1,5ºC até 2100 contribuiria para retardar o degelo no Ártico.