O conflito na Ucrânia revelou desafios importantes para as Forças Armadas no contexto de guerras de alta intensidade. Entre os principais aprendizados está o papel central da batalha e das soluções indiretas de ataque, evidenciando lacunas na prontidão das forças ocidentais para atender às demandas desse tipo de combate.
A experiência ucraniana trouxe tona limitações nas cadeias de suprimentos e na durabilidade de sistemas sofisticados, que precisam ser adaptadas às realidades do campo de batalha.
A importância da artilharia na defesa moderna
Desde a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, os analistas vêm destacando o peso estratégico da artilharia nos conflitos contemporâneos. Esse fato se tornou ainda mais evidente na guerra entre Rússia e Ucrânia, onde aproximadamente 80% das baixas de ambos os lados são atribuídas a ataques de artilharia e mísseis.
Em resposta, a OTAN priorizou o envio de sistemas de artilharia e munições para a Ucrânia. No entanto, anos de foco em conflitos de baixa intensidade deixaram os países ocidentais despreparados para uma guerra prolongada. As cadeias industriais enfrentam dificuldades para atender à crescente demanda, com prazos de entrega de munições de 155 mm chegando a até 20 meses. Essa limitação impacta diretamente a eficácia militar da Ucrânia em sua defesa territorial.
Desafios logísticos e operacionais das Forças Armadas
A experiência no front revelou problemas como a fragilidade de sistemas extremamente sofisticados. Artilharias automáticas, como os obuseiros autopropulsados Panzerhaubitze 2000, apresentam alta sensibilidade à sujeira e à umidade, tornando-as menos confiáveis em condições adversas.
Por outro lado, plataformas mais simples e móveis, como sistemas sobre rodas, são mostradas mais eficazes, oferecendo maior capacidade de deslocamento e evasão contra fogo de contrabateria. Essas características são essenciais para garantir a flexibilidade das Forças Armadas em cenários de combate modernos.
Integração de tecnologia e inteligência na artilharia da Ucrânia
O uso combinado de artilharia com sistemas de inteligência, vigilância e reconhecimento (ISR) foi decisivo para o sucesso da Ucrânia. Como explicou Daniel Rice, assessor especial das Forças Armadas Ucranianas, a utilização de radares avançados, munições guiadas Excalibur e mísseis HARM ajudaram a neutralizar alvos estratégicos russos, como tanques e sistemas de radar, reduzindo significativamente o poder de ocorrência do inimigo.
Esses avanços destacam a necessidade de integrar tecnologia ISR em sistemas de artilharia para ampliar a eficácia na defesa militar e garantir maior letalidade no campo de batalha.
Implicações globais e reavaliação da estratégia militar
A guerra na Ucrânia serviu como um alerta para as nações da OTAN e outros países sobre a importância de equilibrar a inovação tecnológica e a sustentabilidade operacional. Países como a Dinamarca e o Canadá estão revisando suas capacidades de artilharia, enquanto as nações bálticas aumentam a produção de munições e investem em sistemas mais resilientes.
As lições aprendidas mostram que, em guerras de alta intensidade, não é suficiente ter o equipamento mais avançado. É fundamental garantir que as plataformas sejam simples, eficientes e adaptáveis às condições imprevisíveis de combate, garantindo que as Forças Armadas possam manter a sua capacidade de defesa de forma sustentável e eficaz.