Pesquisa do IPESPE coloca Forças Armadas como instituição mais confiável do Brasil
Sabe aquelas pesquisas que mostram como os brasileiros enxergam suas instituições? Pois bem, o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) acaba de divulgar mais um levantamento. Surpreendemente, as Forças Armadas lideram o ranking de confiança da população. Mas será que esse prestígio é tão sólido quanto parece?
Forças Armadas no topo
O estudo, com o título “A democracia que temos e a democracia que queremos”, entrevistou 3 mil pessoas, de todas as regiões do país, entre os dias 30 de novembro e 5 de dezembro. Os resultados apontam que 58% dos entrevistados confiam nas Forças Armadas. Isso coloca Exército, Marinha e Aeronáutica à frente de instituições como igrejas, imprensa, redes sociais e – não surpreendentemente – partidos políticos. Estes últimos costumam invariavelmente estar no fundo do poço em pesquisas desse tipo.
Essa confiança é atribuída ao trabalho das Forças Armadas em prol do país. Atividades como apoio em desastres naturais, missões de paz internacionais e a logística em eleições são exemplos frequentemente citados para justificar essa percepção positiva.
O lado B da confiança
Por mais que esses números sejam impressionantes, não sobrevivem imunes a polêmicas. A credibilidade das Forças Armadas é um tema complexo, principalmente após os últimos anos, marcados por episódios que desgastaram sua imagem em certos setores da sociedade. A atuação de militares em cargos civis durante o governo Bolsonaro, por exemplo, gerou críticas sobre o possível envolvimento político da instituição. Trata-se de algo que, historicamente, as Forças Armadas tentaram evitar desde a redemocratização.
Além disso, surgiram acusações de que a presença militar em órgãos civis teria aumentado a ineficiência e dado margem para polêmicas, como os gastos excessivos com itens supérfluos. Isso levou muitos a questionarem se a confiança na instituição é mesmo homogênea ou se varia conforme o contexto e o público.
Mérito ou tradição?
Vale lembrar que a confiança nas Forças Armadas tem raízes históricas. Desde o fim do regime militar, a instituição conseguiu reconstruir sua imagem como um pilar de estabilidade, mantendo sobretudo certa distância da política. Mas será que isso é mérito exclusivo das Forças ou reflexo da falta de opções? Afinal, quando partidos políticos, redes sociais e até igrejas perdem espaço na opinião pública, as Forças Armadas acabam sendo vistas como um porto seguro – mesmo que nem todos concordem com essa percepção.
Esse não é o primeiro estudo a colocar as Forças Armadas no topo da confiança popular. Levantamentos de outros institutos já apontaram resultados semelhantes, reforçando a ideia de que a instituição ocupa um lugar especial no imaginário nacional. No entanto, as nuances das pesquisas muitas vezes são deixadas de lado: quem são esses 58% que confiam? Jovens, idosos, moradores de grandes centros urbanos ou do interior? E o mais importante: como a confiança muda diante de eventos específicos?
Seja por mérito, tradição ou falta de alternativas, as Forças Armadas continuam sendo um dos poucos pilares estáveis em um cenário institucional desgastado. A pergunta que fica é: essa confiança é suficiente para enfrentar os desafios de um Brasil cada vez mais polarizado?