A crescente tensão no Mediterrâneo central está chamando atenção mundial: a Rússia está transferindo ativos militares da Síria para a Líbia, uma manobra estratégica que preocupa a Itália e ameaça a segurança regional. Essa movimentação, vista como um desafio direto à OTAN e ao Ocidente, pode redesenhar o equilíbrio de poder no Mediterrâneo. Mas o que está por trás dessa estratégia russa? E como países como Itália, Turquia e Estados Unidos estão reagindo?
Nos últimos meses, a Rússia, que mantém bases estratégicas no porto de Tartus e na base aérea de Hmeimim, ambas localizadas na Síria, parece estar redirecionando recursos para a Líbia. Essa decisão ocorre após a fuga de rebeldes do ditador sírio Bashar al-Assad, um aliado de Moscou. Enquanto imagens de satélite mostram navios de guerra deixando Tartus, especula-se que eles possam estar a caminho de Tobruk, um porto estratégico no leste líbio.
Rússia redefine estratégia no Mediterrâneo com foco na Líbia
A presença militar da Rússia na Síria sempre foi central para sua estratégia no Mediterrâneo. Contudo, a crescente instabilidade no país e as limitações operacionais podem estar forçando Moscou a buscar alternativas. A Líbia surge como uma opção atraente, dada a relação próxima com o general Khalifa Haftar, líder do Exército Nacional Líbio (LNA) e figura influente no leste do país.
De acordo com o analista Jalel Harchaoui, há um aumento na movimentação de voos de carga russos para a Líbia, indicando uma intensificação da presença de Moscou no território. “A atividade russa na Líbia tem sido mais intensa ultimamente, com voos diretos da Rússia e Belarus chegando ao país. Embora a Síria tenha sido um ponto de apoio importante, ela não é mais indispensável”, explicou Harchaoui.
Essa movimentação pode ser vista como um esforço da Rússia para compensar uma possível perda de acesso à base de Tartus. Um porto como o de Tobruk garantiria a Moscou a continuidade de sua presença militar no Mediterrâneo, essencial para suas operações e projeção de poder.
Expansão russa na Líbia ameaça segurança regional e preocupa a OTAN
Caso a Rússia estabeleça uma base permanente na Líbia, as implicações para a segurança regional serão profundas. A OTAN e os Estados Unidos já demonstraram preocupação com a possibilidade de uma expansão militar russa tão próxima da Europa. Ben Fishman, especialista do Instituto de Política do Oriente Próximo, destacou que a Rússia já vinha cultivando laços com Haftar, precisamente para cenários como este. “Acredito que os EUA devam monitorar atentamente qualquer evidência de um reforço militar russo, como já fizeram em ocasiões anteriores”, afirmou.
A complexa dinâmica entre Rússia, Haftar e Turquia na Líbia
A situação na Líbia é intrinsecamente complexa. Apesar da cooperação com a Rússia, Haftar historicamente se mostrou resistente a certas exigências que possam comprometer sua autonomia. Analistas como Mohamed Eljarh, do Libya Desk, sugerem que qualquer aumento da presença russa na Líbia será feito por meio de acordos informais. “Embora possa haver uma acomodação temporária para a Rússia, Haftar já deixou claro que há limites para essa parceria”, disse Eljarh.
Outro fator importante é o papel da Turquia, que apoia o governo reconhecido pela ONU em Trípoli. Claudia Gazzini, analista do Crisis Group, destacou que qualquer movimentação russa na Líbia precisará considerar a posição turca. “Não consigo imaginar que turcos e russos não tenham discutido o assunto. Resta saber quais foram os termos dessa conversa”, comentou.
Estratégia russa no Mediterrâneo e desafia o Ocidente
A movimentação de ativos russos para a Líbia aponta para um redesenho estratégico no Mediterrâneo. Essa mudança reforça a influência de Moscou na região e desafia diretamente os interesses ocidentais. Para a Itália e outros países da OTAN, a situação exige vigilância e respostas diplomáticas para evitar a escalada de tensões. Enquanto isso, a Líbia segue como um território estratégico no tabuleiro geopolítico global, onde o equilíbrio de poder continua a ser disputado entre grandes atores internacionais.