Aos 19 anos, o brasileiro Tiago Nunes deixou sua vida, amigos e familiares na sua cidade natal de Rurópolis, no Pará, com destino à Ucrânia. Tiago acreditava que sua coragem poderia fazer diferença em uma guerra que consome países e almas há quase três anos.
No entanto, no dia 28 de novembro, apenas um mês após sua partida, sua jornada chegou ao fim em um campo minado. Agora, seu corpo jaz em um lugar inacessível, enquanto a família aguarda, impotente, por condições que permitam o resgate.
“É um pesadelo do qual não podemos acordar”, lamenta sua prima Beatriz. Rurópolis, a cidade natal de Tiago, tenta lidar com o luto organizando homenagens públicas. Nas redes sociais, a dor é palpável. “Tiago foi um guerreiro. Um herói, mesmo que longe de casa”, escreveu um amigo.
O peso de ser um voluntário estrangeiro na Ucrânia
Tiago era um dos muitos brasileiros que fazem parte da Legião Internacional de Defesa Territorial da Ucrânia, onde voluntários estrangeiros enfrentam condições brutais. O jovem se junta a uma lista crescente de brasileiros que não retornaram vivos. Pelo menos 12 já morreram ou desapareceram. Entre eles, nomes como Antônio Hashitani e Murilo Lopes, tragicamente perdidos em um conflito onde nenhum brasileiro oficialmente deveria estar.
Esses jovens são movidos por ideais, mas também enfrentam realidades que as propagandas omitem. Falta de preparo militar, barreiras culturais, ataques de artilharia, estão entre os problemas frequentes que os voluntários enfrentam. Além, é claro, do desafio que vitimou Tiago: campos minados.
Quando a guerra deixa de ser “lá longe”
A morte de Tiago acontece num momento em que a guerra escala para novo nível, ainda mais perigoso. Recentemente, a Ucrânia passou a utilizar mísseis norte-americanos contra alvos russos. Por sua vez, o presidente russo Vladimir Putin respondeu com ameaças de retaliação global. Além disso, líderes ucranianos, como Valery Zalujny, declaram que o mundo já vive os primeiros capítulos de uma Terceira Guerra Mundial.
Mas para voluntários como Tiago Nunes, essa visão global não elimina as batalhas pessoais. Como tantos outros, o jovem foi seduzido por narrativas heroicas. Em grupos pró-Rússia no Telegram, sua história é distorcida como exemplo de quem subestimou a guerra. De acordo com uma postagem, “[Tiago] acreditava que seria simples. Não era”.
A realidade, porém, vai além de qualquer propaganda. Tiago enfrentava desafios monumentais, desde a falta de treinamento até o peso de decisões impossíveis. “Ele acreditava estar fazendo o certo. Não conseguimos convencê-lo do contrário”, confessa um amigo próximo.
E para as famílias, o que resta?
Para quem fica, como a família de Tiago, resta sobretudo a dor e o vazio. No caso dele, o retorno do corpo ainda é incerto. Campos minados e condições climáticas dificultam até isso. A cada dia que passa, o luto se mistura principalmente com a burocracia e a impotência.
Para o Brasil, a atuação de voluntários como Tiago levanta questões diplomáticas. O Itamaraty permanece em silêncio, mas é inevitável que episódios como esse pressionem as relações entre o país e as nações envolvidas.
A história de Tiago é um lembrete cruel de como conflitos globais podem alcançar jovens sonhadores em qualquer canto do mundo. O jovem buscava algo maior que si mesmo, mas encontrou um destino que desafia qualquer explicação. Sua trajetória é um chamado à reflexão: sobre o peso de ideais, as consequências de decisões e sobretudo o custo humano de uma guerra que não parece ter fim.