Nos últimos 17 meses, em apenas 1 deles a temperatura do planeta não ficou 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. Os dados são da Organização Meteorológica Mundial da ONU (Organização das Nações Unidas). Um grau e meio é justamente o limite estabelecido pela ONU para que a vida na terra continue a ser possível, mas a meta pode estar seriamente comprometida.
A repórter Carolina Cimenti fez uma reportagem sobre o fenômeno para o Jornal Nacional, da TV Globo, exibida no último dia 21 de dezembro, e conversou com diversos especialistas mundo afora para tentar entender por que as temperaturas globais chegaram a níveis nunca vistos tão rapidamente. O ano de 2023 foi o mais quente da história e tudo indica que em 2024 bateremos um novo recorde.
Segundo o cientista da Nasa, Gavin A. Schmidt, há 20, 30 anos atrás, quando se começou a falar sobre aquecimento do planeta, tudo era um mero conceito teórico.
“Algo que acontecia na média global, mas ninguém vive na média global. Agora a gente está vendo isso no clima local, em quase todos os lugares do mundo”.
Segundo Cimenti apurou, existem algumas teorias que tentam explicar por que 2022 e 2023 foram anos extremos. As mais aceitáveis são:
– Existência de menos nuvens em baixa altitude, o que permite maior passagem de raios solares
– Erupção do vulcão submarino Hunga Tonga-Hunga Ha’apai, perto da ilha de Tonga, em janeiro de 2022 no Pacífico, considerada uma das mais fortes do planeta. A erupção tem o potencial de aquecer o globo devido à liberação de gigantesca quantidade de vapor d’água e causar alteração química da atmosfera, enfraquecendo a camada de ozônio
– Ciclo do sol mais forte e curto, marcado por intensa atividade
– Presença do fenômeno El Niño, que aquece a água dos oceanos
Em Nova Iorque, por exemplo, deveria haver neve no mês de dezembro. Mas o que se viu foi um verdadeiro veranico, com temperaturas chegando a 15ºC.
Agora, é preciso esperar de 1 a 2 anos para entender se as temperaturas de 2022 e 2023 foram anômalas ou se esse é o novo normal do planeta. Se a segunda opção se confirmar, a vida na terra corre perigo.
“No mundo 1,5ºC mais quente, 75% dos corais dos oceanos vão morrer. Num mundo 2ºC mais quente não sobra coral pra contar história”, diz a especialista Kristina Dahl, da Climate Central, uma organização sem fins lucrativos que analisa e reporta dados sobre ciência climática.
De acordo com a Noaa (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos), ao menos 25% das espécies marinhas dependem diretamente do ecossistema formado por corais para sobreviver. Sem eles, a economia, a alimentação e até mesmo a vida das pessoas está ameaçada.
Diana Urge-Vorsatz, vice-presidente do Painel Intergovernamental Sobre Mudança do Clima da ONU, argumentou que de fato os dados são preocupantes, mas não podemos nos dar ao luxo de ser otimistas ou pessimistas. Temos que resolver o problema.
“Se seu filho está muito doente você não começa a pensar se vai dar ou não vai dar certo. Você simplesmente faz tudo para que ele melhore”.
Durante a COP29 (Conferência da ONU Mudanças Climáticas ) realizada de 11 a 22 de novembro em Baku, no Azerbaijão, as nações fizeram uma série de acordos para tentar progredir mais rapidamente para reduzir pela metade as emissões globais nesta década, em especial o Brasil e o Reino Unido.
Um dos principais foi triplicar o financiamento para países em desenvolvimento (de US$ 100 bilhões para US$ 300 bilhões de dólares anuais até 2035) para ajudá-los a investir em energia limpa e reduzir drasticamente o uso de combustíveis fósseis.
A COP30, 30ª edição da conferência, será realizada em novembro de 2025 no Brasil, em Belém (PA).