Indicações políticas em órgãos técnicos sob escrutínio em meio a desabamento fatal
O desabamento da ponte Juscelino Kubitschek, que conectava Aguiarnópolis (TO) a Estreito (MA), deixou um rastro de destruição. Ao todo, foram dez mortos e sete desaparecidos, causando indignação sobre a gestão pública no Brasil, sobretudo nas redes sociais. A tragédia, ocorrida no último domingo (22), trouxe à tona uma polêmica recente: a substituição de um engenheiro de carreira por um psicólogo e ex-deputado federal para comandar a superintendência do DNIT no Maranhão. O DNIT é o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Para muitos, a escolha política se tornou o símbolo da mistura imprudente entre interesses partidários e responsabilidades técnicas.
A nomeação controversa e a politização de cargos técnicos
João Marcelo Souza, ex-deputado federal e psicólogo, foi nomeado em dezembro de 2024 para a superintendência do DNIT no Maranhão, substituindo o engenheiro Glauco Silva, um funcionário de carreira do órgão. Souza, que é próximo da família Sarney, contou com o apoio do presidente do MDB, Baleia Rossi. Quem fez sua nomeação foi o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB).
A mudança esbarrou em uma exigência básica do Decreto 10.829/21, que determina formação acadêmica ou experiência técnica compatível para cargos como o de superintendente do DNIT. No entanto, Souza argumentou que sua “ampla experiência política” o qualificava para o posto, citando casos como o de José Serra, que, apesar de não ser médico, foi ministro da Saúde.
A nomeação gerou críticas desde o início, mas o desabamento da ponte amplificou a indignação. Parlamentares da oposição questionaram o abandono de critérios técnicos. Os deputados apontaram que a substituição de Glauco Silva por João Marcelo foi motivada sobretudo por articulações políticas e interesses de aliados regionais, em vez de competência técnica.
A tragédia na ponte Juscelino Kubitschek
Construída na década de 1960, a ponte JK integrava o corredor rodoviário Belém-Brasília. No entanto, a ponte era alvo de críticas há anos. Moradores da região relataram rachaduras e sinais de desgaste na estrutura, divulgando vídeos nas redes sociais que evidenciavam o risco. Um desses vídeos foi gravado apenas um dia antes do desabamento.
Na manhã de domingo, o vão central da ponte desabou, jogando oito veículos no Rio Tocantins, incluindo caminhões que transportavam 76 toneladas de ácido sulfúrico e 22 mil litros de defensivos agrícolas.
O desabamento expôs não apenas falhas na manutenção da ponte, mas também conflitos internos no DNIT. João Marcelo Souza, superintendente no Maranhão, afirmou que a fiscalização da ponte era responsabilidade do DNIT do Tocantins, sob comando de Renan Bezerra de Melo Pereira. Este último, embora engenheiro, está envolvido em um processo judicial por desvio de recursos públicos.
A troca de acusações entre as superintendências escancara o despreparo administrativo e a falta de coordenação no órgão. Para muitos especialistas, a tragédia é o reflexo de uma negligência histórica. Assim, pontes e rodovias estratégicas do Brasil seguem à mercê de disputas políticas e orçamentos insuficientes.