Força proxy e guerra proxy são termos bastante utilizados em analises geopolíticas nos últimos anos. A própria guerra entre Rússia e Ucrânia é apontada por alguns como sendo uma “proxy war”, onde os ucranianos estariam representando os norte-americanos, alemães e ingleses, entre outros. Um estudo recente publicado na Escola de Guerra Naval menciona essa interessante estratégia militar, sendo utilizada pelo Irã. Muita gente ainda se lembra do ataque direto do país contra Israel em abril de 2024, que marcou um ponto de inflexão, ilustrando como suas “forças proxy” e estratégias assimétricas desempenham papéis centrais no equilíbrio de poder regional.
O evento é um dos mais conhecidos que demonstram como o Irã vem utilizando abordagens híbridas para enfrentar adversários mais poderosos, ao mesmo tempo em que evita confrontos diretos sempre que possível. Em seu texto, denominado “A ESTRATÉGIA A2/AD PELA LENTE DA GUERRA HÍBRIDA: O Poder de Adaptação do Irã“, o Capitão de Corveta R. R. A. DE CAMPOS menciona a habilidade dos iranianos em expandir a sua influência na região.
“A Força Quds, em particular, tem a capacidade de expandir sua influência na região, administrando, treinando e planejando o emprego de proxies não apenas por um mero alinhamento de interesses, mas através de laços culturais que transcendem a política. O esforço de se alinhar a um proxy passa por essa análise, superando a mera diplomacia e expandindo os vínculos religiosos e culturais…”
A estratégia de forças proxy e sua eficiência
Forças proxy — definidas como grupos armados apoiados por um Estado para atuar em seus interesses de forma indireta — têm sido de fato um pilar da estratégia iraniana. Essas milícias, financiadas e treinadas pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC), atuam como multiplicadores de força em regiões estratégicas, como Líbano, Síria, Iraque e Iêmen.
O Hezbollah, no Líbano, é o exemplo mais conhecido dessa estratégia, mas o Irã também apoia milícias xiitas no Iraque e grupos insurgentes no Iêmen, como os houthis. A coordenação de operações híbridas por essas forças dá condições ao Irã de projetar poder e manter influência, muitas vezes sem a necessidade de envolver diretamente suas tropas regulares.
A recente ofensiva contra Israel trouxe à tona o uso coordenado dessas forças. Segundo artigo na BBC, foram mais de 300 mísseis de cruzeiro e drones foram lançados contra alvos israelenses, muitos a partir de locais estratégicos como Iraque e Iêmen, o que demonstra a integração regional das proxies iranianas. Apesar de grande parte dos projéteis ter sido interceptada, o ataque enviou uma mensagem clara sobre o alcance e a capacidade do Irã de mobilizar forças descentralizadas contra adversários.
A relevância das forças proxy para a dissuasão iraniana
As forças proxy oferecem ao Irã vantagens estratégicas significativas. Primeiro, permitem a execução de operações ofensivas sem o envolvimento direto do Estado iraniano, reduzindo o risco de represálias diretas contra o território do país. Enquanto países como os Estados Unidos apontam o Irã como patrocinador do terrorismo mundial, outros – como Brasil – mantém relações pacíficas com os iranianos.
Recentemente artigo na Revista Sociedade Militar revelou que militares brasileiros participaram de um evento em homenagem ao Exército Iraniano em um clube militar de Brasília. A participação, registrada em fotografias, acabou gerando críticas e desgaste para as Forças Armadas brasileiras.
Modelo para estados com pouco poder militar
A estratégia iraniana de guerra híbrida, incluindo o uso de forças proxy, segundo a análise publicada na Escola de Guerra Naval, oferece um modelo de dissuasão eficaz para Estados que enfrentam disparidades em poder militar convencional. O ataque de abril de 2024, embora amplamente contido por Israel e seus aliados, demonstrou a resiliência e a flexibilidade tática do Irã, que continua explorando vulnerabilidades regionais e globais. Esse episódio reforça a necessidade de adaptação e inovação nas estratégias de segurança e defesa de países que lidam com adversários assimétricos.
No artigo “Os Houthis e sua influência na geopolítica do Oriente Médio. São um proxy do Irã?”, publicado no site https://www.atitoxavier.com/, há uma análise bem relevante sobre esse tema.
“existem suspeitas que o Irã seja o provedor do apoio logístico aos Houthis, em que pese a negação desse grupo, pois alegam que durante as suas conquistas territoriais, conseguiram acesso aos armamentos do exército iemenita. Apesar da negativa dos Houthis e do Irã sobre a aliança militar, várias fontes e investigações informam que são verdadeiros tais informes, inclusive a presença de integrantes do Hezbollah no apoio ao lado xiita. Sendo assim, os Houthis seriam o proxy (intermediário/aliado) iraniano na região, e o controle do país seria uma ameaça aos países da região e uma vantagem estratégica num possível controle das principais rotas dos petroleiros.”
Forças Proxy e a posição estratégica do Irã no Oriente Médio.
O Irã ilustra como a combinação de estratégias híbridas e a utilização de forças proxy podem ampliar a influência de um Estado, mesmo em contextos de desvantagem tecnológica ou militar. Ao operar em um “teatro expandido” de guerra por procuração, o Irã transforma seus aliados regionais em extensões de sua política externa, garantindo capacidade de resposta e manutenção de sua posição estratégica no Oriente Médio.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar
Fontes: https://www.repositorio.mar.mil.br/bitstream/ripcmb/847399/1/C-EMOS2024_CC_ALVESCAMPOS.pdf