Uma descoberta que reescreve a história geológica do nosso planeta foi recentemente anunciada por cientistas da Universidade de Utrecht. Escondidas nas profundezas do manto terrestre, duas gigantescas “ilhas”, cada uma do tamanho de um continente, foram encontradas. Essa descoberta desafia as teorias mais antigas sobre a composição e dinâmica do interior da Terra.
Essas formações subterrâneas, conhecidas como Grandes Províncias de Baixa Velocidade Sísmica (LLSVPs), estão localizadas sob a África e o Oceano Pacífico e podem ser os maiores segredos do interior do planeta, com idade estimada em pelo menos meio bilhão de anos – mas possivelmente muito mais antigas.
O que são essas mega-ilhas subterrâneas?
Essas regiões, localizadas a mais de dois mil quilômetros abaixo da superfície, foram detectadas através de análises das vibrações geradas por grandes terremotos. Assim como um sino que vibra e emite tons, a Terra “soa” de forma diferente ao passar por essas anomalias. O que os pesquisadores perceberam é que essas áreas fazem as ondas sísmicas desacelerarem, um indício de que são mais quentes que o entorno.
Além disso, ao estudar a energia perdida por essas ondas, os cientistas notaram algo inesperado: as LLSVPs mostram pouco “amortecimento” das ondas sísmicas, algo que só seria possível se essas estruturas fossem compostas de grãos minerais muito grandes, indicando que elas são extremamente antigas e rígidas.
O cemitério das placas tectônicas
Ao redor dessas “mega-ilhas” subterrâneas, há o que os cientistas chamam de “cemitério de placas tectônicas”. Esse é o destino final de placas que mergulham da superfície para o interior da Terra através do processo de subducção – quando uma placa tectônica afunda sob outra. Essas placas frias, fragmentadas e recristalizadas têm grãos pequenos e causam muito mais amortecimento das ondas sísmicas.
Essa diferença significativa entre as LLSVPs e as placas submersas reforça que essas “ilhas” subterrâneas não participam do movimento de convecção do manto – ou seja, elas não são arrastadas ou misturadas como o resto do material. Isso muda completamente a ideia de que o manto da Terra é um ambiente homogêneo e de rápida reciclagem.
Por que essas descobertas são tão importantes?
Entender o manto da Terra é crucial para compreender os fenômenos que ocorrem na superfície, como o surgimento de montanhas e a atividade vulcânica. As chamadas “plumas do manto” – bolhas gigantes de material quente que sobem até a superfície, como em uma lâmpada de lava – parecem se originar nas bordas dessas LLSVPs. É exatamente isso que explica, por exemplo, o vulcanismo no Havaí e em outras regiões isoladas do planeta.
Além disso, a rigidez e a antiguidade dessas estruturas sugerem que as LLSVPs podem conter pistas valiosas sobre a história profunda da Terra, talvez até mesmo informações sobre sua formação inicial.
Como foi possível fazer essa descoberta?
Os cientistas analisaram os dados de terremotos profundos, como o que ocorreu na Bolívia em 1994, a 650 km abaixo da superfície. Mesmo sem causar danos na superfície, esses eventos liberam energia suficiente para fazer a Terra vibrar por dias, permitindo aos sismólogos mapear estruturas ocultas. Dados coletados desde 1975, quando os sismômetros se tornaram mais precisos, foram cruciais para essa pesquisa.
Fonte: SciTechDaily