Manuel Domingos Neto, historiador pela Universidade de Paris, professor aposentado da UFF (Universidade Federal Fluminense) e ex-deputado federal, concedeu extensa entrevista à Agência Pública, divulgada nesta quarta-feira, 8 de janeiro.
Pesquisador do meio militar há mais de 50 anos, ele colocou na conta do poder político a depredação dos 3 poderes há 2 anos com possível idealização e participação de militares das Forças Armadas como parte de um suposto plano de golpe de Estado e disse que para evitar novos 8 de janeiros é preciso estudar e conhecer o militar.
“É preciso de fato comandar as Forças Armadas porque, sem condução civil, aberrações como as que produziram o 8 de janeiro persistirão. Não é possível comandar sem conhecer o meio, que possui suas regras tácitas, seus segredos e sua própria ética – e o militar continuará observando a sociedade com uma visão própria, inerente à sua função”.
Segundo o historiador, é dever do poder político repensar não apenas a formação dos militares, mas principalmente a política de defesa nacional.
“Qual a missão das Forças Armadas e sua disposição pelo território, se deve haver uma diminuição das organizações para que se possa investir em tecnologia, e por aí vai. Só assim mudaremos a mentalidade que muitos deles têm, de sentirem-se mais capacitados que os civis para ditar os rumos do país”.
Perguntado pelo repórter Caio de Freitas se ele enxerga abertura política para isso, Manuel Domingos Neto teceu críticas a José Múcio Monteiro e disse que ele é “ministro entre aspas, não orienta nada” e “apenas um porta-voz dos militares”. O presidente Lula também não foi poupado.
“Enquanto as corporações estiverem com essa autonomia ilimitada, não se pode prever outra coisa senão essa permanente confusão. O que cabe ao poder político é assumir o comando, porque a relação com o militar só pode se dar a partir da hierarquia e da disciplina. A mensagem que se passa quando se designa um mero porta-voz como ministro é de fraqueza, mas isso é algo possível de se recuperar. Basta o presidente da República assumir o comando de fato”.