O USS Enterprise, o primeiro porta-aviões nuclear do mundo, é um símbolo de inovação e poder naval que marcou a história da Marinha dos EUA. Apesar de seu legado inquestionável, o sonho de transformá-lo em museu tornou-se inviável devido a desafios técnicos e ambientais. Este ícone, que participou de missões históricas como a Crise dos Mísseis em Cuba e a Guerra do Vietnã, agora enfrenta um destino complexo, longe de se tornar uma peça de exposição.
Os obstáculos para preservar o porta-aviões USS Enterprise como museu vão além da nostalgia, a Marinha dos EUA enfrenta desafios monumentais para lidar com os oito reatores nucleares integrados à estrutura do navio. Descubra os motivos que impediram essa transformação e como o legado do USS Enterprise continua vivo.
USS Enterprise e seu legado após missão pioneira
Nos anos subsequentes, o USS Enterprise continuou a se destacar. Entre maio e outubro de 1964, ele fez história ao completar a Operação Sea Orbit, circunavegando o globo sem reabastecimento, junto aos navios USS Bainbridge (DLGN-25) e USS Long Beach (CGN-9). Após essa missão pioneira, o navio foi redesignado como CVAN-65. Pouco depois, em novembro de 1965, ele tornou-se o primeiro porta-aviões nuclear a entrar em combate, utilizando suas aeronaves para atacar o Vietcongue durante a Guerra do Vietnã.
No entanto, nem tudo foi marcado por glórias. Em 14 de janeiro de 1969, um grave acidente envolvendo um caça F-4 Phantom II em seu convés de voo resultou na morte de 27 marinheiros e deixou outros 314 feridos. Apesar dessa tragédia, o USS Enterprise passou por reparos e voltou ao serviço. Ele permaneceu em operação no Vietnã até 1973, contribuindo, inclusive, para a evacuação de Saigon em abril de 1975, na Operação Frequent Wind.
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Participação estratégica do porta-aviões USS Enterprise em missões globais
Ao longo das décadas, o USS Enterprise provou ser uma peça-chave em várias operações militares. Durante os anos 1970 e 1980, ele foi essencial em missões nos oceanos Pacífico e Índico. Em 1986, sua atuação no Mediterrâneo durante a Operação El Dorado Canyon, que consistiu no bombardeio à Líbia, reforçou sua importância estratégica. Dois anos depois, ele foi destacado para a Operação Earnest Will, garantindo a escolta de petroleiros kuwaitianos no Golfo Pérsico.
Após uma extensa reforma, o navio voltou ao serviço em setembro de 1994, desempenhando papéis críticos na imposição de zonas de exclusão aérea na Bósnia, com a Operação Joint Endeavor, e no Iraque, na Operação Southern Watch. Em 1998, mais uma vez, comprovou sua eficiência ao atingir alvos estratégicos durante a Operação Desert Fox.
Com o início do combate ao terrorismo, a partir de 2001, o USS Enterprise foi mobilizado para as operações Iraqi Freedom e Enduring Freedom. Ele passou por diversas atualizações e realizou importantes missões até ser desativado oficialmente em 2012. Finalmente, em 3 de fevereiro de 2017, o Big E foi retirado do Registro Naval, encerrando uma carreira que durou mais de 50 anos.
Obstáculos técnicos e legais no descomissionamento do porta-aviões USS Enterprise
Transformar o USS Enterprise em um museu seria um sonho para muitos entusiastas da história naval. Entretanto, desafios técnicos e legais tornam essa ideia impraticável. Andy Burns, ex-oficial da Marinha dos EUA, explicou que navios movidos a energia nuclear, como o USS Enterprise, são construídos ao redor de seus reatores e da maquinaria associada. Portanto, remover os oito reatores nucleares exigiria desmontar a embarcação inteira, tornando o processo invasivo e extremamente caro.
Além disso, as rigorosas leis ambientais dos Estados Unidos proíbem que reatores nucleares permaneçam intactos após o descomissionamento. Assim, tal como ocorre com submarinos nucleares desativados, os reatores precisam ser removidos, selados e transportados para instalações de armazenamento seguro, localizadas no estado de Washington. Esse processo é tecnicamente complexo e legalmente obrigatório.
Por que reconstruir o navio é inviável?
O USS Enterprise difere significativamente dos porta-aviões mais modernos, como os da classe Nimitz, que possuem apenas dois reatores nucleares. Os oito reatores do Big E aumentam drasticamente a complexidade do desmantelamento. Após a remoção dos reatores, qualquer tentativa de remontar o navio seria inviável, tanto financeiramente quanto logisticamente. Por isso, a Marinha dos Estados Unidos optou por desmontá-lo completamente, utilizando a expertise da indústria privada para lidar com sua estrutura única.
Embora o USS Enterprise não possa ser preservado como um museu, seu legado permanece vivo. Suas inovações tecnológicas e contribuições estratégicas continuam a inspirar gerações, simbolizando a supremacia naval dos Estados Unidos em tempos de mudanças globais profundas.