Contrariando todas as informações de bastidores que vem pipocando nos últimos dias, o ministro da Defesa José Múcio Monteiro disse nesta quarta-feira, 8 de janeiro, que “a coisa está a mais pacífica possível” na pasta e que haverá uma grande festa quando o inquérito do suposto plano de golpe de Estado terminar, os culpados forem punidos e a nuvem de suspeição sair de cima dos inocentes.
“É o ministério mais tranquilo que você pode imaginar. Nosso espírito é colaborar”.
A declaração foi dada após a cerimônia que marcou os 2 anos dos ataques às sedes dos 3 Poderes, em Brasília, e que contou também com a participação dos 3 Comandantes das Forças Armadas, entre outras autoridades. A presença de Múcio e dos militares, inclusive, foi nominalmente agradecida pelo presidente Lula em seu discurso.
Segundo reportagem do Valor Econômico, pouco antes da declaração aos jornalistas o ministro foi abordado por uma apoiadora do governo Lula, que apontou para Múcio e exibiu uma bandeira com a palavra democracia.
“Se eu não gostasse de democracia, não estava aqui [no governo] apanhando que só”, teria respondido o ministro.
Apesar do tom de brincadeira, há fundo de verdade na fala de Múcio. Ele deseja deixar o governo devido ao cansaço com episódios como o inquérito da Polícia Federal que indiciou generais e coroneis, os cortes na previdência militar e o vídeo da Marinha ironizando supostos privilégios, que quase causou a demissão do Comandante Marcos Sampaio Olsen e pôs fim à autonomia das Forças Armadas para criar campanhas publicitárias. A cabeça de Múcio também é muito requisitada por membros do Partido dos Trabalhadores, numa espécie de fogo amigo.
Lula teria pedido encarecidamente a Múcio que permaneça no governo até acabarem as turbulências com os militares, o que explicaria os afagos públicos, mas caso o ministro realmente saia o nome mais cotado é o do vice-presidente Geraldo Alckmin.
Nesta quarta-feira, o ministro admitiu aos jornalistas que seus familiares querem que ele passe mais tempo em casa, mas que a conversa definitiva com Lula, a quem destacou ter grande lealdade, ficou para depois.
“Nós ainda estamos conversando. Ele [Lula] é que tem o bilhete de saída (…) Meu partido se chama Lula. Faço o que ele mandar”.
Numa entrevista divulgada hoje pela Agência Pública, o historiador Manuel Domingos Neto, estudioso do meio militar há mais de 50 anos, chamou Múcio de ministro entre aspas e mero porta-voz.