Segundo apuração da UOL, no centro de uma investigação delicada, Marília Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça, fez revelações impactantes à Polícia Federal (PF) sobre as ações de Anderson Torres, ex-ministro do governo Bolsonaro, durante o segundo turno das eleições presidenciais de 2022.
Segundo Marília, Torres teria ordenado um aumento significativo das equipes de segurança nas ruas, tentando alterar o planejamento já estabelecido pela PF. A intenção, de acordo com a PF, era clara: interferir no resultado eleitoral para favorecer o então presidente Jair Bolsonaro. Com base nessas acusações, Torres foi indiciado por supostamente restringir ou dificultar o voto dos eleitores.
Marília, que era uma pessoa de confiança de Torres, afirmou que as ordens para intensificar o policiamento vieram diretamente do ex-ministro, contrariando sua alegação de que ela teria agido por conta própria. O depoimento de Marília, prestado à PF no final de 2024, foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) junto com o relatório final da investigação.
A ex-diretora destacou uma preocupação especial de Torres com o estado da Bahia, onde Lula, o adversário de Bolsonaro, tinha forte apoio. Ela relatou que, após o primeiro turno, Torres reuniu integrantes do ministério e das polícias Federal e Rodoviária Federal para exigir mais policiamento no segundo turno.
Acusações de Manipulação e Reação da Defesa
De acordo com a investigação, Torres se baseou em notícias falsas sobre compra de votos para justificar a intensificação das operações em certas regiões, principalmente na Bahia. Marília detalhou que, durante uma visita à Superintendência da PF na Bahia, Torres pediu um novo planejamento de distribuição dos policiais, sugerindo um redirecionamento das forças para áreas específicas. Contudo, Torres negou as acusações durante seu depoimento à PF, alegando que qualquer sugestão de redistribuição de efetivo foi iniciativa dos seus subordinados, não dele.
Apesar das negativas de Torres, Marília manteve sua versão dos fatos, enfatizando que havia várias testemunhas que podiam corroborar suas declarações. A PF considera as ações descritas por Marília como parte de um ato de violência política, destacando que as ordens de Torres para que policiais agissem ostensivamente perto das sessões eleitorais, especialmente na Bahia, não tinham fundamento técnico.
A PF concluiu que a intenção era influenciar o maior número possível de eleitores, ao mesmo tempo em que justificava as ações com falsas alegações de crimes eleitorais. A defesa de Anderson Torres afirmou que só se pronunciará após analisar o relatório da PF. A defesa de Marília Alencar não respondeu aos contatos, segundo apuração da UOL.