Tá aí uma notícia que faz a gente parar e pensar no tempo que demorou pra algo assim acontecer. Em 20 de janeiro de 2025, o Hospital Militar de Resende (HMR), dentro da tradicional Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), finalmente teve uma mulher assumindo o comando. Essa é a primeira vez que acontece em seus 80 anos de história. E a pioneira é a Coronel Renata Cristina de Almeida Martins Schmidt.
A solenidade e o discurso
A cerimônia, presidida pelo General de Brigada Cesar Uilson Goettems, diretor do Hospital Central do Exército, começou com os rituais de praxe:. Houve a inauguração do retrato do diretor anterior, Coronel Ubiratan de Oliveira Magalhães, e a entrega do distintivo de comando. Foi a despedida formal do coronel, que ressaltou a importância do hospital como parte da AMAN. De acordo com suas palavras, “começa a história do oficialato de carreira das Armas”.
A Coronel Renata, com quase 30 anos de serviço no Exército, foi sucinta e confiante ao assumir o cargo: “Tenho certeza de que será uma missão muito profícua”.
Mulheres e as Forças Armadas: um avanço lento, mas constante
É um avanço importante, mas vamos falar a verdade: demorou, e muito. Apesar de mulheres estarem no Exército desde a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), a atuação delas ficou por décadas limitada à área de saúde. Mesmo assim, em funções de suporte. Foi só durante a Segunda Guerra Mundial que algumas enfermeiras brasileiras ganharam destaque por sua coragem ao apoiar os pracinhas da Força Expedicionária Brasileira na Europa.
Hoje, mulheres ocupam espaços em outras áreas além da saúde, como o Quadro Complementar de Oficiais, Engenharia Militar e Intendência. O mais recente avanço foi a abertura do alistamento militar feminino em 2025. Mas o fato de só agora uma mulher estar dirigindo o Hospital Militar de Resende diz muito sobre o ritmo lento dessas mudanças dentro de uma instituição que, embora essencial, ainda é marcada por uma estrutura profundamente hierárquica e tradicionalista.
A experiência da Coronel Renata
A Coronel Renata não chegou até aqui por sorte. Natural do Rio de Janeiro, ela entrou no Exército em 1999 e construiu uma carreira sólida, passando por lugares como o Hospital de Guarnição de Marabá (PA) e o Posto Médico de Guarnição de Vila Velha (ES). Além disso, esteve em missão de paz no Haiti (MINUSTAH) e ainda atuou como instrutora na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME).
Mas não pense que o caminho foi fácil. Mulheres que atingem esse nível de responsabilidade no Exército, em geral, precisam lidar com desconfianças, pressões e, muitas vezes, ambientes majoritariamente masculinos, onde o machismo ainda persiste, mesmo que de forma velada.
O HMR é uma referência importante para o Sistema de Saúde do Exército na região Sul Fluminense. Ele atende cerca de 100 mil pessoas por ano, oferecendo serviços médicos, odontológicos, fisioterapêuticos, psicológicos e até nutrição.
Por enquanto, o que temos é um marco histórico. A Coronel Renata assumiu seu posto, e o Hospital Militar de Resende tem, pela primeira vez, afinal, uma diretora.