O governo do presidente Lula decidiu suspender temporariamente a licitação do Exército para aquisição de 36 veículos blindados da empresa israelense Elbit Systems, um negócio avaliado em cerca de R$ 1 bilhão. O impasse envolve disputas entre o Ministério da Defesa e o assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim. A questão deixou de ser apenas técnica e agora reflete tensões diplomáticas e geopolíticas.
Uma decisão entre política e defesa militar
A licitação, vencida em abril de 2023 pela Elbit Systems, gerou polêmica dentro do governo. Celso Amorim argumenta que a compra de armamentos de Israel poderia, indiretamente, financiar operações militares contra palestinos na Faixa de Gaza. Este posicionamento vai ao encontro das críticas recorrentes do presidente Lula às ações militares de Israel na região.
Por outro lado, o ministro da Defesa, José Múcio, propôs uma solução intermediária: adquirir parte dos blindados para atender às necessidades do Exército. No entanto, Lula rejeitou a ideia, reforçando sua posição contrária ao negócio. Sem apoio político, Múcio acabou recuando, e a decisão foi adiada.
Em dezembro, o Exército optou por prorrogar o prazo da licitação por mais seis meses, esperando que os desdobramentos do cenário geopolítico internacional ofereçam novas alternativas.
Diplomacia e defesa: um dilema internacional
Embora o Tribunal de Contas da União (TCU) tenha afirmado que não há impedimentos legais para contratos com empresas sediadas em países em conflito, a compra dos blindados ganhou contornos políticos. Amorim tem defendido que decisões dessa magnitude devem considerar os impactos diplomáticos, principalmente após os atritos entre Brasil e Israel.
A relação entre os dois países sofreu um abalo significativo em fevereiro de 2023, quando o então chanceler israelense Israel Katz classificou o presidente Lula como “persona non grata”. A declaração veio após Lula comparar a ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza ao regime nazista, o que gerou forte reação do governo israelense.
Tensões que vão além da compra de blindados
As disputas diplomáticas entre Brasil e Israel se intensificaram ao longo de 2023. Em novembro, Israel Katz assumiu o Ministério da Defesa de Israel, reforçando o tom crítico em relação ao governo brasileiro. Katz chegou a declarar que o Brasil “não será perdoado” enquanto Lula não se retratar pelas declarações feitas sobre os ataques em Gaza.
Um dos episódios mais simbólicos dessa tensão ocorreu quando Katz exigiu que o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, assistisse a um sermão no Museu do Holocausto. A situação foi vista por Celso Amorim como uma humilhação pública, aumentando o desgaste diplomático.