Intervenção MILITAR não é desejável, diz defesa.
Revista Sociedade Militar -. Diante da crise militar em vários estados, com destaque negativo para Rio de janeiro e Espírito Santo, onde já se percebe divisões dentro das instituições de segurança e agravamento da crise institucional que assola os poderes constituidos é de bom tom relembrar texto publicado pelo Ministro da DEFESA faz exatamente um ano, em fev de 2016. O material mostra a real apreensão por parte dos militares federais de que o caos se instale no pais, o que demandaria uma ação em gigantesca escala por parte das Forças Armadas. Comandantes declaram desde já que não apoiarão "aventuras institucionais de qualquer das partes envolvidas".
No Espírito Santo a imprensa já chama de MOTIM o movimento dos militares estaduais e ha indícios de que policiais de outros estados podem realizar movimentos em apoio aos colegas capixabas. A inabilidade dos governantes e "negociadores" fez com que, como sempre, se aproveitando da condição de militares dos policiais, ameaças de prisões e expulsões fossem feitas contra a categoria.
No RIO os policiais do CHOQUE, bastante criticados pelos colegas por reprimirem manifestações anti-governo têm aos poucos se incorporado ao movimento dos familiares.
As crises vêm se acentuando e indiscutivelmente foram causadas pelos atores políticos que ocuparam recentemente e/ou ainda ocupam o poder.
Nos últimos meses vários militares do alto escalão das Forças Armadas expressaram seu descontentamento por conta da crise “ética e moral” causada pela classe política brasileira. O Comandante do Exército em especial é um dos que mais se opõe às solicitações para que os militares assumam o controle do país e coloquem “ordem na casa”.
Vejam o texto, publicado em fevereiro de 2016, bastante interessante para quem acompanha o desenrolar da crise no país.
Raul Jungmann
"O principal juízo dos militares sobre a crise parte da constatação de que os atores políticos, legitimados pelo voto para apontar e construir os caminhos da solução, abdicaram do papel que o grave momento nacional lhes reserva e reduziram as enormes dificuldades que se abatem sobre nós a mera luta pelo poder, na sua expressão mais primária. E ao esforço de preservação de biografias que a cada dia se mostram mais indefensáveis.
Reclamam, em síntese, da inexistência de vontade política para o enfrentamento efetivo dos problemas e, em consequência, da incompreensível subordinação das razões de Estado às conveniências político-partidárias.
A visão que eles têm da crise atual pode ser assim resumida:
a. Estão fechados com o que diz a Constituição e seu papel por ela definido. Nas suas palavras, nada farão fora do que diz o "livrinho" – nem para por, nem para tirar ninguém. Também não aceitarão ou apoiarão aventuras institucionais de qualquer das partes envolvidas;
b. Entendem, tendo em vista o aprofundamento social e econômico da crise, que cabe aos políticos sua rápida resolução, antes que ela se agrave ainda mais; e
c. Estão preocupados com a perspectiva de, não revertido o quadro de deterioração em curso, se verem convocados a intervir em nome da Garantia da Lei e da Ordem – GLO, art. 142, caput, da CF.
Convenhamos, a conjuntura lhes dá razão quanto ao temor de um descontrole. O crescente desemprego, a recessão, inflação, colapso fiscal de estados e municípios justifica a preocupação. Ademais, a perspectiva inédita de três anos de recessão, associada à vertiginosa perda de legitimidade do sistema político, de corrupção endêmica do governo e de parte do parlamento, somadas a amplas manifestações via redes sociais, torna cinzento nosso futuro.
Esse quadro poderia ser saneado se a política não fosse refém dela própria, como já dissemos anteriormente.
Isto porque a crise é sobretudo política e da política, na sua relação incestuosa com o capital privado e patrimonialista com o Estado, aprofundada e acelerada à metástase pelos governos do PT e aliados, os principais responsáveis diretos pelo que ai está.
Diferentemente do que se passou em vários momentos da nossa história desde a crise de 1868, quando Caxias promoveu a queda do gabinete liberal do Segundo Reinado, inexiste projeto de tutela dos militares sobre as decisões ou rumos políticos do pais..
Hoje, os militares não desejam o poder ou identificam motivos para nele interferir, o que contribui decisivamente para nossa estabilidade democrática. Porém, temem que a irresolução da crise e seu agravamento os tire dos quartéis, onde cumprem com disciplina e compromisso seus deveres profissionais e institucionais."
Raul Jungmann
Publicado na rede social do Ministro da Defesa – Reprodução de Revista Sociedade Militar