Dividindo os quartéis. Generais estão aterrorizados diante da possibilidade de FRACASSO da estratégia para aprovar o PL1645/2019, batizado de reestruturação
Todo o discurso muito bem montado para convencer políticos e sociedade de que a reestruturação seria o esforço de todos militares para contribuir com a previdência foi jogado por terra no momento em que se descobriu que oficiais generais na verdade tentavam dar a si próprios um reajuste de salário que os faria alcançar o tão sonhado teto remuneratório do estado brasileiro, deixando alguns de seus subordinados, principalmente os que estão na base da pirâmide hierárquica, com o ônus da coisa.
Uma das primeiras pistas de que a coisa não era somente um esforço para contribuir foi dada pelo general Heleno. Alguns dias após a proposta ser apresentada pelo governo federal o militar deu entrevistas reclamando de que recebia uma miséria, que tinha vergonha de falar para o filho que somente recebe 19 mil reais de salário.
À Revista ÉPOCA ele declarou: “Eu tenho vergonha do que eu recebo do Exército, isso eu tenho vergonha. Se eu mostrar pro meu filho que eu sou general de Exército, e ganho líquido R$ 19.000, eu tenho vergonha”.
Obrigados a procurar o PT, o partido também já tem um requerimento para levar o PL1645 para o plenário
O estadão dessa segunda-feira informa que o Ministério da Defesa se reunirá com o Partido dos Trabalhadores.
“Nesta terça-feira, dia 15, por exemplo, vai receber a do PT. Quer convencer os partidos a aprovar o projeto. O PT já colheu as 54 assinaturas de sua bancada para levar o projeto de lei da Comissão Especial, diz o jornal.
Quem não é militar e lê o projeto de lei 1645/2019 tem uma grande chance de se perder em meio ao emaranhado de termos militares inseridos ali. O próprio relator do projeto vez por outra dá declarações descabidas, mostrando que ainda confunde militares dos quadros especiais, oriundos do serviço militar obrigatório, com subtenentes da FAB e Marinha do Brasil, que são concursados.
Um dos grandes absurdos apontados no projeto é uma gratificação de representação que somente alcança os oficiais generais, sendo que todos os militares são obrigados por lei a representar bem as forças armadas.
O projeto de lei traz em si um item que por si só destrói a argumentação dos comandantes de que a coisa e boa para todos os militares. Uma regra chamada VPNI (Vantagem Pessoal Nominalmente Identificada)
“Sua inclusão no projeto de lei é uma indicação segura de que as alterações que estão sendo propostas não beneficiarão todos os militares, pois a previsão de uma VPNI para compensar decréscimos remuneratórios revela que alguns postos e graduações terão ou poderão ter perdas. “, diz um estudo técnico elaborado pela própria Câmara dos Deputados.
Divisão nas forças armadas
Nessa segunda-feira, véspera da reunião da comissão especial que estuda o PL1645, o Estado de São Paulo publicou artigo onde um coronel entrevistado dá declarações importantes, além de dizer que a proposta do governo tem como um de seus objetivos conquistar maior apoio da parte do comando das forças armadas, o militar deixa claro que os generais estão preocupados porque a esquerda resolveu comprar a briga dos graduados.
O Estadão disse: “A esquerda quer discutir os privilégios dos generais e os salários das praças. A cúpula militar vê nisso manobra para dividir as Forças Armadas.”
Quem não sabia que isso poderia ocorrer? Talvez só os generais. A história do país mostra que todas as vezes em que houve conflitos entre praças e oficialidade a esquerda de alguma forma passou a ser um dos protagonistas a favor dos graduados. A cúpula das Forças Armadas aparentemente até o último minuto acreditou que seu status impediria que a balança tendesse para o lado dos graduados. Não economizaram na distribuição de medalhas para deputados e senadores, mas a coisa aparentemente não surtiu muito efeito.
O que se ouve nos corredores do Congresso Nacional é que o projeto de lei deve ser aprovado pela comissão especial, mas que – por conta de requerimentos a ser apresentados pela oposição – deve mesmo ir para apreciação do PLENÁRIO da Câmara dos Deputados. Se isso ocorrer todos vão interpretar a coisa como uma grande derrota do governo, do relator Vinicius de Carvalho e – pior – dos comandantes das Forças Armadas, que o escolheram, segundo ele mesmo admitiu em declaração feita na Câmara dos Deputados.
Bolsonaro, pelo que se crê, confiou nos comandantes e acreditou que o projeto de reestruturação seria justo para com todas as categorias de militares, na ativa e na reserva. Há alguns militares, incluindo lideres de associações, que acreditam que o presidente vai vetar o PL1645 se for para sanção da forma em que se encontra.
Militares nas redes sociais defendem que tudo poderia ser mais simples se o governo, após aumentar de forma igual os descontos para a “proteção social” e pensão militar, concedesse um reajuste nos soldos com o mesmo percentual para todos os militares, fazendo então com que todos fossem tratados de forma igualitária.
“percentual igual de reajuste faria com que quem tem soldo maior continuasse recebendo mais, isso seria justo…”, diz um sargento
Robson Augusto – Jornalista, cientista social, militar R1.
Revista Sociedade Militar