COMPARANDO MARINHAS E APONTANDO ROTAS
Esta abordagem parte de algumas premissas com vistas a se visualizar o que se espera da MB até o final do século. A primeira premissa se refere ao imaginário do País em termos de poder militar, que privilegia a defesa nacional ao invés da projeção de poder, não nos interessando nenhuma guerra de conquista, na medida em que os recursos invejáveis do território são bastantes para a nação brasileira, de País que reconhece e valoriza acima de tudo a tão decantada “autodeterminação dos povos”.
A segunda se reporta a quem é capaz de nos ameaçar, não existindo na latino américa quem o faça, o que não se pode dizer entretanto quando se raciocina com os “grandes predadores militares”, EUA, Rússia, Reino Unido, França e China, com maior probabilidade pelos três países integrantes da “OTAN” pela maior proximidade, isto sem falar nas “cabeças de ponte” naturais representadas por antigos enclaves territoriais e na projeção dessas potências sobre o Mar do Caribe, que se prolonga para o Atlântico Sul.
A terceira insere a ideia de que o primeiro degrau para se atingir um estágio de dissuasão extra regional passa primeiro pela França e pelo Reino Unido, grandes potencias militares que, se de fato confrontadas por poder de combate compatível de nossa parte, poderia representar algo de concreto de molde a, pelo menos, constranger/inibir poderes militares superiores.
A quarta é ancorada no pensamento do General Baufre, introdutor das ideia de dissuasão ou ação como estratégias opcionais. O Brasil tem maior inclinação pela primeira por ser menos agressiva que a segunda e, portanto, mais coerente com o perfil pacífico e o histórico das nossas relações internacionais (ver General Rocha Paiva em “Defesa Nacional Para o Século 21”).
A quinta parte do princípio de que as hipóteses de guerra, com qualquer país de língua espanhola da sul América, são por demais remotas se considerados os desígnios do trinômio MERCOSUL/UNASUL/CDS, com emprego de forças aéreas muito mais provável no caso de uma ameaça por forças de uma “coalizão de soldados universais”, esta que só seria lograda em caso do insucesso do emprego dos meios de foguetes e mísseis (estes a cargo do EB e da MB) e do emprego da FAB ou força aeronaval (essa desde que incrementada/reforçada com os F5 modernizados, a serem desincorporados pela Força Aérea com a chegada dos GRIPEN) ao longo da Amazônia azul .
Considerando o mesmo livro já mencionado, seu capítulo “11” apresenta o seguinte cenário numérico para as marinhas do Brasil, França e Grã-Bretanha, cabendo informar que não é considerada a totalidade dos navios de cada País, mas, apenas e tão somente, os que serão eminentemente empregados em batalhas navais. Assim sendo, no total de “102” navios da MB, apenas os de combate no mar estão computados.
Os navios de escolta do Brasil (fragata/destroier} são nove fragatas mais cinco corvetas, constando que, atualmente operativas, somem apenas sete fragatas e três corvetas. Os submarinos convencionais são cinco, todos defasados no tempo e no espaço, que não disparam mísseis na situação de submersos. A força aeronaval possui vinte e três aviões de ataque/caças todos defasados no tempo e no espaço, passando por remodelação/modernização, sendo contraditórios os informes das fontes sobre quantos ainda estão decolando. O navio aeródromo acabou de ser desincorporado, seguindo o mesmo destino melancólico do primeiro, sendo comprado novamente (é de pasmar) um porta-helicópteros!?
Quanto às demais marinhas em avaliação, a da França, justo a grande potência militar que costuma contestar a nossa soberania na Amazônia, suas fragatas/destroier são vinte e três, salvo melhor juízo, todas artilhadas com foguetes e misseis. Seus submarinos nucleares somam nove, sem informação sobre submarinos convencionais. Seus aeródromos são três, sendo dois porta-helicópteros, uma força aeronaval com “102”” aviões de ataque. Já a Grã-Bretanha soma dezessete fragatas e oito destroieres, salvo melhor juízo, os vinte e cinco artilhados com foguetes e mísseis. Os submarinos nucleares são seis, sem informação sobre convencionais. Sua força aeronaval está em reestruturação (aeródromo e aviões de ataque).
Os dados apresentados no seguimento são de “2013”. Os pontos a ponderar são decisivos. Para que se tenha uma ideia, as fragatas Niterói, Defensora, Constituição, Liberal, Independência e União, todas da “classe Niterói”, uma está sendo canibalizada, outra inoperante e quatro operando com diferentes níveis de restrições. As fragatas Bosísio, Greenhalgh e Rademaker, estas da “classe Greenhalgh”, uma delas estaria inoperante e outra operando com restrições. As corvetas Jaceguai, Inhahúma e Júlio de Noronha, todas da “classe Inhaúma”, estão em situação não operacional, restando as demais (apenas”2″), uma operando com restrições e a corveta Barroso, que apresenta índice de operacionalidade aproximado dos 100%. Pelo menos, nas “5” fragatas e “2” corvetas que estão operativas, já foi instalado o sistema para disparo do míssil “EXOCET” (ou do MANDSUP), de tecnologia/fabricação/produção dominadas pela MB e AVIBRÁS? Em quanto tempo se poderia concretizar o acoplamento de uma plataforma de “ASTROS II” em cada navio de escolta para alongar o alcance ínfimo do AVM-300, pelo menos nos que não estão ainda no estaleiro?
Os cinco submarinos (“1” da classe Tikuna e “4” da classe Tupi), movidos à energia diesel/elétrica estariam todos operativos? Se positivo, com que percentual de restrições? Seria possível repotencializar esses submergíveis de forma a capacitá-los ao disparo de mísseis na situação de submersos? Até que ponto seria imprescindível uma segunda esquadra para o nordeste? A escolta atual, mais a flotillha de submarinos, se dotada de mísseis de cruzeiro com alcance de 1500/2500 km, não supriria de imediato, com menor gasto, a segunda esquadra? Sim porque já tem alguns “Nelsons” pensando em até mais “30” navios patrulha? Armados com que? Apenas com canhão e metralhadoras coaxiais? Meu Deus! O tempo da “Batalha da Jutlândia” já ficou muito tempo para trás?
E o devaneio do “BAHIA”, o navio anfíbio de multipropósito da classe “FOUDRE”? Já foi ponderado o quanto se poderia ter conseguido para serem diminuídas as carências, realmente urgentes e emergenciais, levantadas nos questionamentos anteriores, se esta aquisição não tivesse sido concretizada? Desembarques no Oceano Pacífico? Então por que não na Amazônia? Os fuzileiros precisam de maior protagonismo no “ïnferno verde” … Ah! Mas, quem sabe, fora das águas territoriais, Guadalcanal, Ânzio? Meu Deus do céu! Quanto devaneio! É procurar confusão desnecessária… A grande interrogação que permanece, que não cala, que se impõe, se resume apenas e tão somente na seguinte: – “A nossa Marinha de Guerra pode enfrentar as esquadras dos “grandes predadores navais” com seu atual potencial de fogo?
As sugestões a seguir necessitam de avaliação, no detalhe, pelos oficiais de nossa Marinha, sempre levando em consideração as premissas iniciais e que o objetivo desta matéria é, no mais curto prazo, motivar nossa Força Naval a atingir o tão almejado “estágio de dissuasão extra regional”, de modo a navegar sem destemor no único teatro de operações navais que interessa para a defesa nacional e manutenção de nossa soberania plena, o Atlântico Sul. Com relação a navios aeródromos, apagar para este tipo belonave para que a força aeronaval possa assumir realmente o protagonismo que lhe cabe na extensão de todo um litoral/costa, decolando, sim, de bases aeronavais instaladas em Belém/PA (face à foz do Amazonas), Natal /RN (saliente nordestino), São Pedro da Aldeia/RJ e Santos/SP ( bacias pré sálicas). Substituir, no mais curto prazo, os caças em desuso, inicialmente pelos “F-5” da FAB (são mais do que cinquenta), pelo menos até que o caça “GRIPEN” passe a ser recebido, também, pela Marinha. A substituição é de “graça”, constituindo solução, quase que imediata, para manutenção de nossos pilotos aeronavais em constante adestramento.
A propósito, faz-se necessário ponderar o gasto que deve ter primazia em termos de aeronaves. para nossas necessidades prementes, devendo os aviões de caça serem priorizados, e muito bem priorizados, ao invés de helicópteros. Com relação aos navios de escolta, aumentar, no mais curto prazo, o seu poder de fogo, pela instalação, inicialmente, de uma seção de ASTROS II com o “AVM-300″, até que esses ” busca pés” (que só alcançam 300 km) possam ser substituídos pelos “VDR-vetores de respeito” 1500/2500 km, que já devem ter sido encomendados à ” ÁVIBRÁS”. Não jogar dinheiro fora pela escotilha comprando mais navios patrulha com canhõezinhos e metralhadoras coaxiais. Isto não dissuade “bucaneiros ingleses e franceses”… Por favor não vamos raciocinar com esquadras latino americanas. Quanto aos submarinos, até que nosso “nuclear” chegue, capacitar os convencionais ao lançamento de foguetes e mísseis na situação de submersos. Marinha Sempre! Brasil Acima de Tudo!
POR PAULO RICARDO DA ROCHA PAIVA
CORONEL DE INFANTARIA E ESTADO-MAIOR REFORMADO
PÓS GRADUADO, STRICTO SENSU, EM APLICAÇÕES, PLANEJAMENTO E ESTUDOS MILITARES PELA ESCEME – Publicado em Revista Sociedade Militar