Atração pelo Poder
Sim, o que estava previsto está acontecendo, Golbery do Couto e Silva caso estivesse vivo estaria incomodado por conta da atração que alguns oficiais generais têm pelo poder ou por no mínimo influir sobre aqueles que ocupam as cúpulas das estruturas políticas. Isso tem feito com que as Forças Armadas cada vez mais tenham “cara de governo”, o que pode ter consequências trágicas para as instituições ainda a curto ou médio prazo.
O mais evidente, o que percebemos todos os dias no noticiário, é a perda de status das Forças Armadas diante da classe política e da própria sociedade brasileira. Dificuldades extremas no que diz respeito a reajustes para a tropa e orçamento para a manutenção também podem estar por vir caso o próximo governo seja de um viés diverso do atual.
O general Ramos chegou ao ponto de quase ser intimado pelos colegas a pedir sua transferência para a reserva remunerada, já que sua atuação na articulação política como ministro da Secretaria de Governo, sendo um general da ativa, acabava deixando a força terrestre em situação complicada. Na semana passada, já na reserva mas ainda sendo chamado de general, seu nome foi citado na grande mídia como Maria FOFOCA, o que é terrível para as instituições militares.
O mesmo drama já vive o general de divisão Eduardo Pazuello, atual Ministro da Saúde. Caso Bolsonaro não seja reeleito é obvio que o oficial não poderá continuar no serviço ativo do Exército Brasileiro.
Um dos autores que em tese deveria estar no DNA dos generais Brasileiros, que se dizem conservadores – Samuel Huntington – deixa bem claro que as Forças Armadas devem ser um instrumento do Estado e jamais o contrário. A alta oficialidade brasileira por meio de afagos como jantares, medalhas e títulos de nobreza, claramente tenta cooptar a cúpula dos poderes e a pergunta que vem a seguir é: qual o motivo de tentarem fazer isso? A resposta pode ser: querem aumentar sua influência, querem ser os próximos a se assentar nas mesas dos “príncipes”, querem deixar de ser instrumento para passar a ser os instrumentadores, querem ser aqueles que efetivamente dizem o que deve ser feito e – desde sempre – nenhum mandatário adepto da democracia admite isso.
Se Jair Bolsonaro trata generais como soldados, como disse recentemente o Antagonista, é porque certamente estão querendo dar as cartas, estão extrapolando.
Quem pensa que isso é algo novo se engana diametralmente, não é de hoje que vemos militares sendo escorraçados, colocados em seu devido lugar por governantes brasileiros. Conta a história que Dilma Rousseff expulsou um general de quatro estrelas de um elevador, outro governante chamava os comandantes das Forças Armadas de três patetas e muito recentemente um senador chamou um general de GENERAL DE MERDA.
As Forças Armadas, como sempre, não reagiram a altura, não emitiram notas de desagrado e sequer ingressaram na justiça com vistas a exigir reparações pelas muitas humilhações.
Olavo de Carvalho:
O filósofo Olavo de Carvalho durante muito tempo criticou as instituições militares justamente porque acatavam caladas a tentativa de reescrever a história e toda sorte de ofensas e humilhações advindas de políticos dos mais diferentes vieses ideológicos desse país, o que fez com que se tornasse até uma espécie de modismo atacar as Forças Armadas e humilhar generais não só do passado mas também do presente.
A legislação brasileira deixa claro que se um oficial general estiver exercendo um cargo de natureza civil, como MINISTRO, DEPUTADO, VICE-PRESIDENTE e outros, está PROIBIDO de usar de designações hierárquicas. Qual objetivo teria essa determinação que não fosse DESVINCULAR as instituições militares das atividades, interações e decisões, corretas ou não, ligadas aos militares nomeados para cargos exercidos fora da caserna?
Estatuto dos Militares
Infelizmente essa norma não tem sido cumprida. Aparentemente não querem largar o “pré-nome” general de forma alguma, talvez isso facilite em alguma coisa, talvez gere certo temor reverencial em adversários políticos, sabe-se lá o os motivos. Mas, enfim, o que se sabe é que, lamentavelmente, tem se observado que generais-ministros, generais-chefe, generais-deputados e general-qualquer função arrastam o nome das FORÇAS ARMADAS cada vez mais para dentro dos noticiários.
Robson Augusto / Revista Sociedade Militar