ALMIRANTE-DE-ESQUADRA EDUARDO BACELLAR LEAL FERREIRA
FONTE A segunda esquadra, a Amazônia e o Atlântico Sul – Bonifácio (bonifacio.net.br)
FONTE – Há mais de 150 anos que a Marinha está presente nos rios amazônicos, provendo assistência medica e social a populações ribeirinhas carentes, levando a presença do Estado aos mais longínquos rincões, apoiando os pelotões do Exército que guarnecem nossas fronteiras e, com as demais Forças Armadas, garantindo a nossa soberania naquele espaço. Nas áreas marítimas adjacentes, a Marinha também atua, preservando a segurança da navegação, fazendo a patrulha naval, e impedindo que frotas pesqueiras estrangeiras operem ilegalmente em nossas águas jurisdicionais.
PRRP – Nossa MB, como sempre, cumprindo sua missão desde o Império. Naquele tempo de glória como a terceira Marinha do mundo e, hoje, sómente Deus sabe com que sacrifícios.
FONTE – O Brasil está, potencialmente, capaz de controlar o acesso sul ao “Lago Atlântico”.
PRRP – Pode estar “potencialmente”, mas não tem esse poder concretizado/viabilizado por força da sua incapacidade de dissuasão contra as grandes potências navais extrarregionais.
FONTE – Ao longo dos últimos anos, muito se tem discutido sobre a constituição de uma Esquadra na Costa Norte, a chamada Segunda Esquadra, apoiada por uma Base Naval capaz de atender às necessidades logísticas decorrentes. Inúmeras são as razões que justificam uma maior presença do Poder Naval Brasileiro na região. A primeira, e sem dúvida a mais relevante, é a proteção da foz do Rio Amazonas, impedindo que forças de potências hostis com pretensões intervencionistas tenham acesso pelo mar à vasta e ainda pouco conhecida Amazônia.
Adicionalmente, e para além da preservação da integridade territorial, uma série de atividades no norte do país requerem, para poderem subsistir e crescer, que nossos interesses marítimos sejam plenamente garantidos, o que reforça o argumento para o estacionamento de uma Força Naval na área.
PRRP – Até agora, “com todas as honras e sinais de respeito”, mas não há notícia/relato sobre nenhuma força de potência hostil que tenha se apresentado com pretensões intervencionistas, provenientes pelo mar à nossa grande região norte, não se podendo, por isso mesmo, garantir que a proteção da foz do Amazonas, com os atuais meios navais disponíveis, venha a ser lograda com sucesso. A pergunta que se faz é, com que poder de fogo esta segunda esquadra será contemplada para, de forma concreta, se proteger a referida foz com a mínima chance de sucesso? Alguém já pensou nisso? Com a artilharia prevista para os escoltas do Projeto Tamandaré, esta proteção já está comprometida.
FONTE – Inicialmente temos a enorme produção agropecuária no Centro-Oeste brasileiro, em constante expansão, e que deveria ter na malha hidroviária da Bacia Amazônica seu escoadouro natural. Não é racional, e com certeza trata-se de opção muito mais cara, levar essa produção para Santos e Paranaguá e de lá embarcá-la para os portos europeus e asiáticos. Com alguns investimentos na infraestrutura, sairá muito mais barato fazê-lo a partir dos terminais ao longo do Amazonas e seus afluentes. Esta opção, que certamente acabará por prevalecer, provocará um aumento do tráfego marítimo que liga a foz do Amazonas aos portos estrangeiros, tráfego esse que precisará ser protegido, especialmente em caso de crise ou conflito. O mesmo se dá com a exportação de minerais. O porto de Itaqui já é um dos maiores terminais do mundo e ao longo da calha do Amazonas e seus afluentes é crescente a movimentação de navios empregados no transporte de produtos metalúrgicos e suas matérias primas.
PRRP – Uma constatação seguida de conclusão lógica, clara, indiscutível e insofismável, mas que não pode ficar apenas na intenção semântica das palavras, merecendo ser encarada com responsabilidade, força de vontade e muita determinação, por todos quantos têm o direito e, sobretudo, o dever de fazê-lo pelo para o cumprimento da missão a contento por nossos marinheiros. Atualmente, não há como proteger nosso tráfego marítimo contra oponentes que, concretamente, possam ameaçá-lo.
FONTE – Conforme formos conhecendo e explorando mais a Amazônia, seremos capazes de, com sustentabilidade e resguardando sua enorme biodiversidade, desenvolver projetos que levem o progresso à população, hoje tão destituída. O rio, e a partir dele o Oceano Atlântico, é o caminho natural para o escoamento de todas as riquezas que virão a ser produzidas.
Por fim, não poderia deixar de citar um aspecto geopolítico que por si só justifica a fixação de uma boa capacidade naval na Região Norte. Se observarmos o mapa do Oceano Atlântico acima da linha Natal-Dakar veremos que ele tem a forma de um retângulo. O Brasil ocupa quase metade de um dos lados desse retângulo, estando em uma posição que o torna, potencialmente, capaz de controlar o acesso sul ao “Lago Atlântico” e, em menor escala, interferir com o Canal do Panamá. Em caso de conflito internacional na área, seremos afetados e provavelmente, querendo ou não, tal qual nas Guerras Mundiais do século passado, acabaremos por envolver-nos nas hostilidades
PRRP – Mais uma razão para fortalecermos nossos fragilíssimos “escoltas”, hoje tão somente dotados com mísseis antinavio limitados até 70 km. Todos os dez estão carentes de vetores de cruzeiro, no mínimo, com 1500/2500 km de alcance, sem limite de carga. Na medida em que a distância entre a Ponta Seixas/PB e o continente africano medeia os 2.850 km, a costa africana poderia ser batida/coberta com nossas belonaves já em alto mar. Não jogar com esses dados, não há como desdizer, será navegar para não voltar.
FONTE – As restrições orçamentárias por demais conhecidas e a necessidade de priorizar a construção dos submarinos e corvetas, meios essenciais sem os quais sequer podemos falar em Poder Naval, levaram ao postergamento dos projetos da chamada “Segunda Esquadra” e da sua Base Naval. No entanto, tenho certeza que haverá o momento em que poderemos retomá-los, muito possivelmente iniciando pela Base Naval, já que com um bom ponto de apoio logístico pode-se deslocar uma Força Naval para a área a qualquer momento. A Marinha obteve um excelente terreno na Baia de São Marcos, o qual oferece boas condições de instalação da Base, quando assim for decidido.
PRRP – Uma outra linha-de-ação que mereceria atenção seria: armar primeiro os escoltas e submarinos de que dispomos com poder de fogo superior, vetores de cruzeiro 1500’2500 km fabricados pela AVIBRÁS, sem desativá-los, belonaves que seriam mantidas na primeira esquadra; fazer o mesmo com as “4/5” fragatas previstas no Projeto Tamandaré e com os “6” submarinos programados/previstos, meios que seriam destinados para incorporar em uma segunda esquadra a ser baseada no NORTE/NORDESTE. Quanto às belonaves novas, todas, é o que se espera, impõem- sejam armadas também com esse poder de fogo alado imprescindível, e isto para se começar a pensar em dissuasão extrarregional. Quem viu na “TV” o lançamento do foguete norte coreano emergindo ameaçadoramente do fundo do mar sabe muito bem do que se está falando. Que seja enfatizado, o atual Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM) prevendo a obtenção, por construção, de somente quatro/cinco navios escolta até o ano de 2025, é claramente insuficiente para substituir os 10 navios que serão desincorporados nesse período. Desta forma, somá-los aos veteranos, desde que todos sejam dotados com mísseis e foguetes de cruzeiro, com certeza, será de substancial significado para manutenção/evidência do almejado estágio de dissuasão extrarregional. Marinha Sempre! Brasil Acima de Tudo!
Paulo Ricardo da Rocha Paiva / Coronel de Infantaria e Estado-Maior