Entre a mentira e a afronta
A conta da politização chegou para as Forças Armadas
Em artigo¹ publicado na Revista Sociedade Militar em novembro do ano passado, fizemos um apanhado rápido da política desastrada de Bolsonaro em fazer das FA o seu palanque particular. Personalidade intratável, mesmo entre seus pares na Câmara, desprovido de um mínimo de carisma, necessário para atrair competências, Bolsonaro formou uma equipe recheada de velhos conhecidos da caserna, ávidos por poder, e alguns novos incautos que toparam a aventura de serem seus títeres. As consequências dessa excessiva exploração midiática das instituições militares começam a surgir.
Qualquer um que não seja analfabeto em história do Brasil sabe que a Nação deve, e muito, às Forças Armadas, e especialmente ao Exército Brasileiro. Não fosse a presença forte e amiga dos nossos soldados de selva nos rincões mais obscuros do País, principalmente nas fronteiras, talvez a unidade nacional restasse prejudicada. Isso é um fato histórico inatacável. Porém, as instituições, por melhores que sejam, são feitas de homens e portanto são falhas. Todo o bom trabalho feito pelo EB ao longo de décadas, em que pese os erros de 64, poderá ser atirado na lata do lixo da História e ser transformado em chumbo para ser usado como munição contra um só homem, Jair Bolsonaro. Por conta de eventos recentes e bastante pungentes relacionados à gripe chinesa e seus devastadores efeitos no país, a revista época publicou um artigo acusando o EB de “matar o povo brasileiro”. O texto é bastante apelativo e contraditório. É calcado num preconceito básico: confunde intencionalmente o indivíduo com o grupo, neste caso, um militar específico (Pazuello) com a instituição (o Exército). Isso é fonte abundante de erros, mal-entendidos e de cizânia.
Dando provas de que caiu na arapuca da imprensa vermelha e de que a hierarquia já não é mais a mesma depois de Bolsonaro (onde está o Ministério Invisível!?), o Exército de Caxias, em um comunicado oficial, escrito por um general (chefe de comunicação do Exército), “exige”, isso mesmo, “exige” que a revista apresente “imediata e explícita retratação”. Claro, a manifestação foi motivo, no mínimo, de piadas no Twitter. E a emenda saiu pior do que o soneto… Qualquer órgão de governo que se sinta publicamente “ofendido” que use os canais competentes para tal. O Governo não pode ser maior que os governados (ou não deveria). Parte da imprensa está desesperada e já perdeu os escrúpulos. As FFAA são insitiuições permanentes. Até a imprensa passará, mas as FFAA ficarão, nem que seja com paus e pedras. Mas enquanto a Democracia estiver de pé, as exigências histéricas não passarão disso, histerias.
Mas não podemos esquecer jamais que esta não é uma guerra do bem contra o mal, mas uma batalha entre o mal e o caos. Quem urdiu a reforma previdenciária militar que beneficiou exclusivamente os oficiais generais em detrimento de toda a tropa, principalmente de veteranos e pensionistas, foram as assessorias parlamentares. Quem, sem corar, publicou vídeos de militares da ativa defendendo a mentira que foi a Lei nº13.954/19 foi o Ministério da Defesa. Em Brasília, quem praticamente sufocou as manifestações legítimas de vários praças na luta contra essa Lei covarde foram os generais políticos. Mergulhados até as platinas em joguinhos políticos escusos, deslocados, sem lugar, sem credenciais, que não os seus títulos pomposos e currículos grandiloquentes, os senhores da guerra adejam em torno de uma fogueira de vaidades que principia a chamuscar as Forças Armadas.
O governo do ex-capitão naufraga, e, como bom capitão que não é (se tivesse sido, hoje não existiria um Presidente Bolsonaro), parece dar mostras de que finalmente está conseguindo se vingar da Família Militar, que afrontou em 1987, fingiu defender por trinta anos e terminou de enterrar com a Lei nº13.954/19.
JB Reis
Revista Sociedade Militar