‘Não chega a haver um anti-bolsonarismo entre os militares, mas é verdade que hoje se busca uma opção… se aparecer um candidato mais ao centro, mais sensato, menos conflituoso… será abraçado”, suboficial Silva
O Rio de Janeiro é capital política dos militares brasileiros. Os cariocas fardados, das Forças Armadas ou das Forças Auxiliares, são de fato quem quase sempre pauta a tendência das discussões da categoria em todo o país.
Ali, onde se concentram a maior parte dos militares da reserva das camadas médias das Forças Armadas, sede do movimento dos sargentos de 1963, dos marujos “indisciplinados” de 1964, estopim da revolução de 1964, berço político do então capitão Jair Bolsonaro, nos anos 80, local onde se concentra a maior parte das associações de graduados e onde está sediado o Clube Militar, voz política maior dos oficiais na reserva e ativa, não são poucos os políticos que tentam se aproximar dos membros das Forças Armadas e auxiliares com o intuito de se apropriar de seu capital político.
Parlamentares cariocas e candidatos a cargos no Executivo têm como certo que o apoio da categoria, que só em relação às Forças Armadas conta com mais de 280 mil “chefes de família”, homens e mulheres, quase sempre formadores de opinião em seus círculos de influência, pode ser o diferencial para o resultado das eleições no estado e para a explosão de um apoio maciço que escale para a sociedade conservadora do resto do país.
Witzel e Otoni de Paula
Quem acompanhou de perto os movimentos pré-eleições de 2018 pôde perceber que as primeiras categorias abordadas pelo então candidato Wilson Witzel, que já foi militar da Marinha, foram os graduados das Forças Armadas e Auxiliares.
Em maio de 2018 o ex-juiz, já prevendo sua candidatura, participou do tradicional encontrão de ex-fuzileiros navais. Alguns meses após em um pequeno escritório no decadente centro do Rio, na Avenida Evaristo da Veiga, o já candidato Wilson Witzel se reuniu com membros da Associação Bancada Militar, dai pra frente os encontros com militares da reserva foram muito frequentes.
A associação, que é chefiada por militares da Marinha, tem entre seus maiores expoentes o Capitão de Mar e Guerra Cleber Ribeiro Afonso, que no governo Witzel assumiu o Departamento de Transportes do Estado.
Os militares formadores de opinião, que “puxaram” para Witzel o apoio da categoria e – consequentemente – também dos seus círculos de influência, grande parte do público conservador, como recompensa – logo estavam a frente de cargos importantes no Rio.
O sistema de transportes do Estado do Rio na época de Witzel contava com vários oficiais e graduados das Forças Armadas ocupando cargos comissionados em diversos escalões. O então governador, pelo que se sabe, contava com seu time para empurra-lo até uma candidatura forte para o Palácio do Planalto, mas acabou caindo antes de iniciar o projeto.
Outros políticos de expressão também já perceberam que o apoio dos militares pode ser o diferencial no Estado do Rio. O atual deputado Otoni de Paula, que hoje almeja uma vaga no Senado – dizem por aí – às vésperas das eleições de 2018 condecorou com a medalha Chiquinha Gonzaga, a maior condecoração feminina da capital carioca, uma militar bastante emblemática da Marinha do Brasil, a Almirante Dalva. A cerimônia foi no Clube Naval.
A terceira via
No Rio a tendência de voto dos militares que apoiaram Bolsonaro e Witzel não é imprevisível. Muitos, principalmente os que estão na reserva remunerada, justamente os que mais formam opinião em meio a sociedade civil, continuam abraçando Jair Bolsonaro. Mas, estão em busca da chamada terceira via, confessam.
O presidente do Clube Militar, clube exclusivo da oficialidade das Forças Armadas, é Bolsonarista declarado, mas vários associados da instituição já têm se declarado insatisfeitos com o uso político da mesma. Muitos oficiais até hoje não engoliram a exoneração de 3 comandantes e um ministro da defesa, 4 oficiais generais de altíssimo status, simplesmente por que protegeram as Forças Armadas no que diz respeito a deixar que fossem colocadas a serviço da reeleição de Jair Bolsonaro.
Uma convocação para manifestação política pró-governo há alguns meses chegou a gerar polêmica ante negativas de apoio por parte de sócios que enxergam um estreitamente exagerado entre o nome das Forças Armadas e o governo atual.
Oficial de alto status no Exercito, Rocha Paiva, coronel, tem manifestado posicionamentos que divergem da linha adotada pela direção da instituição.
“… o “mito” chegou apregoando a verdade, a probidade e a honestidade, virtudes militares que lhe foram repassadas em nossa Academia Militar. E tantos que acreditaram. Seus arautos dando força, “e se se gritar pega CENTRÃO não fica um meu irmão”… Tivesse persistido nessa bandeira; tivesse mantido sua prole investigada, enquadrada, sem acochambração; tivesse mantido o apoio à Operação Lava Jato (que seja dito, se vangloriou como seu “coveiro”… ” disse o oficial.
Grande parte dos militares da reserva, das Forças Armadas e Forças Auxiliares, culpam Bolsonaro pelo que chamam de “re-taxação” das pensões militares, um desconto significativo agora alcança também as pensionistas. Muitos reclamam também do deputado Hélio Lopes, que apesar de ser militar e graduado, e de ter concordado em off com as reclamações da categoria em relação a lei de reestruturação das carreiras, segundo contam vários graduados, não teria tido coragem de se posicionar contra o projeto do governo nas partes em que prejudicava seus pares.
Em lives e eventos promovidos por militares da reserva já se percebe a presença de parlamentares de outros partidos conversando com militares. Sabe-se de aproximações do PODEMOS e de filiações de militares no partido, possível sigla de Sérgio Moro.
O deputado Paulo Ramos, do PDT, tem se reunido semanalmente com graduados das Forças Armadas. Outro que tem contato frequente com militares é o deputado Glauber Braga, do PSol.
A tentativa de aproximação da classe política – portanto- é evidente e comprovável. Alguns militares ouvidos pela Revista Sociedade Militar apostam que, caso seja conformada uma candidatura mais ao centro, como a de Sérgio Moro, Santos Cruz, Mourão ou mesmo outro nome com características parecidas, há possibilidade de um desembarque significativo dos militares, uma espécie de migração em massa da categoria.
Robson Augusto / Revista Sociedade Militar