Há alguns dias Comandante do Exército, General de Exército Paulo Sérgio, determinou que todas as Organizações Militares da força terrestre exibam para os militares um vídeo institucional onde ele se dirige a tropa.
O site MONTEDO.COM divulgou a nota interna determinando a exibição da peça gravada pelo general de Exército Paulo Sérgio a todos os subordinados.
“Por ordem do Cmt Ex, o vídeo que será exibido hoje – 17 Set, às 20:00 h, horário de Brasília, na TV Verde-Oliva, o Canal do Exército no YouTube (https://www.youtube.com/c/exercitooficial), denominado Mensagem do Comandante, deverá ser exibido como instrução para todo o efetivo de militares de todas as OM, indistintamente (frações nível Pelotão, Subunidades incorporadas e independentes, Tiros de Guerra, Estados-Maiores, etc), bem como nos Estabelecimentos de Ensino do Sistema de Educação e Cultura do Exército. Na primeira oportunidade que houver os Cmt/Ch/Dir deverão envidar esforços, reunindo seus subordinados em Salas de Instrução ou Auditórios, mantendo a audiência com a máxima atenção à mensagem do Comandante do Exército. O objetivo do Cmt Ex é que o vídeo seja assistido por todos os militares do Exército Brasileiro no mais curto prazo possível. O Centro de Comunicação Social do Exército informa que esta Mensagem do Canal Técnico está sendo transmitida para todos os comandos enquadrantes.
No trecho considerado como o principal do discurso proferido aos soldados, o comandante faz duas recomendações, a primeira diz respeito a não acreditar em tudo que se lê nas redes sociais e a segunda estimula os militares a depositar toda a sua confiança em seus chefes.
“Muita cautela com o que circula nas mídias sociais! Analisem, com critério, e façam a correta interpretação das informações que acessam ou recebem, mas, principalmente, confiem, ainda mais, em seus comandantes e chefes, em todos os escalões hierárquicos! Eles estão investidos de autoridade e responsabilidade para transmitir a vocês a melhor, mais ética e profissional leitura dos acontecimentos, além de orientá-los no correto caminho a seguir para o cumprimento do dever”.
A advertência de Paulo Sérgio pode estar baseada em uma suposta baixa no moral da tropa, um decréscimo no nível de confiança da base em relação às decisões da cúpula das três Forças Armadas.
A história recente da interação entre cúpula e tropa no que diz respeito a questões administrativas, salariais, de carreira… não é considerada de grau satisfatório por muitos militares e, como fator depreciativo, soma-se a isso a repercussão negativa entre os militares dos casos Pazuello não punido, teto “duplex” dos generais e as intrigas palacianas envolvendo oficiais generais que ainda na ativa assumiram cargos políticos nesse governo. Há ainda as questões judiciais da tropa contra a cúpula que se arrastam por décadas sem resolução, como a conhecida demanda dos 28.86%, quando nos anos 90 os oficiais generais foram beneficiados com reajustes maiores do que militares que ocupam graduações mais baixas.
Até hoje há militares e pensionistas tentando reaver o prejuízo.
Há outras situações onde vários militares, principalmente de baixas patentes, só conseguem reaver perdas financeiras causadas por falhas administrativas se ingressarem na justiça contra as Forças Armadas.
Um caso
… expliquei em vários requerimentos para a Marinha que há 30 anos, quando ingressei, não conseguiu gozar férias em meu primeiro ano servindo na força na escola de aprendizes de Vitória e anexei documentos solicitando a remuneração correspondente, a Marinha me deu vários NEGATIVOS, ingressei na justiça e recebi o valor em dinheiro correspondente, mas tive perda de 25% com honorários advocatícios. A força nos trata como inimigos toda vez que pleiteamos um direito”, disse o Suboficial da reserva que prefere não se identificar.
Uma conversa de WhatsApp
[8:10 PM, …] N… … … Outra coisa: se vc abre qualquer processo de reparo contra as FA, vc fica queimado para indicação para seja lá o que for no âmbito da mesma. Vc se torna um pária. Quando não, pode ser punido também…
[8:12 PM, …] A… … cara! tem alguns meses… várias pessoas ganharam a tal férias de recruta, de aprendiz… da escola… eu botei um requerimento e disseram que não iam me pagar… fazem só de sacanagem… eu já recebi, mas perdi uns 2.5 mil só de honorário de advogado.
[8:13 PM, …] A… … podiam facilitar, mas nunca facilitam… isso gera uma intriga desnecessária entre base e cúpula e em grande escala acaba refletindo no moral da tropa…
Postagem nos campos de comentários
“… Na parte Operacional Eu sempre confiei nos meus Comandantes mas na parte Administrativa referente a Direitos e principalmente na questão Salarial NUNCA CONFIEI, pois os Oficiais sempre se dão bem e os Praças sempre perdem. Um exemplo: na última Lei de 2019 um Cadete que não tem um Pinto morto para dar água ganhou 13,51% de Aumento Real no SOLDO e um Subtenente com 35 anos de serviço e 3 filhos não teve Aumento…”
Para coroar a linha do tempo recente de questões negativas entre cúpula da DEFESA e tropa está o Projeto de Reestruturação das Carreiras aprovado em 2019. Logo de início os militares de baixas graduações perceberam um “jabuti” dentro do projeto do Ministério da Defesa, uma gratificação de representação criada só para oficiais generais. Não só os estrelados da ativa, mas também os da reserva e os reformados, receberiam um valor equivalente a 10% sobre seus soldos somente para representar bem as Forças Armadas. Mesmo que nunca saíssem de suas casas para falar um “a” sobre as instituições militares os velinhos, muitos já recebendo como Marechais, ganhariam o plus salarial inventado pelo general Azevedo e seus assessores. Depois de várias reclamações de sargentos em audiências públicas a coisa foi retirada do projeto de lei.
Contudo, o texto que foi transformado em lei está longe de ser considerado satisfatório. Passou pelo Senado graças a um acordo onde os generais palacianos prometeram rediscutir os itens considerados polêmicos pela tropa na reserva. Mas, e aí vem outro ponto importante a ser citado, segundo graduados ouvidos pela Revista Sociedade Militar, até hoje a promessa não foi cumprida.
Críticas na redes sociais
Recentemente, anda sob as “reverberações” da aprovação da reestruturação dos soldos, em dezembro de 2020 o Ministério da Defesa retirou todos os comentários e contagem de curtidas de um vídeo institucional voltado para o público interno. A censura ocorreu depois de um grande número de postagens reclamando de que os oficiais generais teriam beneficiado a si mesmos no projeto de reestruturação das carreiras aprovado em 2019.
Após solicitação formal de informações sobre o motivo da censura, feita ao canal da transparência do governo federal, a Revista Sociedade Militar recebeu a informação de que as DESCURTIDAS (impressões negativas) foram em número 500% maior do que as CURTIDAS (impressões positivas). Todavia, a Defesa manteve todo os comentários sob censura, mesmo depois das alegações de que em um canal institucional isso seria um procedimento irregular.
O setor de comunicações informou que a censura seria para impedir o que chamou de “efeito manada”
“… haja vista o volume de menções inadequadas, houve por bem imprimir observância ao citado código de conduta e fechar a linha de comentários, fins inibir o efeito conhecido como “manada” ou “comportamento de manada”…” .
Número de curtidas: 480.
Número de descurtidas: 2.951.
Número de comentários postados: 575.
Sentimento de traição
Uma declaração feita pelo Comandante da Força Aérea, Carlos de Almeida Baptista Junior, em evento realizado na Câmara dos Deputados em maio de 2021 indica que a cúpula tem uma acentuada preocupação no que diz respeito a confiança da tropa.
Debaixo de acusações de que o Ministério da Defesa teria abandonado graduados e pensionistas, o brigadeiro definiu a coisa como PERIGOSA e disse que há um sentimento de traição que não é verdadeiro.
“o sentimento que o senhor tem de que nós viramos as costas para os nossos praças no PL1645, além de muito perigoso não é verdadeiro“
Pesquisa
Uma pesquisa sobre confiança nos chamados CHEFES MILITARES realizada entre os leitores militares da Revista Sociedade Militar revela números interessantes sobre o assunto.
A pesquisa foi apresentada por meio de um formulário no Google Docs, com militares da ativa e reserva, permitindo somente uma resposta por usuário, com a condição de manter-se o anonimato, mas que os usuários estivessem logados com o próprio e-mail.
Até o momento da elaboração desse artigo o índice de confiança, ao levar-se em consideração uma população de 700 mil militares, ficou em 95%, com margem de erro de 6% para mais ou para menos.
Por questões operacionais e de tempo, analisou-se apenas 3 questões. A primeira seria para identificar a qual força e qual a condição do entrevistado, se está na ativa ou reserva; a segunda questiona se os militares confiam mais na cúpula em decisões administrativas ou em decisões operacionais e a terceira é sobre o nível de confiança dos militares na cúpula no que diz respeito a decisões administrativas.
Os resultados indicam que os militares têm pouca confiança nos chefes militares para a resolução de questões administrativas. Cabe um estudo mais detalhado para detectar os fatores que levaram a essa situação, levando em consideração inclusive o que foi apresentado acima.
Segundo apurado, os militares definitivamente confiam muito mais na condução dos chefes em questões operacionais, momentos em que os militares participam de combates, treinamentos e operações, do que na administração de questões relacionadas a demandas salariais, carreira, cursos e outras, que podem ser definidas como situações administrativas.
71.8% dos militares confiam mais no comando em questões operativas do que em questões administrativas, apurou a pesquisa.
O questionário também mostra que 77.1% dos entrevistados declararam que não confiam no comando no que diz respeito à resolução de questões administrativas ligadas a salário.
Somente 7.6% dos militares confiam totalmente nos chefes quando o assunto é salário dos militares.
Obs: As pesquisas realizadas pela Revista Sociedade, por sua credibilidade, já são vistas como tradicionais no meio militar. A mídia é reconhecida pela tropa, oficiais e praças, como confiável e sem influência da cúpula das forças. Diferente do que ocorre dentro dos quartéis, a Revista garante o anonimato dos participantes, o que incentiva uma participação livre. AMAN , Forças Auxiliares e instituições de ensino com frequência solicitam permissão para reutilizar publicações e pesquisas da RSM em produções científicas internas.
O arquivo csv com as respostas será disponibilizado nessa terça-feira (21/09/2021) no blog: https://pesquisasmilitares.blogspot.com/
Algumas pesquisas anteriores
MILITARES MUITO ENDIVIDADOS – PESQUISA REALIZADA
Corda no Pescoço. 89% dos MILITARES se sentem desestimulados por causa do salário baixo.