Números fornecidos pelo Exército Brasileiro demonstram que muitos jovens das camadas mais populares da sociedade têm o desejo de ser militares de carreira. Muitos se inscrevem para os concursos, mas a maior parte acaba sendo eliminada. A esmagadora maioria dos classificados para as academias são ex-alunos de instituições de ensino particulares ou de colégios militares. Estes últimos são instituições que concentram em sua grande maioria os filhos da própria oficialidade da força terrestre.
As imagens que a força passa são lindas, os novos alunos entrando na academia em fila indiana, alguns com fardas do Colégio Militar e outros de terno. Individualmente é, de fato, algo belo, uma grande conquista para cada um dos calouros, mas quando se tem acesso aos números e dados que fornecem uma visão sobre a coisa por uma perspectiva mais abrangente e descobre-se que de cada 100 alunos que entram marchando por aqueles belos portões o número dos que vêm de instituições do ensino público não chega a 25, a beleza se transforma em assombro.
Cerca de 53.3% dos alunos aprovados para a Escola Preparatória de Cadetes do Exército em 2020 são oriundos de instituições de ensino privadas, outros 23% vêm de colégios militares. Isso significa que 76.3% dos alunos que nesse ano ingressaram na academia militar que forma os militares que ingressarão na AMAN e comandarão o Exército nas próximas décadas são oriundos de extratos sociais que podem ser considerados como a elite do país.
Os dados obtidos pela Revista Sociedade Militar demonstram ainda que não é por falta de desejo que os jovens de extratos mais humildes da sociedade não se fazem representar entre os oficiais do Exército. Daqueles que se inscrevem para os concursos para a instituição, os alunos de colégios do ensino público regular são a maioria.
Em 2020, por exemplo, dos 40.546 candidatos inscritos para o concurso cerca de 59% (23.952) estudaram em instituições de ensino da rede pública tradicional e somente cerca de 41% vieram de colégios militares ou instituições de ensino da rede particular.
Os dados do concurso realizado em 2020 também mostram que aqueles que vêm de instituições públicas entram em grande desvantagem na disputa. Dos então 23.952 candidatos oriundos de escolas públicas, somente 333 foram aprovados. O número atesta que a probabilidade de aprovação desse grupo é baixíssima, apenas 1.3%.
Alunos de colégios públicos inscritos em 2020 para o concurso da EsPCEX | Aprovados | Percentual |
23.952 | 333 | 1.3% |
Hoje no Brasil cerca de 81% dos jovens completam o segundo grau em escolas públicas, infelizmente eles não chegam aos concursos com o mesmo grau de preparação de seus concorrentes das escolas particulares e/ou militares.
Os que estudaram em escolas militares chegam com um índice de aprovação bem mais alto. Em 2020 esse grupo inscreveu 2.796 candidatos e os aprovados somaram 323, o que mostra que têm 11.3% de chance. Os que estudaram em instituições de ensino particulares se inscreveram em 2020 em número de 13.798 e foram aprovados 747 candidatos. Sua taxa de aprovação é de 5.3%.
Pouco democráticos e sem de fato fazer com que o ingresso de novos alunos seja um reflexo da distribuição da população brasileira, os sistemas de seleção para oficiais do Exército Brasileiro aparentemente farão com que o Exército do futuro seja o Exército das elites.