A exemplo do que ocorreu nos dias que antecederam a revolução de 31 de março de 1964, militares das forças armadas de baixa patente não têm recebido a atenção das cúpulas armadas no que diz respeito a exposição de seu ponto de vista sobre questões simples como direitos, salários, saúde etc.
Representantes dos graduados, contam que procuraram reiteradamente lideranças de direita e até o próprio presidente no “cercadinho”, mas não foram bem recebidos. No “cercadinho”, o Presidente da República, em tom irritado, chegou a dizer para um suboficial da Aeronáutica que seria melhor jogar todos os militares na previdência comum.
Outro militar que procurou Bolsonaro recebeu como resposta uma pergunta, considerada grosseira: “Você está passando fome?”.
Praças das Forças Armadas alegam que o tratamento não é o mesmo dispensado a policiais que procuram o presidente Bolsonaro solicitando reajustes e prometendo paralizações ou operações padrão, que nenhum deles recebeu respostas ríspidas.
Assim como ocorreu nos anos 60, aos poucos cresce o apoio que chega de setores da esquerda radical. Partidos como Psol e PDT já tem seguidamente se reunido com militares graduados no Rio e em Brasília. O Partido da Causa Operária em vários artigos já tem incentivado os militares das Forças Armadas a fundar um sindicato.
Abaixo trechos de artigo publicado pelo site trotskista Movimento Revolucionário de Trabalhadores mencionando a intriga política entre base e cúpula politico-militar no governo.
“…A Reforma da Previdência dos Militares, aprovada no Congresso no final de 2019, conteve no projeto uma grande demonstração de Bolsonaro, se curvando aos interesses e privilégios dos Generais, e ataques aos praças do Exército, principalmente nas bonificações e reestruturação de carreira. Na prática aumentou os privilégios dos Generais. …”
Sobre os descontos
“Se em qualquer alta da alíquota já sabemos que em paridade de quantidade de contribuição, quem ganha menos sai perdendo, com os militares não é tão diferente. O valor anterior à reforma era de 7,5%, e vai passar para 10,5%, valor que efetivamente pesa menos nos bolsos de um General que fatura quase ou mais que 30 mil reais ao mês do que a um praça.
… Para além disso, mesmo com a alta é possível ver que os valores que pagam os Generais da ativa é consideravelmente menor do que a grande maioria de trabalhadores do país, ainda mais após a aprovação da Reforma da Previdência nacional e das estaduais, subindo os valores de contribuição dos servidores de praticamente todo o país, em muitos casos acima até dos 14%…”
…Os adicionais por cursos e de formação também criam fossos entre as patentes altas e cabos e soldados, e assim é com o adicional de habilitação, que para generais e coronéis pode chegar a até 71% de aumento nos salários até 2023, sendo que chegam a no máximo 12% aos praças, mostrando bem o quanto trabalharam em causa própria os Generais com a Reforma…”
…Essa reforma da Previdência foi um trabalho conjunto muito importante para os generais se aproveitarem do momento e fortalecer seus privilégios. Se já eram muito bem pagos, e com excessos de benefícios, com pensões gigantescas para familiares, a Reforma só deu nova força para isso, logo após Bolsonaro e o Congresso terem aprovado em 2019 a Reforma da Previdência para a população em separado. Afinal, boa parte da briga para tirar os militares da Reforma de Paulo Guedes tinha haver com garantir esses privilégios e uma reestruturação de carreira bem favorável “
O que se depreende disso tudo é que a antipolítica dos generais políticos no que diz respeito ao diálogo de Bolsonaro com militares graduados, que sob a desculpa de quebra de hierarquia, impedem que o presidente ouça as demandas das camadas base das Forças Armadas, pode causar perdas irreparáveis ao presidente e seus planos de reeleição, justamente porque seu exército de apoiadores desde há muito tempo é capitaneado justamente pelos membros das camadas mais à base das Forças Armadas.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar
Dados de: https://www.esquerdadiario.com.br/A-previdencia-dos-militares-privilegios-aos-generais-ataques-aos-pracas