Em 1910 vários marinheiros indignados com a manutenção dos castigos físicos como punição disciplinar buscaram as autoridades navais para conversar, foram repudiados e ameaçados, a coisa terminou em uma revolta histórica.
Em 1963 militares eleitos foram impedidos de assumir mandatos e no ano seguinte militares de baixa patente procuraram autoridades da Marinha em busca de direitos simples como casar, estudar, andar a paisana e também foram repudiados. A coisa toda cresceu e se transformou no Movimento dos Marinheiros, o estopim para a revolução de 1964.
Em 2019 e 2020 militares das Forças Armadas insatisfeitos com um projeto de lei que beneficiava as cúpulas armadas tentaram seguidamente um encontro com o presidente Bolsonaro para apresentar a sua versão sobre prejuízos causados pela reestruturação das carreiras, foram repudiados, alguns responderam a processos disciplinares e alguns foram punidos.
Associações de praças foram perseguidas e uma delas foi fechada debaixo de acusações de sindicalismo.
Em meio a acusações de sindicalismo contra associações um sindicato militar de fato foi fundado e registrado em Brasília e a entidade já representa a categoria em duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.
Até hoje no campo político há um cisma entre cúpula e base das Forças Armadas e o presidente Bolsonaro tem que lidar com a rejeição por parte de militares graduados e pensionistas, principalmente os que já estão na reserva remunerada.
A máxima “conheça a história para não cometer os mesmos erros do passado” parece não ter validade para a cúpula das Forças Armadas e – portanto – não poder-se-ia esperar outra coisa que não uma repetição quase cíclica do passado, onde militares de baixa patente sempre tiveram que se politizar a fim de que seus problemas fossem conhecidos e assim resolvidos.
É ainda comum que se perceba a intimidação contra militares de baixa patente que levam até parlamentares e grande imprensa os problemas sofridos pela tropa. No segundo semestre de 2021 a AGU incentivou a abertura de Inquéritos para apurar se associações de militares como a AMIGA seriam uma espécie de sindicato disfarçado. Ao avaliar o procedimento o próprio Ministério Público declarou que não foram constatadas atividades sindicais, mas que “atividade sindical… não se caracteriza como crime, comum ou militar“.
Uma declaração de Barbosa Lima Sobrinho feita no auge da repressão contra sargentos em 1963 se encaixa perfeitamente nos dias de hoje no que diz respeito à liberdade de expressão para subtenentes e sargentos.
“ … não há como entender, ou justificar, que generais possam ter direito a manifestações políticas e que o mesmo direito seja negado aos suboficiais, de modo a que sejam presos aqueles que pretenderam seguir os exemplos de seus superiores hierárquicos (…) Se a tropa se convence de que, no plano político, os superiores gozam de um direito que é recusado aos sargentos, a consequência será … a formação de um sentimento de animosidade, de um conflito que, por não se manifestar de imediato, não será menos perigoso, como uma força latente de desagregação (…)” (B. LIMA SOBRINHO, in O Semanário, 23 a 39-5-1963, p.5)”
Nessa terça-feira (24/05/2022) o novíssimo sindicato de Militares das Forças Armadas, graças ao apoio do PDT, foi ouvido numa comissão da Câmara dos Deputados. Entre representantes de policiais federais e de outras carreiras, o presidente da instituição apresentou dados importantes e manifestou a insatisfação das camadas médias e à base das Forças Armadas com o tratamento dispensado em questões como salário e atendimento médico.
Ironicamente, essa coisa toda tem o potencial de se tornar um grande problema político para Jair Bolsonaro, outrora conhecido como “sindicalista-militar”, principalmente se – além do PDT e PSOL – que já têm mantido contatos com as bases das FA, outros partidos e a grande mídia perceberem o que tem ocorrido e o número de fardados insatisfeitos dentro e fora dos portões blindados dos quartéis.
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