Os embates da política brasileira não são somente entre direita versus esquerda, conservadores versus progressistas etc. Dentro do espectro conservador-militar há uma disputa interessante. Membros das camadas médias e da base das Forças Armadas tem cada vez mais lutado por representação política porque acreditam que a cúpula, formada por generais, não se esforça para resolver os verdadeiros problemas enfrentados pela tropa, sobretudo no que diz respeito a salário, atendimento médico e jornada de trabalho.
Muito dessa desilusão se deve ao último projeto de lei sobre salários e direitos dos militares apresentado pela defesa em 2019. Pela primeira vez em muitos anos, justamente em um governo de direita, os militares receberam reajustes diferenciados entre cúpula e base. O fato dos oficiais generais terem ficando com os maiores benefícios deixou a tropa indignada.
Pesquisa realizada pela Revista Sociedade Militar em outubro de 2021 atesta que a maior parte dos militares não confia nos generais quando o assunto é reajuste salarial.
77% responderam que NÃO CONFIAM no comando quando o assunto é salário da tropa e somente 7.6% responderam que confiam totalmente.
Alianças para 2022
Em vários locais do país suboficiais e sargentos já na pré-campanha aos poucos entram em disputa eleitoral intensa com membros da cúpula militar, como o general Pazuello e outros oficiais de alta patente. Nesse momento esses pré-candidatos buscam apoio mútuo entre militares com influência em nível nacional.
O fato dos militares das Forças Armadas, diferente do que ocorre nas Polícias Militares, interagirem em âmbito nacional, acaba por fazer com que a possibilidade de eleger-se deputados federais no Rio de Janeiro e em São Paulo seja vista como extremamente atraente para militares de todo o país. Um projeto de lei apresentado por um deputado federal militar eleito pelo Rio ou por São Paulo pode influir diretamente na vida de militares e pensionistas de qualquer local do Brasil.
O suboficial Bonifácio (MARINHA), que nas eleições passadas obteve mais de 15.3 mil votos, esteve nessa segunda feira em Guaratinguetá e foi recebido pelo também suboficial Fabrício (FORÇA AÉREA), que é vereador em mandato na cidade.
Fabrício (MDB-SP), conhecido como Fabrício da Aeronáutica, é visto como um influenciador importante em questões ligadas à política, principalmente entre os militares da FAB de todo o país, incluindo o Rio de Janeiro, onde a força mantém dezenas de organizações militares.
Na semana passada o militar, vereador e pré-candidato e deputado federal, foi convocado para uma reunião e jantar entre os principais políticos do estado de São Paulo, incluindo o governador do estado. Fabrício Dias não revela o teor do encontro, mas especula-se que, além do status que já possui na região conhecida como Vale do Paraíba, foi percebido pela cúpula partidária como dono de grande potencial eleitoral, principalmente entre as camadas médias e à base das Forças Armadas, uma lacuna existente no estado onde os principais deputados federais são ligados à oficialidade.
Suboficial Bonifácio, por sua vez, é um dos nomes mais conhecidos entre os militares cariocas. Conservador, o suboficial tem trilhado um caminho com resultados em crescimento, construído de forma independente na política. O militar já foi punido por se manifestar contra o desleixo em relação aos salários da tropa e diz acreditar que ser independente é importante “pra não ficar devendo favor” e assim possuir mais liberdade durante o mandato.
O encontro entre os dois pré-candidatos pode apontar para uma aliança importante no futuro.
Robson Augusto / Revista Sociedade Militar