O pós-guerra gera um herói nos quadrinhos: Sargento Rock.
Criado por Bob Kanigher em 1959, Sargento Rock (ou Sgt. Rock) se tornou um dos mais icônicos e marcantes militares que os quadrinhos já apresentaram. Mas, caso sua mente esteja entorpecida sobre o assunto, lembro-lhe que também fazem parte desse rol personagens como o Recruta Zero, Capitão América, Bucky (o conhecido Soldado Invernal dos cinemas), entre outros.
Entretanto, poucos foram tão longevos e marcantes quanto o Sargento Rock, o líder da Companhia Moleza. Rock marcou gerações por ser um homem comum cujo companheirismo e amor à pátria o levavam aos extremos. Ele foi a representação de tudo que se espera de um militar, características que continuam a aparecer em filmes de guerra e ficções científicas com temática militar tais como Até o Limite da Honra, Tropas Estelares, O Resgate do Soldado Ryan e No Limite do Amanhã, mas é óbvio que a lista é muito maior.
Sargento Rock tem em sua fase desenhada por Joe Kubert uma das mais apreciadas pelos fãs, ainda que as outras sejam também excelentes. Boa parte desse sucesso se deve ao roteiro sempre ágil e interessante de Bob Kanigher, isso sem que descartemos a pertinência do traço inconfundível de Joe Kubert. Claro que o próprio Kubert sabe da importância dos outros desenhistas, sobretudo Russ Heath.
Robert Kanigher, ressalto, completou 20 anos de seu falecimento em 2022, sendo um dos mais prolíficos roteiristas dos quadrinhos de sua época.
O diferencial do Sargento Rock
Como já citado, a personagem foi criada no pós-guerra e carrega em si elementos que marcaram e até tipificaram aquilo que hoje enxergamos como um militar. Rock é idealista, determinado, leal e feroz contra tudo aquilo que afronte seus ideais morais e éticos, mas, acima de tudo, aquilo que ameace a soberania de sua pátria e a liberdade de seus compatriotas.
Diante do que foi acima exposto, poderíamos categorizá-lo como um “homem ideal”? A resposta é dúbia, pois precisamos compreender que Rock (mesmo sendo uma personagem das histórias em quadrinhos) foi retratado com todas as nuances e falhas típicas do ser humano. Ele age conforme suas crenças e tudo que lhe foi ensinado como correto. Deste modo, em uma guerra, temos homens em dois lados do front que acreditam em suas verdades e em tudo aquilo que lhe passaram como certo. De forma clara por meio de uma análise fria, os soldados em combate são homens e mulheres que foram convencidos da relevância de suas ações e sacrifícios em prol de uma bem maior, algo comum aos dois lados inimigos.
Esta faceta também estará representada em Rock, na Companhia Moleza e até nos inimigos (inclusive os nazistas). Todos estão dispostos aos sacrifício por causa daquilo que acreditam ser verdadeiro.
Infelizmente, mesmo nos dias atuais, combatentes são mortos em prol de suas verdades e crenças. Entretanto, a pior parte de uma guerra está na perda das vidas de civis inocentes que – por mero acaso – estão inseridos no palco de guerra. Isso também está retratado em Sargento Rock.
Rock, o lutador.
A alcunha de “lutador” para o Sargento Rock é perfeitamente condizente com as atitudes e o ímpeto dele. Rock foi criado em um período posterior ao fim da Segunda Guerra Mundial, porém já contaminado pelo medo e o terror impostos pela Guerra Fria. Talvez como lembrete dos malefícios dos conflitos armados e também para destacar o brio das tropas norte-americanas, as tramas desta HQ mostram sempre soldados com os mesmos defeitos que um cidadão comum, mas plenos de vontade em fazer o melhor por seu país. Rock, um líder nato, dá indícios durante todas as histórias presentes nesta coletânea da sua vontade ferrenha de fazer tudo que for possível para manter seus homens vivos e, claro, seu país livre. Em suma, um lutador em tempo integral.
Contudo, esta faceta não está presente ao acaso. Já na primeira história temos um lampejo da vida civil de Rock como boxeador, fato diretamente inspirado na lenda da luta Rocky Marciano. Uma das características do Sargento Rock que ele transpôs para a vida militar foi a incapacidade de manter-se caído. Apesar de suas limitações físicas, do desgaste da guerra e dos ferimentos em combate, Rock beira a morte para permanecer em atividade, pois ele sabe que seu exemplo e suas ações podem determinar a continuidade da vida de seus subordinados ou, caso falhe, a morte e o desespero dos integrantes da Companhia Moleza.
E o que o levaria a ler Sargento Rock?
Criado para um público infanto-juvenil, as histórias do Sargento Rock (ao menos as que estão presentes na edição da Ópera Gráfica) são isentas de cenas sangrentas, apesar de termos a morte e os ferimentos como situações corriqueiras que não precisam ser mostradas para que o público se sinta impactado.
A narrativa de Bob Kanigher e as ilustrações de Joe Kubert são indubitavelmente o ponto alto da carreira da personagem, mesmo com outras contribuições de peso ao longo dos anos.
Já em uma análise mais concisa sobre o encadernado da Opera Graphica Editora, este é um verdadeiro achado (esgotado em livrarias e bancas há bastante tempo), impresso em preto & branco em papel de alta gramatura. Possui capa dura, introdução do próprio Joe Kubert, além de notas explicativas sobre armamentos, contextos históricos e muito mais.
Por fim, unindo tramas curtas e interessantes, o desenho impecável de Kubert, os roteiros de Kanigher e o trato impecável da Opera Graphica, este se torna um encadernado de fácil recomendação e, cabe citar, uma pérola para os colecionadores.
Caso não encontre este volume específico, lembro que há outras edições disponíveis em sebos e sites de venda, mas também há uma animação chamada DC Showcase: Sargento Rock que conta com Karl Urban (o Butcher da série The Boys) na voz do sargento mais durão das histórias em quadrinhos.
FIM (quadrinhos militares, tirinhas militares, sargeant Rock, military)
Franz Lima, para a Revista Sociedade Militar