A agenda da semana passada de membros do primeiro escalão de Lula incluíram diversos encontros entre autoridades do governo e militares de baixas patentes das Forças Armadas, incluindo Paulo Pimenta da SECOM, José Guimarães e o próprio presidente Lula.
Os comandantes das Forças Armadas não participaram.
A principal pauta dos encontros foi a correção de problemas salariais, já que durante o governo anterior, as mudanças que ocorreram – segundo os sargentos – acabaram privilegiando apenas algumas categorias dentro das Forças Armadas, principalmente as altas patentes.
O comandante da Marinha, em entrevista próxima ao final do mandato de Bolsonaro, chegou a admitir que haveria correções para resgatar aqueles que “ficaram de fora”, mas a promessa não foi cumprida.
Entre os militares que se encontraram com Lula, estavam vários sargentos e suboficiais. Essas categorias apontam vários erros na reestruturação das carreiras ocorrida em 2019.
O processo político para aprovação do PL 1645 foi bastante conturbado, durante a tramitação da lei, vários militares foram advertidos e alguns chegaram a ser punidos. Um dos sargentos que reclamou acabou sendo punido com prisão.
Em meados de 2019, o Ministério da Defesa emitiu notas proibindo que militares se manifestassem sobre as questões discutidas na Câmara, o que, segundo a lei, é permitido para a reserva.
Um dos momentos mais tensos foi quando o relator do projeto de lei, deputado Vinícius de Carvalho, admitiu ter sido escolhido pelos próprios comandantes militares. Isso, para muitos, se configurou como intromissão ilegal do poder executivo dentro da Câmara.
Sargentos ouvidos apontam ainda o uso da máquina pública para a aprovação do projeto de interesse dos generais. Vários deputados foram levados para passeios em quartéis da Amazônia, e muitos chegaram a ser condecorados pelas Forças Armadas.
Os militares que se encontraram com Lula explicam que foram ajudados por algumas pessoas, entre eles o deputado estadual Zeca do PT e Sargento Cruz (vereador), ambos do Mato Grosso do Sul. Eles disseram ainda que seu trabalho político não envolve ideologia e que buscam recuperar os prejuízos causados pela lei 13954, já que consideram que não possuem representantes militares no Congresso Nacional.
Um sargento contou que durante a reunião Lula – brincando – chegou a perguntar se não havia nenhum general escondido no meio do grupo. O que foi compreendido pelo grupo como uma disposição do governo em entender a visão das baixas patentes sobre a situação financeira da tropa.
Alegam que o governo Bolsonaro deixou as baixas patentes em uma “situação caótica” e apontam as pensionistas e militares da base como os mais prejudicados. Uma das reivindicações dos militares, segundo informado, é participar das futuras decisões sobre salários. Vários deles, em off, alegam que durante o governo Bolsonaro, militares da base das FA não foram ouvidos e que várias vezes foram “maltratados” pelo próprio presidente da República que, na visão de alguns, parecia intimidado por oficiais generais e aos gritos os ameaçou de “jogar na previdência comum”.