As dicas constantes dessa matéria já impediram que muitos militares fossem desligados da Marinha, mas também foram utilizadas por amigos do Exército e da Aeronáutica. Elas são fruto de quase 13 anos de trabalho apenas na gerência de carreiras da MB. Obviamente que o conteúdo daqui será melhor compreendido quando o militar das Forças Armadas, polícias e bombeiros lerem a primeira matéria sobre os abusos das Comissões de Promoção.
Após a leitura deste textos, os militares (modernos ou antigos) terão maiores e melhores condições de gerenciar suas próprias carreiras por meio do conhecimento de direitos e deveres.
Contravenções Disciplinares
Incidir em contravenção é relativamente simples. Um cabelo fora do padrão, uma resposta mal interpretada, um minuto de atraso.. são dezenas de artigos voltados a enquadrar o militar.
Mas você sabe quais são as sequelas deste enquadramento e das prováveis punições oriundas dele? Muitos dirão que a contravenção, quando julgada, gerará uma punição ou apenas será admoestada pela autoridade julgadora.
Vejam, em tese o esquema acima está correto. Entretanto, muitos sequer sabem que as punições NUNCA ficam esquecidas, não importa o tempo passado.
Ao ser punido, três ações acontecem quase imediatamente. Primeiro – a contravenção e a punição são transcritas para o livro onde o Comandante fará os apontamentos sobre seu julgamento. Este livro, quando completo, é remetido para um lugar onde ficará armazenado fisicamente.
Em segundo, todos os apontamentos do julgamento são lançados em um sistema eletrônico exclusivo. Na Marinha, isso é chamado de SisPuni (Sistema de Punições).
Por fim, tudo isso é lançado digital e fisicamente na Caderneta de Registro (ou Anotações), uma espécie de “carteira de trabalho” onde constará o histórico da carreira do militar, seja este bom ou ruim.
Reparem que são três formas de destacar algo ruim praticado pelo militar, enquanto a maioria das boas ações são recompensadas com uma “licença” ou elogio em particular. Raramente seu ato elogiável chegará ao conhecimento da Comissão de Promoção, ao passo que os erros estão eternamente acessíveis.
Por não ter subsídios suficientes, vou apenas salientar que também existem relatórios produzidos pela Inteligência que, via de regra, destacam mais os pontos negativos da carreira. Na Marinha são chamados de “Informes”.
Claro que jamais ficaria de fora o fato de que, mesmo após o cumprimento das punições, estas continuarão a prejudicá-lo ao longo da carreira restante, conforme explicado no texto das Comissões de Promoção.
Conclusão: as Contravenções Disciplinares e as punições delas resultantes são ferramentas mau utilizadas. O caráter corretivo foi posto de lado, restando apenas o viés punitivo. Desta feita, todas as suas punições – mesmo as canceladas – estarão ao alcance instantâneo dos que têm o pode de determinar se você regredirá ou ficará “marcando passo”, estagnado.
Atente, por fim, que incidir em contravenções é algo a que todo militar está passível. Caso isso ocorra com você, respeite o prazo de entrega da defesa, faça esta com apuro e em português correto, mas não se esqueça que – durante a audiência – é permitida presença de um advogado por você constituído.
Avaliações
As Forças Armadas adotam o sistema de avaliação semestral através das Aptidões para a Carreira. Ainda que haja vários pontos a se observar, não há como negar que as Avaliações são quase sempre feitas com base em dois pontos controversos: simpatia e as determinações dos superiores. Deixo claro que isso não ocorre com todas, mas é fato que a maioria segue os preceitos da influência externa (o avaliador cede sua opinião para acatar com a determinação de um Oficial mais antigo) e do uso do binômio simpatia-antipatia.
Essas afirmativas se dão com base em observações feitas ao longo de 12 anos dedicados exclusivamente à função de Sargenteante (uma espécie de supervisor de RH), onde fiz e coordenei os lançamentos de milhares de avaliações, além de integrar comissões voltadas a estabelecer patamares quantitativos, isto é, onde era determinado um percentual de militares que poderiam ser avaliados como “Ótimos”, “Muito Bons, etc.
Sim, você entendeu corretamente. Os Comandantes exigiam um percentual exato de militares avaliados como “Excelentes”, por exemplo. Caso houvesse um número maior de militares merecedores dessa nota, certamente alguém sairia prejudicado. Isso é justo? Claro que não, mas é uma realidade irrefutável.
E é claro que nada está tão ruim a ponto de não poder piorar…
Ao ser avaliado como “Muito Bom”, não importa o motivo, um soldado ou cabo poderá ser impedido de prosseguir sua carreira, participar de um concurso interno, não ser matriculado caso aprovado no concurso e, por fim, sofrer o desligamento da Força, mesmo sendo militar oriundo de concurso público.
Tal fato ocorre por haver outros militares que têm atuações excepcionais – o que os torna merecedores de uma avaliação próxima do máximo, assim como há os medíocres que se valem da bajulação, simpatia do avaliador ou até mesmo o medo do avaliado diante de seu avaliado.
Um fato que é corriqueiro dentro dos quartéis é a existência de lugares onde só a “elite” serve. Devido a isso, há um ciclo interminável de avaliações consideradas ótimas nestas localidades, principalmente quando o avaliado serve sob a tutela de um Oficial General ou Comandante de OM. Exceções, obviamente, existem.
Conclusão: o sistema de avaliação dos militares das Forças Armadas está em constante evolução. Entretanto, devido ao fator humano, muitos ainda são prejudicados por motivos pessoais ou por falta de preparo do avaliador. Não é possível descartar a influência do próprio militar que, seja por atos condizentes com a hierarquia e disciplina, seja por cometer falhas que o exponham, é um dos responsáveis diretos por sua nota semestral, acrescido o apontamento do avaliador, obviamente. Também é vital frisar que muitos são prejudicados diretamente pela total inexperiência dos Oficiais temporários que – quando recém-embarcados – acabam por assumir as funções mais “chatas” como as de Ajudante do Encarregado ou como o próprio Encarregado. Ora, poucos meses de curso nunca serão suficientes para preparar um homem ou mulher que acabou de sair da vida civil para encarar a enriquecedora, porém árdua tarefa de gerenciar as carreiras dos subordinados.
Avaliar é um ato que demanda experiência, capacidade, boa vontade e interesse por parte do avaliador. Este, indubitavelmente, tem que apreciar o que faz, necessita ter conhecimento do cotidiano de seus subordinados e, caso perceba algo errado, busque as respostas para a origem e provável solução do problema. Baixar o Conceito de um militar por motivos fúteis é algo que trará prejuízos ao longo dos anos e pode decretar a estagnação da carreira de um indivíduo de modo irreversível.
Resumo.
- Você é responsável por sua carreira.
- Peça para ver sua avaliação antes que ela seja enviada para a Diretoria do Pessoal
- Faça seu requerimento de cancelamento de punições, caso já tenha qualificações para tal.
- Estude sobre seus direitos.
- Punições não podem refletir negativamente por duas vezes em sua carreira.
- Caso tentem prejudicá-lo por meio do perjúrio, não permita que o enquadrem em atos que atentem contra a moral, a honra e o pundonor militar, desde que – obviamente – você não tenha incidido nessa contravenção.
- Auxilie seu sargenteante com informações que possam ajudá-lo a melhorar o gerenciamento de sua carreira.
- Cuidado com os maus costumes. Um atraso semanal pode, facilmente, virar uma rotina e, consequentemente, sanções disciplinares serão adotadas.
- Acompanhe suas notas de avaliação. Perceba que há itens que podem se tornar contraditórios entre si, o que indicará uma provável escrituração feita de modo relapso pelo avaliador.
- Apesar da carreira ser individual, as Comissões de Promoção tendem a comparar sua carreira com a de outros. Logo, tente sempre ser o melhor.
- Diálogos e verdade são vitais para manter o bom trato entre o militar e seu Encarregado.
- Cuidado com as redes sociais. Não é incomum ver um indivíduo dizer que está doente e, mais tarde, publicar fotos na praia ou outros ambientes de lazer.
- Lembre-se que ao ingressar nas Forças Armadas você concordou em acatar ordens e seguir os preceitos da Instituição.
- O cuidado com a carreira é aquele que acontece desde o primeiro dia de serviço ativo. Não deixe para os “minutos finais” as ações que poderiam evitar um desligamento, avaliação baixa ou punição.