O comandante do 1º Distrito Naval, o almirante Eduardo Vazquez, bolsonarista raiz, foi indicado pela Marinha do Brasil para integrar sua cúpula do almirantado.
A Marinha foi a força que mais apresentou resistência à eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que derrotou Jair Bolsonaro (PL) no ano passado. Seu então comandante, Almir Garnier, se recusou a participar da passagem de comando para seu sucessor, Márcio Sampaio Olsen. O comandante Garnier sequer aceitou conversar com o então futuro ministro da defesa do governo Lula, José Múcio. Saiu do cargo no dia 31 de dezembro, quando acabou o governo Bolsonaro, deixando Olsen interinamente na chefia até a sua posse, em 5 de janeiro. Depois, Garnier almoçou com membros da cúpula da força para tentar desfazer o mal-estar e para apresentar suas razões para a insubordinação.
Existem outros doze nomes na lista para os cargos de contra-almirante (duas estrelas) e vice-almirante (três estrelas), mas Vazquez é o único com promoção sugerida a almirante de esquadra (quatro estrelas) o topo da hierarquia. Essa decisão do almirantado, colegiado com dez integrantes liderado pelo comandante da força, foi tomada na segunda (13), um dia antes do almoço entre a cúpula da Marinha com Lula, mediado por Múcio, que visava distensionar a relação dos Almirantes com o petista. Essa indicação precisa ser aprovada pelo presidente, que é o responsável pelas promoções decididas pelos altos comandos das forças armadas.
Após isso, foi enviado um comunicado interno pedindo que qualquer militar que seja filiado a partido político deixe a agremiação. Militares não podem ser integrantes de siglas, mas levantamento da Marinha mostrou que havia casos na força. A iniciativa foi lida no Planalto como sinal de conciliação e despolitização por parte dos almirantes.
Eduardo Vazquez é bastante próximo do almirante Flávio Rocha, que já foi Secretário de Assuntos Estratégicos do Planalto no governo de Jair Bolsonaro. Vazquez é conhecido como dono de opiniões fortes e antipetista, tendo apoiado internamente Garnier.
Segundo colegas do comandante, ele era simpático aos manifestantes contrários a posse do petista acampados pelo Brasil em frente ao quartéis do Exército. Além disso, ele ocupou o comando da força tarefa marítima da UNIFIL, a missão da ONU que patrulha águas em torno do Líbano, e substituiu Rocha como chefe de gabinete do comando da Marinha antes de ir para o Rio no ano passado.
Somado à transição turbulenta dos comandantes da Aeronáutica e do Exército entre os governos Bolsonaro e Lula, a decisão sobre a indicação de Vazquez para a cúpula do almirantado é mais um entrave para Lula na sua relação com os militares, que já prometeu que qualquer militar da ativa cuja participação seja comprovada nas apurações judiciais do caso da invasão ao Congresso, em 08 de janeiro, será punido exemplarmente.
Jair Bolsonaro e Mauro Cesar Barbosa Cid. Foto: Alan Santos / PR/Divulgação
Ainda há um cenário agravante no Exército, com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Tenente Coronel Mauro Cid, envolvido no escândalo das joias da Arábia Saudita. O ex-comandante do Exército, o General Júlio César Arruda, não aceitou vetar o Coronel Cid como comandante do Batalhão de Ações de Comandos, uma determinação do presidente Lula, com a visão de que os militares de operações especiais, os comandos, encarregados de dar o primeiro combate em caso de ataques contra o Palácio do Planalto ou outras situações de emergência, não poderiam passar para as mãos do Coronel Mauro Cid. Depois disso, em janeiro, o comandante Júlio César foi substituído pelo General Tomás Ribeiro Paiva. O novo comandante do Exército tem feito um trabalho interno de despolitização, com ordens expressas para o fim de manifestações em redes sociais.