A aprovação da polêmica reforma da Previdência na França, obtida através de uma “canetada” de Emmanuel Macron, provocou uma das maiores ondas de protestos e vandalismos da história do país. O presidente francês não arriscou apresentar seu projeto de mudança da Previdência na câmara baixa do parlamento (onde seria provavelmente derrotado) e sequer ouviu a vontade popular, fatos que levaram a uma crescente onda de protestos nas ruas, assim como alcançou o ponto de políticos entrarem com uma moção de censura ao autoritarismo do governante.
O mais controverso ponto desta medida – que se valeu de um artigo da Constituição – foi a ampliação da idade mínima para aposentadoria que, caso persista a situação, será alterada para 64 anos em detrimento dos 62 anos estabelecidos anteriormente. Macron e sua primeira-ministra, Élisabeth Borne, agiram sem suporte político e contra a vontade dos trabalhadores franceses. Outro ponto caótico e extremamente impopular é o aumento da contribuição para se aposentar, hoje estipulada em 42 anos, para 43 anos, medida a ser adotada a partir de 2027.
Assim, diante do impasse gerado pela persistência de Macron contra a vontade do Parlamento e da população, o resultado a que chegamos é o de vários dias de intensos conflitos entre forças policiais e grupos de cidadãos que protestam. A onda de incêndios e vandalismo é assustadora, na qual os resultados são mais de 80 prisões, civis feridos e 123 policiais também feridos, segundo a BBC News.
Segundo o jornal Le Monde, mais de um milhão de pessoas saíram às ruas para protestar, assim como greves estão ocorrendo em vários setores. Há relatos de lixo acumulado, ameaça de falta de combustível, escolas fechadas, desabastecimento de alimentos, o aeroporto de Paris fechado e muitos outros problemas resultantes das paralisações que ganham vulto dia a dia.
Em uma declaração recente, o presidente francês afirmou que os manifestantes em todo o país são iguais aos que invadiram o Capitólio e aos que provocaram os atos de 8 de janeiro, aqui no Brasil.
Ontem, dia 23, o rei Charles III cancelou sua ida à França devido aos intensos protestos por toda a cidade. Há promessas de mais greves até a próxima terça-feira, inclusive dos coletores de lixo, e também de mais resistência até que Emmanuel Macron desista de sua decisão monocrática.