O porta-voz do Ministério da Defesa britânico acrescentou que vários estudos científicos consideraram que “qualquer impacto na saúde em pessoas e no meio ambiente do uso de munições de urânio empobrecido seria provavelmente baixo”.
Um estudo do British Medical Journal de 2021 , no entanto, encontrou “possíveis associações entre a exposição ao urânio empobrecido e resultados adversos à saúde” entre os iraquianos expostos ao urânio empobrecido em intervenções ocidentais nas décadas de 1990 e 2000.
De acordo com o Instituto de Pesquisa de Desarmamento da ONU, munições de urânio empobrecido não podem ser consideradas armas nucleares. O urânio empobrecido não corresponde às definições legais de armas nucleares, radiológicas, tóxicas, químicas, venenosas ou incendiárias.
Embora muito menos poderoso do que o urânio enriquecido e incapaz de gerar uma reação nuclear, o urânio empobrecido é extremamente denso — mais do que o chumbo, uma qualidade que o torna altamente atraente como projétil.
“É tão denso e tem tanta força que continuará a atravessar a armadura de um tanque de guerra e aquece de tal forma que pega fogo“, sublinhou Gueist.
Quando disparada, uma munição de urânio empobrecido torna-se “um dardo de metal exótico atirado a uma velocidade extraordinariamente alta“, disse Scott Boston, analista sênior de defesa também ligado à RAND.
A Rússia já advertiu anteriormente que consideraria o uso de urânio empobrecido na Ucrânia como uma “bomba suja” ou “armas nucleares”.
O oficial do Kremlin, Konstantin Gavrilov, disse em janeiro: “Se Kiev receber tais bombas para equipamentos militares pesados da OTAN, consideraremos isso como o uso de bombas nucleares sujas contra a Rússia, acarretando assim todas as conseqüências”.
Os britânicos “perderam o rumo”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, que alertou que este tipo de munições constitui “um passo para acelerar a escalada” no conflito.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, foi mais longe na avaliação: “mais outro passo, e não restam já muitos”.
A Casa Branca denunciou as alegações da Rússia como desinformação.
“Não se deixem enganar. Este é mais um espantalho que os russos estão colocando numa estaca”, afirmou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby.
Segundo um funcionário da Casa Branca, que solicitou anonimato, a Rússia também tem munições de urânio empobrecido, mas “não quer que a Ucrânia também as tenha“.
Putin ameaçou retaliar se as munições contendo urânio empobrecido – que estão em uso nos EUA, Reino Unido e Rússia há décadas – forem usadas nos campos de batalha da Ucrânia.
O porta-voz do NSC, Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, afirmou: “Acho que o que realmente está acontecendo aqui é que a Rússia simplesmente não quer que a Ucrânia acabe com seus tanques”, acrescentou Kirby.
“Será um dia ruim para todas as tripulações russas quando elas se depararem com as munições de urânio empobrecido, porque simplesmente não há nada que eles possam fazer para se defender delas”, disse Mark Voyger – um ex-conselheiro especial para assuntos russos e eurasianos do ex-comandante geral do Exército dos EUA na Europa, Ben Hodges – à Newsweek.
“Nenhum tanque russo, até onde eu sei, pode resistir a tal impacto”, acrescentou Voyger – agora membro sênior não residente do Centro de Análise Europeia e professor da Universidade Americana de Kiev.
“Este é um salto qualitativo”, disse Voyger. ” Suas forças blindadas foram dizimadas pelo uso combinado de NLAWs [arma antitanque leve de próxima geração], mas este é um nível totalmente novo de armamento anticarro.”
Munições de urânio empobrecido foram usadas por forças russas, americanas e britânicas em intervenções no Kuwait, Iraque e Afeganistão, e em bombardeios aéreos de alvos na Sérvia e Kosovo na década de 1990.
“Este é um tipo comum de munição que é usado principalmente por suas capacidades de perfuração de couraças”, acrescentou Kirby. “Então, novamente, se a Rússia está profundamente preocupada com o bem-estar de seus tanques e soldados, a coisa mais segura a fazer é movê-los através da fronteira e tirá-los da Ucrânia.”
Voyger disse à Newsweek que as tentativas de Moscou de distorcer a questão do urânio empobrecido mostram sua preocupação com a situação no front. “Isso, é claro, visa provocar algum tipo de reação do movimento anti-guerra no Ocidente”, disse ele. “O ponto principal é que é uma tentativa de compensar sua fraqueza no campo de batalha.”