Autor: Luciano Veneu
Artigo publicado no Boletim Geocorrente nº 179
Nas últimas décadas, tornou-se clara a intenção chinesa de expandir sua influência pela América do Sul. A potência asiática se vale da necessidade de desenvolvimento social e econômico da região para prospectar na histórica zona de influência imediata estadunidense.
Nessa conjuntura, a Argentina emerge como foco de uma disputa de poder, já que, após aderir à iniciativa Belt and Road (Boletim 157), o Estado platino abriu a possibilidade para uma instalação naval chinesa na cidade de Ushuaia, no extremo sul do Atlântico. Sendo assim, como os interesses chineses na região podem influenciar outros atores sul-americanos?
Para Pequim, buscar laços comerciais se tornou a forma mais efetiva de expansão de seu poder pelo globo. Iniciativas como a Belt and Road permitem ao país estabelecer vínculos com Estados distantes de seu entorno imediato, como nas Américas do Sul e Central e, principalmente, no continente africano.
Nesse contexto, a Argentina se mostra uma importante aliada da China, já que Buenos Aires busca a modernização de sua economia e de suas Forças Armadas, encontrando no parceiro asiático uma alternativa para o embargo britânico sobre os produtos destinados à Defesa, resultante da derrota argentina na Guerra das Malvinas (1982).
Ademais, Buenos Aires teria em Pequim um favorável credor para o desenvolvimento de infraestrutura no país e um aliado diplomático para sua reivindicação das Ilhas Malvinas.
Além disso, a possível instalação de uma base logística e comercial chinesa em Ushuaia, permitiria a Pequim o acesso ao Atlântico, em alternativa aos canais do Panamá e de Suez.
As Forças Armadas dos Estados Unidos (EUA) já se pronunciaram sobre o assunto, com a General Laura Richardson, do SOUTHCOM, se dirigindo ao Congresso estadunidense, em 23 de março passado, afirmando que a prospecção chinesa na Argentina é preocupante para seu país.
Se concretizada, a iniciativa será uma porta de entrada chinesa nas Américas. Logo, faz-se necessário maior atenção às necessidades dos países sul-americanos, não priorizadas por parte do governo dos EUA. Portanto, Pequim busca avançar sobre o entorno de Washington, enquanto a Argentina se beneficia dessa disputa de poder para atingir seus objetivos nacionais: desenvolvimento social, econômico, diplomático e militar.
Sendo assim, a base de Ushuaia seria mais um passo chinês para a efetiva ocupação econômica — já que inicialmente seria um porto comercial — e diplomática do subcontinente, que necessita de investimentos estrangeiros para alcançar o desenvolvimento.
A falta de prioridade dada pelos EUA ao seu entorno geopolítico, permitiu que o Estado asiático se firmasse como o principal parceiro para o desenvolvimento da América do Sul.