Nesta semana, o Brasil e a China chegaram a um acordo conjunto para negociar de agorda em diante utilizando suas próprias moedas, abandonando de vez o dólar americano como intermediário, disse o governo brasileiro nesta quinta-feira.
O acordo permitirá que a China, atualmente a principal rival da hegemonia econômica dos EUA, e o Brasil, a maior economia da América Latina, conduzam suas massivas transações comerciais e financeiras sem utilizar a moeda americana.
Na prática, isso quer dizer que ambos os países farão pagamentos entre si diretamente, sem precisar converter suas moedas em uma economia de terceiros antes.
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, a Apex, descreveu o novo acordo como uma chance de promover um “comércio bilateral ainda maior, facilitando investimentos” com a China.
A secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito, afirmou que “a maior previsibilidade das taxas de câmbio” é um fator muito importante para investidores e comerciantes que desejem fazer negócios com a China. Segundo a secretária, os impostos sobre transações de câmbio são um dos pontos mais questionados por parceiros chineses no Brasil. O comércio em moeda local, portanto, contribuiria para um incremento das transações bilaterais.
Não apenas investimento, mas geopolítica
O maior parceiro comercial do Brasil é a China. O país é o destino de um terço de todas as exportações brasileiras e a origem de um quinto de todas as importações.
O acordo com o Brasil é a mais recente vitória na campanha de longo prazo de Pequim para estabelecer o yuan como a moeda internacional dominante. A nova parceria entre os dois gigantes da economia mundial ajuda a alimentar as crescentes preocupações sobre o futuro do dólar no mundo. China e Brasil tem relações comerciais muito fortes entre si e, por isso, ao negociarem utilizando suas próprias moedas, a moeda americana deixa de fazer parte de um negócio internacional bilionário.
Para Pequim, no entanto, o acordo recém assinado não se trata apenas de negócios e investimentos, mas de geopolítica.
“A China tem grandes aspirações de poder em uma ampla frente”, argumenta Elsabe Loots, professor de economia da Universidade de Pretória, ao portal The Conversation. “Uma década atrás, [a China já] indicava que aspirava tornar o yuan a moeda dominante no comércio, nas transações financeiras e, especialmente, como moeda de reserva global.”, observou Loots.
De fato, já no início deste ano, o yuan passou para a quarta posição no mercado de pagamentos internacionais, atrás apenas do dólar americano, do euro e do iene japonês. Em 2010, a moeda ocupava a 35ª posição. Um salto formidável, considerando um espaço de tempo tão curto.
Um negócio da China, para a China
Recentemente, o presidente americano Joe Biden disse que os EUA “imporia sanções severas a qualquer um” que ajudasse a armar a Rússia. A declaração foi uma resposta ao questionamento sobre a possibilidade da China fornecer armas e equipamento chinês à Rússia para ajudar na invasão da Ucrânia.
Tornar-se mais independente do dólar, portanto, ajuda a aliviar a China de pressões internacionais, além de prevenir as consequências de possíveis futuras sanções impostas pelo ocidente.
Nesse contexto, o acordo com o Brasil não é apenas positivo do ponto de vista econômico, mas também, geopolítico.
Além disso, a contínua valorização do dólar e as consequências da flutuação das taxas de juros do Banco da Reserva dos EUA, significam também que o acordo é uma iniciativa importante para cortar custos de importação e exportação.
A China também tem acordos cambiais semelhantes a esse assinado com o Brasil com diversos outros países, incluindo a Rússia e o Paquistão.