José Maria da Silva Paranhos Júnior, mais conhecido como Barão do Rio Branco, é unanimemente reconhecido como o nome maior da diplomacia brasileira. Sua mais importante contribuição ao país foi a consolidação das fronteiras brasileiras por meios diplomáticos, conseguindo incorporar definitivamente ao Brasil 900 mil quilômetros quadrados.
Os números podem ser abstratos, mas as conquistas diplomáticas de Rio Branco, que também era historiador, geógrafo e jornalista – tendo sido indicado ao prêmio Nobel da Paz em 1911 – equivaleriam a anexar ao nosso território um estado do Mato Grosso ou os territórios somados de França e Alemanha.
Luiz Inácio Lula da Silva, atual presidente brasileiro, sugeriu recentemente que a Ucrânia cedesse parte de seu território, a Crimeia, à Rússia para que se pusesse fim à atual guerra. Ele também disse que Zelensky (presidente da Ucrânia) “não pode querer tudo”.
Talvez Lula tivesse em mente o grande diplomata brasileiro, que, sem disparar um único tiro, fez mais pelo Brasil do que todos os generais de exército juntos. Lamentavelmente o presidente se esqueceu de que processos de arbitramento ou de negociações bilaterais – instrumentos usados habilmente pela Barão diplomata – nada têm a ver com invasão violenta de soberania territorial.
Desde 1850, com a guerra do Paraguai, nós brasileiros não temos a mais pálida ideia do que vem a ser uma guerra e todos os seus desdobramentos. O Brasil está longe de ser um paraíso. Muitos até dizem que a violência endêmica brasileira talvez equivalha a uma guerra convencional diluída. Mas, nós realmente não sabemos o que é a guerra.
Segundo as Nações Unidas, 21 milhões de pessoas foram afetadas pela guerra na Ucrânia; 8,2 milhões estão refugiados; a depender da fonte, o número de mortos gira em torno de 300 mil dos dois lados (depois do vazamento de dados reportado ontem). Sem contar que ronda ainda a ameaça das armas nucleares…
É certo que, fora a indústria de armamentos, o mundo inteiro deseja que a paz se estabeleça o quanto antes. Mas, é difícil não comparar a situação da Polônia em 1939 com a Ucrânia de hoje. A então Liga das Nações, encabeçada por França e Inglaterra, queria a paz a qualquer preço – desde que não fosse ela a pagar. As consequências dessa política permissiva do “deixa disso” gerou a pior guerra da história humana.
A península da Crimeia tem uma população de 1,9 milhão de habitantes (2005) distribuída numa área de 26.000 km². Sua capital é Simferopol. A península representa uma via de acesso ao mar Negro a partir do mar de Azov, que banha o sudoeste do território russo e parte da Ucrânia. A importância estratégica da Crimeia se deve principalmente à sua posição geográfica.
Outra coincidência histórica, a política expansionista do ditador paraguaio Francisco Solano López, que objetivava apossar-se de terras dos países vizinhos, inclusive o Brasil, para com isso acessar o oceano Atlântico, é exatamente a mesma posta em prática por Vladimir Putin.
Em nome da soberania estatal e da honra nacional, o Brasil – na visão de alguns – massacrou o Paraguai, sagrou heróis de guerra e com isso manteve seu território intocado. A Crimeia tem o mesmo tamanho de Sergipe. Imaginemos que a França, através da Guiana Francesa, resolva anexar um pedaço da Amazônia com este tamanho. Lula “não pode querer tudo”…