Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA acabaram se consolidando como a “polícia do mundo”, atuando em diversos conflitos e influenciando no surgimento – ou desaparecimento – de hegemonias globais e regionais. A “Defense Planning Guidance”, ou Diretriz de Planejamento de Defesa, de 1992, que afirmava que Washington impediria ameaças emergentes e protegeria a ordem global, permanece válida até hoje, mais de 30 anos depois. Definitivamente, os EUA estão interessados em projetar seu poderio militar pelo globo.
A administração Biden, de acordo com a National Security Strategy, ou Estratégia de Segurança Nacional, tem priorizado seus sistemas de armas e planejamento de defesa para a região do indo-pacífico. A área de responsabilidade do Comando Indo-Pacífico, a chamada INDOPACOM, é o foco das forças armadas dos EUA no século XXI, principalmente, por conta das crescentes tensões políticas da região.
Por isso, com a crescente retórica chinesa de que pretende reunificar Taiwan, aliada com os recentes exercícios militares em volta da ilha, fica o questionamento: se as coisas realmente escalarem pra um conflito global, os Estados Unidos seriam capazes de defender seus aliados taiwaneses?
Economia e Gastos Militares
Pra começar, uma análise fria sobre a economia dos dois países. Neste quesito, os Estados Unidos tem vantagens esmagadoras sobre a China. Em termos de produto interno bruto (PIB), tecnologia e gastos militares, os americanos estão bem à frente dos chineses. No ano de 2021, por exemplo, o PIB da China era de 15% o total do PIB global. Em comparação, os EUA, sozinho, eram responsáveis por cerca de 24% do PIB mundial.
Quando se trata de gastos militares, os americanos também estão na dianteira. Na verdade, no ano de 2019, os gastos militares dos EUA erao tão grandes que chegaram a ser maiores do que os gatos militares combinados do resto do mundo inteiro.
No final do ano passado, a diferença entre os dois gigantes continuava enorme. A estimativa é que os Estados Unidos tenham gasto cerca de 850 bilhões de dólares com suas Forças Armadas. A China, menos da metade, cerca de 377 bilhões.
Os chineses, no entanto, tem pressa e estão investindo pesado. A China anunciou que seus gastos com defesa cresceriam 7,2% este ano – o maior aumento de investimento em defesa desde 2019.
Experiência e Tecnologia
Os Estados Unidos adquiriram muita experiência em combate ao longo dos anos. Nas últimas decadas, o país tem travado guerras convencionais e não convencionais em todos os continentes. Os EUA são hoje a única força militar capaz de projetar-se, a curto prazo, em qualquer lugar da Terra. Os americanos têm inúmeras bases militares e alianças de defesa na Europa, no Oriente Médio e na Ásia.
Contudo, a maior parte da sua projeção de poder se deve à sua marinha. A Marinha dos EUA (USN) opera 11 grupos de porta-aviões.
Além disso, os Estados Unidos também não estão necessariamente em campo desconhecido no continente asiático, tendo lutado por lá durante a Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coréia e, mais recentemente, a Guerra do Vietnã.
A China, por outro lado, não lidou com nenhuma crise externa séria, nem travou guerras em grande escala na história moderna. No campo de experiência em combate, existe uma grande lacuna entre os Estados Unidos e a China.
Exércitos e Forças Terrestres
A China tem de longe o maior exército do mundo, com 2 milhões de militares ativos, de acordo com seu mais recente livro branco de defesa, de 2019. O pedido de orçamento do Pentágono para o ano financeiro de 2020 dizia que havia cerca de 1,35 milhão de militares americanos ativos e 800.000 na reserva.
O site “Global Firepower” também fornece números semelhantes. Segundo dados do site, os chineses estariam à fremte tanto em militares da ativa quanto em reservistas.
As forças terrestres do Exército de Libertação Popular, no entanto, usam equipamentos obsoletos ou não podem usar armas modernas de maneira eficaz sem um equipamento ou treinamento melhor, de acordo com relatório do próprio Pentágono.
Quando se fala em blindados pesados, contudo, os Estados Unidos estão à frente, segundo dados da Forbes. Os EUA, com seus 6.333 tanques, têm o segundo maior estoque do mundo depois da Rússia, enquanto a China é o terceiro, com 5.800 blindados.
Poder Aéreo
Os Estados Unidos tem uma impressionante força aérea composta por mais de 13.000 aeronaves militares. O F-35 e o F-22 Raptor, a vanguarda da USAF, estão entre os jatos de combate mais avançados do mundo.
Enquanto isso, as duas Forças que operam aeronaves na China, a Força Aérea do Exército Popular de Libertação e a Força Aérea Naval do Exército Popular de Libertação, formam juntos o terceiro maior poder aéreo do mundo, com mais de 2.500 aeronaves. Dessas, cerca de 2.000 são aeronaves de combate, de acordo com relatório militar chinês de 2020.
Portanto, é seguro dizer que, ao menos em números absolutos, os EUA estão a frente nesse quesito.
A China, contudo, está investindo pesado em tecnologia. Assim como os EUA, os chineses também tem seu próprio caça-furtivo, o J-20, que foi projetado para competir diretamente contra o F-22 americano. O avião tem um design impressionante, mas ainda não se sabe com exatidão qual sua performance em combate.
Marinha
A Marinha do Exército Popular de Libertação tem mais navios do que a USN, sem dúvida. Entre corvetas, barcos de patrulha, fragatas e até submarinos, os chineses estão à frente, ao menos, em números absolutos. A China tem a maior marinha do mundo, com cerca de 360 navios em comparação com a frota dos EUA, de 297, de acordo com um relatório do Congresso dos EUA.
Mas a vantagem numérica da China se resume a embarcações menores, como navios de patrulha costeira. Quando se trata de navios de guerra maiores, os Estados Unidos têm vantagem em número, tecnologia e experiência.
A USN se destaca também não apenas por seus navios, mas pelas suas aeronaves. Sozinha, a amarinha americana opera quase 2500 aviões, além de 1200 helicópteros, segundo a Air University. A marinha chinesa possui 441 aviões e 118 helicópteros.
Além disso, os 11 porta-aviões americanos, com propulsão nuclear, podem transportar mais de 800 aeronaves, enquanto os dois porta-aviões chineses , de propulsão a díesel, poderiam transportar apenas 70. Os motores com combustível convencional dos navios chineses limitam – e muito – seu alcance operacional.
Arsenal nuclear e balístico
O número de ogivas chinesas é de aproximadamente 200 e deve dobrar na próxima década. Em comparação, os Estados Unidos têm cerca de 4.000 ogivas. Nos últimos anos, os americanos continuaram a modernizar seu arsenal nuclear, que excede em muito o requisito mínimo para ataques nucleares de retaliação contra os chineses.
No entanto, conquanto os EUA tenham muito mais ogivas nucleares, a China tem praticamente o monopólio de mísseis balísticos terrestres que podem realizar tanto ataques nucleares quanto convencionais.
Até pouco tempo atrás, os EUA não podiam possuir mísseis balísticos e de cruzeiro com alcance intermediário que fossem lançados do solo, devido ao Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário de 1987, com a União Soviética. Em agosto de 2019, contudo, os EUA se retiraram do tratado, mas ainda não conseguiram alcançar os chineses nesse tipo de tecnologia. Nesse quesito, a China estaria anos a frente.
E agora?
Conclui-se , portanto, que as forças armadas dos EUA dominam quase todo o espectro estratégico, tático e operacional da guerra. Agora, os novos objetivos do Pentágono estão focados em desenvolvimento de programas sofisticados para guerra cibernética. Essa parece ser uma preocupação crescente no mundo globalizado – e conectado – do século XXI, e os Estados Unidos sem dúvida querem estar à frente.
Na guerra convencional, os EUA superam a China em manobrabilidade e capacidade expedicionária, o que não é exatamente uma preocupação para os chineses – por enquanto.
O autor americano Taylor Fravel, especialista nas áreas de relações internacionais, segurança internacional e disputas territoriais, diz que a China ainda não é uma superpotência militar. Segundo Fravel, não haveria inclusive evidências sobre eventuais planos da China para atingir capacidades militares globais como a dos Estados Unidos.
O Professor Sun Degang, professor de Ciência Política na Universidade de Fudan, em Shangai, também considera que a China é um peso pesado econômico, mas ainda um peso pena militar. Essa tendência ainda deve continuar ao menos nas próximas décadas.