Todo mundo já ouviu diversas teorias sobre a primeira viagem do homem à Lua, em julho de 1969. De mesas de boteco à podcasts, o assunto vez ou outra vem à tona, gerando os mais acalorados debates. Quem nunca ouviu “Os pousos na Lua foram todos gravados em estúdio!”? Ou ainda, “Nunca tivemos tecnologia para ir à Lua!”?
As teorias da conspiração em torno dos pousos na Lua continuam preocupantemente persistentes, mesmo com a aproximação do 54º aniversário do pouso da Apollo 11 no satélite terrestre. Com a popularização da internet nas últimas décadas, os passos históricos de Neil Armstrong e Buzz Aldrin são cada vez mais alvo de cabeludas teorias conspiracionistas. Por quê?
A Revista Sociedade Militar resolveu explorar algumas dessas teorias e tentar desmascará-las. Será que vamos conseguir?
Confira abaixo as mais famosas teorias conspiratórias sobre a chegada do homem à Lua e as razões pelas quais elas não fazem sentido.
1) Por que a bandeira dos Estados Unidos aparece tremulando no vento, quando sabemos que não há vento na lua?
O momento em que o astronauta Buzz Aldrin aparece saudando a bandeira americana na Lua é uma das imagens mais incríveis da missão Apollo. É também, sem dúvida, uma das imagens mais icônicas do auge da Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética competiam entre si pela hegemonia mundial – e espacial.
Mas se não há atmosfera na Lua, obviamente, não há vento. Por isso, os conspiracionistas questionam: por que a bandeira parece estar tremulando?
A resposta está na mesmíssima foto e pode ser vista na parte superior da bandeira. Um olhar mais atento perceberá que há uma haste de metal ao longo da borda que serve justamente para fazer a bandeira parecer estendida. Isso foi feito pois, de outro modo, a gravidade puxaria a bandeira pra baixo e não conseguiríamos vê-la na imagem. A NASA queria que a bandeira aparecesse em sua totalidade e, por isso, pensou na ideia da haste para segurá-la aberta. E deu super certo!
“Todas essas rugas estão lá porque [a bandeira] ficou amassada durante quatro dias a caminho da Lua.”, explica o Professor Anu Ojha, um dos diretores do National Space Centre, do Reino Unido. “Como foi montada assim, parece estar balançando ao vento”, pontua.
O professor também observa que um dos momentos mais intensos do Século XX, em termos de orgulho nacional dos EUA, foi ver a bandeira com estrelas e listras na superfície da Lua. Por isso essa imagem é tão poderosa – e motivo de tantas especulações.
2) Por que não aparecem estrelas nas fotos das missões Apollo?
Outra fotografia do pouso lunar que chama a atenção dos teóricos da conspiração é a de Buzz Aldrin caminhando pela Lua carregando equipamentos e instrumentos de medição. Oras, perguntam-se os teóricos, se a foto foi realmente tirada na Lua, onde estão as estrelas?
Os conspiracionistas argumentam que a falta de estrelas nas imagens da missão Apollo 11 prova que o evento foi gravado em um estúdio fechado. Para os que duvidam, a NASA não teria capacidade técnica de falsificar toda a maravilha do céu lunar, então a agência espacial americana teria simplesmente optado por não incluir nenhuma estrela no “cenário”.
A verdade é bem mais simples: tanto os astronautas quanto a própria paisagem lunar estavam fortemente iluminados pelo Sol. O céu pode parecer todo preto, mas, na verdade, as fotos foram tiradas quando era dia na Lua. Nessa situação, objetos de pouca iluminação, como estrelas distantes, não aparecerem nas fotos.
E qualquer fotografia tirada no no espaço, não apenas na Lua, sofrerá do mesmo problema. Ao fotografar um astronauta ou qualquer outro objeto flutuando no vazio espacial, a luz do Sol irá ocultar as estrelas ao fundo.
E esse fenômeno não ocorre apenas em fotos antigas. Também não há estrelas nas fotografias espaciais diurnas mais recentes, como as tiradas pelos astronautas dos ônibus espaciais americanos ou nas espaçonaves russas Soyuz das últimas décadas.
3) Como os astronautas da Apollo 11 sobreviveram à intensa radioatividade?
A Terra é cercada por uma zona de partículas carregadas de radiação, conhecida como cinturão de ‘Van Allen’. Essa radiação é, de fato, motivo de certa preocupação durante as viagens espaciais. Se esse é o caso, então, como os astronautas da Apollo atravessaram o cinturão radioativo e conseguiram sair ilesos da órbita terrestre? Não deveriam ter adoecido ou morrido?
Esses cinturões radioativos foram descobertos em 1958 pelo físico norte-americano James Van Allen, daí seu nome. Durante a década seguinte, o fenômeno foi extensamente estudado, tanto por soviéticos quanto por americanos. Em 1968, a sonda espacial soviética Zond 5 voou através do cinturão para transportar ao redor da Lua diversos seres vivos. Todos retornaram ilesos da viagem.
Para as missões Apollo, a exposição da radiação foi calculada e medida por meio de testes com voos não tripulados. A Apollo 6, por exemplo, em abril de 1968, levou uma cápsula Apollo equipada com instrumentos para medir a capacidade da espaçonave para bloquear a radiação das correias. Verificou-se que a exposição era similar aos efeitos de alguns raios X comuns. Portanto, concluiu a NASA, a exposição seria tolerável, por períodos curtos.
Já na Apollo 8, a NASA enviou os primeiros seres humanos além dos cinturões de Van Allen. Ao longo de todo o vôo, os astronautas Lovell, Borman e Anders acumularam uma dose de radiação de 1,6 milisieverts, o equivalente a cerca de vinte radiografias de tórax. Seria, portanto, bem longe de ser fatal, como argumentam os teóricos da conspiração.
4) Por que as sombras nas fotos tem tamanhos diferentes, se o sol é a única fonte de luz na Lua?
Teóricos da conspiração propõem que, como o Sol era a única fonte luminosa que havia no local, as sombras dos objetos na Lua deveriam parecer paralelas. Entretanto, nas fotos oficiais da NASA é possível observar que as sombras não estão nem um pouco paralelas.
Esta imagem seria uma das provas cabais, segundo os conspiracionistas, de que os pousos na Lua foram gravados em um estúdio. O fato das sombras não estarem paralelas evidenciariam que há várias fontes de luz no ambiente, criando diferentes padrões de sombra. Será mesmo?
“Podemos reproduzir esse mesmo efeito a qualquer momento na Terra”, explica o professor Ojha. “Por causa da perspectiva, as linhas paralelas parecem não estar paralelas.”
Esse é um fenômeno óptico bem conhecido em fotografia. Como observou o professor Ojha, esse efeito é facilmente replicado na Terra. Observe:
Ou seja: perspectiva é o fator dominante aqui. E mais: tudo o que é preciso para perceber que a alegação dos teóricos conspiracionistas é falsa é… sair e observar o mundo real. Quando o sol estiver baixo no céu, todas as sombras parecerão assim aos olhos do observador. Assim como as imagens da Apollo 11, as sombras não serão paralelas.
5) Se realmente fomos à Lua em 1969, por que nunca mais voltamos?
A Apollo 17, a última missão Apollo a levar astronautas à Lua, ocorreu em 1972. Desde então, os humanos nunca mais pisaram no nosso querido satélite. Por que será? Essa pergunta de milhões tem atormentado teóricos da conspiração pelo mundo todo no último meio século. Será que nunca estivemos lá, na verdade?
A última missão, a Apollo 17, não era para ser o fim dessa história. Ao longo da década de 1970, havia ambições de estabelecer inclusive uma base lunar permanente e só depois prosseguir para o próximo grande desafio da exploração espacial: Marte.
Isso nunca aconteceu, como sabemos. Mas isso não foi devido a uma grande conspiração. A verdade é que tudo se deve a mudança de prioridades da NASA.
Colocar astronautas na Lua é uma tarefa difícil, extremamente cara e demasiadamente perigosa. Hoje não há motivação política para gastar enormes quantias de dinheiro público e arriscar vidas humanas apenas para repetir algo que já foi feito diversas vezes. Os desastres da Apollo 1, Soyuz 1 e 11, e dos ônibus espaciais Challenger e Columbia, mostraram claramente que a perda de uma tripulação de uma nave espacial é vista como uma tragédia nacional e só pode ser justificada se as apostas forem tremendamente altas.
Ao invés de apostar no retorno tripulado ao satélite, as atenções se voltaram para o programa do Ônibus Espacial. Posteriormente, a NASA focou na Estação Espacial Internacional, que tem sido permanentemente habitada por equipes de astronautas desde novembro de 2000.
Isso, é claro, não significa que os humanos não possam retornar à Lua no futuro.
6) Por que a União Soviética nunca veio à público pra dizer que tudo não passou de uma farsa?
Menos de uma década antes da Apollo 11, um avião espião americano foi derrubado por defesas anti-aéreas soviéticas. Tanto a descoberta do avião espião quanto o próprio piloto, Francis Gary Powers, foram explorados à exaustão pela propaganda soviética.
Se a União Soviética tivesse descoberto que os pousos americanos na Lua eram falsos, portanto, teria muito a ganhar. E não é como se os russos não tivessem tecnologia para isso: os soviéticos podiam descobrir a trama tanto por meio de sinais de rádio quanto através de espionagem convencional. E ficariam muito felizes em aproveitar politicamente o incidente, sem dúvida.
Por que, então, nunca vieram a público pra revelar a farsa? Não teria sido bom para a União Soviética humilhar publicamente seu rival?
A verdade é que o governo soviético jamais contestou o pouso dos rivais na Lua. Ao contrário, em um gesto sem precedentes, a televisão estatal soviética anunciou o pouso da Apollo 11 na Lua e até transmitiu trechos do passeio lunar dos astronautas americanos. A mídia estatal soviética cobriu a missão extensivamente.
Quando a tripulação voltou à Terra, a Rádio de Moscou iniciou seu noticiário noturno informando que “os corajosos astronautas Armstrong, Aldrin e Collins estão novamente em nosso planeta”.
O chefe de Estado soviético, Nikolai Podgorny, telegrafou ao presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, após o retorno da Apollo 11: “Por favor, transmita nossos parabéns e muitas felicidades aos corajosos pilotos espaciais”.
Alguns países do bloco soviético chegaram a emitir selos comemorativos celebrando celebrando a missão Apollo 11.
Quase 60 anos depois, aqui vamos nós
Mesmo com inúmeras imagens, vídeos, amostras lunares e dados científicos para provar, sempre haverá alguém pra duvidar da ida do homem à Lua. Claro, até retornarmos ao nosso único satélite natural, sempre haverá alguma anomalia, alguma observação, algo aparentemente inexplicável nos registros que podem desencadear novas alegações de que os pousos na Lua foram inventados pela NASA ou pelo governo americano.
Mas a verdade é que o tamanho e a variedade desses mesmos registros são mais do que prova que o homem, sim, pisou na Lua.
Falando apenas das missões Apollo, existem cerca de 8.400 fotos publicamente disponíveis. Além disso, há milhares de horas de filmagens, uma montanha de dados científicos e transcrições completas e gravações de áudio de todas as conversas entre os astronautas e a base em Terra.
Isso sem falar dos 382 quilos de pura rocha lunar que os astronautas da Apollo trouxeram de volta pra casa. Essas rochas foram verificadas independentemente em laboratórios de todo o mundo, incluindo soviéticos, justamente para descartar as possibilidades de uma conspiração dos EUA.
E, para completar, naves espaciais da China, Índia e Japão também detectaram os locais de pouso das missões Apollo, fornecendo mais verificações independentes do feito.
E tem mais!
Se isso não for suficiente para convencer os céticos mais endurecidos, o Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO) da NASA pode ajudar. O LRO tirou fotos de alta resolução da superfície lunar de uma órbita bastante baixa. Nas imagens, é possível ver os locais de pouso e até os módulos de descida abandonados.
Um prego final no caixão das teorias falsas da Lua é um instrumento simples instalado 50 anos atrás pelos astronautas da Apollo 11.
O equipamento, que foi colocado na superfície lunar já na primeira missão tripulada ao satélite, serve para realizar a medida da distância da Terra a Lua com uma precisão fantástica e de maneira bastante rápida. O objeto é chamado de retrorrefletor cúbico de laser e, basicamente, permite refletir feixes de laser disparados da Terra até a Lua para medir a distância exata do satélite no momento da medição.
Não seria possível instalar nada parecido na Lua se não tivéssemos, de fato, enviado seres humanos para lá em 1969.