Exército russo perde 40 vezes mais soldados na Ucrânia que em sua guerra soviética de dez anos contra o Afeganistão
Forças Armadas e mercenários russos perderam em média 40 mil soldados, oficiais e generais em um ano de guerra na Ucrânia contra cerca de mil militares russos por ano no Afeganistão
Os números não são exagerados. Esses dados estão ancorados em fontes independentes russas, fontes vazadas da própria FSB (sucessor legítimo da antiga KGB, serviço de inteligência da antiga União Soviética), do governo russo, cruzados com o vazamento recente de documentos do governo americano pelo oficial luso americano Jack Teixeira, aviador da Guarda Aérea Nacional de Massachusetts e que atuava como oficial de operações de defesa cibernética.
Os números já eram discutidos por mídias independentes russas e o próprio Kremlin, quando o vazamento divulgado pelo oficial norte americano lançou luz ao que já se suspeitava, uma vez que o Kremlin tenta ocultar e diminuir os números para não alarmar a população russa.
A guerra russa contra o Afeganistão durou dez longos anos, de 1979 a 1989 e causou muitos traumas e forte impacto na sociedade, economia e exército russo, angariando a impopularidade do povo russo e internacional. Abalou toda a estrutura da economia russa.
Quando Gorbachev resolveu acabar com o conflito, isso praticamente culminou com o fim da própria URSS, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O fim de uma era de 70 anos de tragédia. O pivot de sua queda, ironicamente, em vez de ser dominado e destruído, o pobre e aguerrido Afeganistão implodiu o mais poderoso e duradouro regime totalitário do século XX. Lógico que não fez isso sozinho, pois havia o apoio americano e outras circunstâncias que agravaram a economia russa, mas a guerra do Afeganistão foi definitivamente a pá de cal sobre o Império Soviético. Recentemente, em 19/04, o governo americano fez dois anúncios para se refletir:
1 – Informou e reconheceu que um conflito nuclear com China e Rússia pode acontecer sim e que será muito difícil e doloroso e,
2 – que o conflito com a Ucrânia pode durar muitos anos. Não seria isso uma tática de dissuasão para abalar o exército e a sociedade russa, como os famosos bleeders (sanguinários) fizeram na guerra do Afeganistão, tentando alongar a mesma justamente para enfraquecer e destruir o exército russo? Os bleeders eram um grupo de políticos do governo americano que tentavam minar os esforços da ONU de acabar com o conflito, com o intuito mesmo de levar a Rússia a bancarrota, uma vez que os americanos financiaram a guerrilha mujahedin contra os russos, o que de fato acabou acontecendo. Então, quando os americanos reconhecem que esse novo conflito deflagrado pela Rússia pode durar muito tempo, não seria uma informação com o mesmo intuito do conflito anterior? Seria uma forma, mais uma vez, de esmagar definitivamente os propósitos imperialistas e totalitários de Putin? não sabemos. Se sim, está na hora de Putin tentar aprender com a história.
O que dizem os números da guerra e ocupação russa contra a Ucrânia?
Dados colhidos e analisados recentemente por um meio de comunicação independente russo, conhecido como Mediazona e que pesquisa todas as fontes possíveis sobre as mortes de militares russos na Ucrânia, publicou recentemente os números registrados, baseados nessas fontes.
Os números divulgados pela Mediazona, baseados em fontes diversas dão conta de que quase 20 mil militares russos de todas as forças envolvidas morreram em um ano de guerra. Esse número, porém, é apenas das fontes que se pode verificar e que não são os números divulgados oficialmente pelo Kremlin. Esses números também não contemplam os feridos, somente óbitos.
Uma vez que esses números são apenas de fontes que se pode verificar e que, na maioria das vezes, nem tem o propósito de demonstrar um censo de mortos na guerra, deduz-se daí que esses números devem beirar a pelo menos 40 mil mortos, conforme veremos e como foi apurado pela Revista Sociedade Militar.
A dedução não é difícil porque muitos dos que morrem não voltam para sua pátria ou são abandonados nos campos de batalha, como os milhares dos prisioneiros que foram voluntários, em troca de liberdade, com o Grupo Wagner de mercenários.
Muitas famílias não recebem os corpos de seus filhos, maridos, pais ou irmãos e não sabem de seu destino. Outros simplesmente caem prisioneiros dos ucranianos ou chegam ali como feridos e nesse estado podem morrer e ter sua identificação difícil de saber por vários motivos. A Rússia não costuma e nem tem interesse em pedir seus corpos ao inimigo.
E como se chegam a esses números?
Os dados são coletados com o serviço russo da BBC News e uma equipe de voluntários continua a coletar dados sobre as baixas sofridas pelos militares russos na Ucrânia. Esses números não representam o número real de mortos, pois só se pode revisar os relatórios disponíveis publicamente, incluindo postagens de parentes nas redes sociais, relatórios na mídia local e declarações das autoridades locais.
O padrão para mortes confirmadas é rigoroso – requer uma publicação oficial ou postagem em mídia social de um parente com os detalhes correspondentes, fotos ou datas de sepultamentos de grupos de mensagens locais, ou fotos de cemitérios e até mesmo na redução e substituição de militares nas unidades militares locais em cada cidade e região.
Ademais, as baixas sofridas por unidades das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, ocupadas pela Rússia, são difíceis de verificar, mesmo com fotografias de corpos (junto com documentos) publicadas pela Ucrânia.
O número real de mortes é muito maior.
Em apenas 12 dias, de 24 de março a 6 de abril, um número recorde de mortos foi registrado em cerca de 1.600 mortos russos! É quase o dobro do número de mortos em um ano na guerra do Afeganistão.
Nesse mesmo período, 9 oficiais russos morreram.
Uma tática explorada desde a época de Stálin é utilizar prisioneiros como “bucha de canhão “. Essa tática torna muitos soldados russos dispensáveis e servem para cansar os soldados ucranianos para que em seguida entrem os soldados especializados e forças especiais.
Só na atual batalha por Bakhmut, já sendo comparada a Batalha de Stalingado na Segunda Guerra Mundial, ou a batalha de Verdun na Primeira Guerra Mundial, já morreram 1.100 mercenários da milícia de Wagner, quase todos ex presidiários. Em março de 2023, os presidiários se tornaram a maior categoria na contagem de vítimas de guerra.
O total de oficiais mortos com registro chega a 2.200, sendo 220 deles no posto de tenente coronel ou superior, como oficiais generais, por exemplo. Todos eles muito bem documentados com posto, idade, unidade, força, função, etc.
Aos 63 anos de idade, o major-general aposentado Kanamat Botashev, foi morto no final de maio de 2022; o ex-piloto de caça provavelmente se ofereceu voluntariamente para voltar às Forças Armadas.
134 pilotos militares são conhecidos por terem sido mortos. A perda de pilotos é particularmente dolorosa para o exército: leva de 7 a 8 anos para treinar um piloto de linha de frente de primeira classe e custa cerca de US$ 3,4 milhões . A perda de cada piloto também significa a perda de equipamentos caros.
A data das mortes é fornecida em mais de 14.300 relatórios. O número de vítimas por dia de acordo com esses dados é um reflexo pobre da imagem real, mas sugere quais dias foram os combates mais intensos.
Nos gráficos publicados pela Mediazona se vê por exemplo que no início da guerra, na tentativa desastrada de cercar e ocupar Kiev em fins de fevereiro, só nesse momento, morreram cerca de 1.500 russos. Foi o momento da guerra onde morreram mais russos.
Durante todo o conflito, os homens de 18 a 47 anos de idade são as maiores vítimas. Há homens com idade entre 48 e 68 anos de idadeque morreram também em combate.
Junte-se a esses números, até tímidos, o relatório vazado do oficial Jack Teixeira, onde a Guerra da Ucrânia teria tido já mais de trezentos mil mortos e feridos russos e ucranianos.
Seriam cerca de 180 mil russos e 140 mil ucranianos entre mortos e feridos, possivelmente, segundo o documento, cerca de 40 mil mortos russos e mais de trinta mil ucranianos. Esses números são médias estimadas.
Autoridades russas e ucranianas divulgam oficialmente números muito abaixo da realidade por razões óbvias. Ninguém quer mostrar fraqueza.
Dados mostram que o FSB, serviço de inteligência russo, teria acusado o Ministério da Defesa da Rússia de “ocultar perdas russas na Ucrânia“. O FSB afirma que as baixas são da ordem 110 mil russos, segundo apurado pela Revista Sociedade Militar.
Em fevereiro passado, o chefe do Estado-maior da Noruega afirmou em uma entrevista que a Rússia teria tido 180 mil baixas militares e a Ucrânia 100 mil desde o início da guerra e que 30 mil civis teriam morrido, mas não informou a origem de sua fonte.
Muitas dessas informações se baseiam em espionagens, observações aéreas por satélite e todo tipo de informações de inteligência feitas também por agentes da OTAN.
Funcionários do alto escalão do governo norte americano informaram ao The New York Times que o número de vítimas russas está na casa dos 200 mil.
Vejam como esses números são bem acima dos divulgados pela Mediazona que tem um método de curto alcance de informações, mas garimpa o que está ao seu alcance e são informes plenamente verificáveis.
Se de fato nos prendermos somente a essa fonte, tímida, mas confiável, quase 20 mil russos mortos em um ano de guerra, só aí já é um número 20 vezes superior ao número de mortos por um ano no terrível conflito do Afeganistão.
A Ucrânia de fato se tornou um pesadelo para a barbárie russa, que destrói cidades e civis indiscriminadamente quando não pode medir forças no campo de batalha com o inimigo.